sexta-feira, 25 de julho de 2025

Globalismo branco e globalismo vermelho: reformulações no discurso neocomunista após debate Dugin vs Olavo

 



Embora o duelo de cartas realizado por volta de 2011 componha mais de duzentas páginas, existem alguns pontos gerais que podem ser sintetizados, dentre os quais a especificação por parte de Carvalho sobre quais são os agentes históricos, os esquemas de poder e os blocos que os representam na atualidade do século XXI.

Em primeiro lugar, discute-se sobre quem tem capacidade para executar a ação histórica. É delineado um rol, no qual constam: as Grandes religiões universais, Iniciações esotéricas – grupos esotéricos; Dinastias; Movimentos ideológicos e partidos; e Agentes espirituais (Deus, anjos e demônios).

Numa segunda etapa, o estudioso passa a analisar sob quais fundamentos essas forças atuam. Podem ser amparar numa base de poder econômico, político-militar ou ideológico-espiritual.

Por fim, nesta etapa em que nos encontramos, quais são os blocos existentes e suas respectivas bases? São identificados três, sendo possível destacar em primeiro momento a esfera de influência dos metacapitalistas (aqueles que controlam a rede financeira ocidental e o complexo de ONGs e burocratas comprados); outra composta pelo bloco que envolve Rússia, China e seus puxadinhos (como os BRICS e países de mesmo espírito revolucionário, explícita ou implicitamente comunista); e, por último, a atuação da irmandade muçulmana (países e movimentos comprometidos em espalhar a influência islâmica, seja por meios legais ou ilícitos, pacíficos ou violentos).

Os analistas geopolíticos da mídia mainstream costumam recorrer à imagem de Estados ou governos para descrever ações no tabuleiro global. São sempre expressões como "O governo faz isso", "o governo faz aquilo"; "os Estados Unidos agiram assim", "os Estados Unidos agiram assado". A ideia do governo como uma entidade abstrata, que age por si mesma e até se comporta de maneira uniforme perante os demais governos, é uma constante, é como se as nações estivessem realmente zelando por seus próprios interesses, ainda que as camarilhas governamentais não tenham qualquer compromisso com o patriotismo de seus povos. Colocada a questão nesses termos, é como se tais governos agissem de modo independente da psicologia dos núcleos políticos que dominam a máquina estatal, aquele conjunto de pessoas de carne e osso, com ideologias e modos de agir próprios.

Isso não quer dizer, necessariamente, que é errado se referir aos Estados, eu mesmo me referirei à China, à Rússia e ao Brasil, o que precisa ser levado em conta é que, por trás da menção a tais entidades, sabe-se que há grupos específicos que executam as ações desejadas e direcionam a atividade governamental. Feita essa consideração, o uso metonímico fica preservado.

Ocorre que, ao menos no debate travado em 2011, Dugin fundia o interesse das elites financeiras com o do País denominado Estados Unidos da América. Para ele, o predomínio dessas elites no cenário geopolítico seria também a hegemonia norte-americana em todo o globo.

No debate, Dugin encara o capitalismo norte-americano como extensão da ação dos Estados Unidos sobre o mundo, as intervenções dos capitalistas sobre as outras nações são consideradas como medidas tomadas com vistas a resguardar o interesse dos EUA, não é feita a devida separação entre o plano próprio dessa oligarquia e a atuação dos EUA enquanto estado-nação. Quem levanta esse ponto é Olavo, que diz que essa oligarquia, que ele se refere como Syndicate (ou Corporation), pegando de empréstimo a expressão de Nicholas Hagger, atua mesmo contra o seu próprio País para fazer prevalecer a sua agenda internacional.

Sobre o globalismo, Olavo de Carvalho assevera que “Os EUA não são o centro de comando do projeto globalista, mas, ao contrário, sua vítima prioritária, marcada para morrer[1].

Quem observar os acontecimentos pós-2020, com Joe Biden atuando para enfraquecer o próprio País, pode ter certeza de quão acertada é essa afirmação. Desde a retirada do Afeganistão, deixando para trás equipamentos militares de tecnologia desconhecida pelos inimigos que, após isso, tiveram oportunidade de estudá-los e submetê-los a engenharia reversa, até as tratativas entre Estados Unidos e Rússia antes da invasão na Ucrânia, em que Biden, transgredindo a confiança nele depositada pelos outros países da OTAN, alimentou em Vladimir Putin a confiança de que poderia invadir certas regiões do leste ucraniano como Donetsk e Lugansk sem uma firme intervenção das potências euroamericanas. Poderíamos ainda citar o esgotamento das reservas nacionais de combustível dos EUA e a sabotagem diplomática feita nos países árabes, com Joe Biden criando incidentes com a Arábia Saudita e Israel.

Prossegue Carvalho, dissertando que “A elite globalista não é inimiga da Rússia, da China ou dos países islâmicos virtualmente associados ao projeto eurasiano, mas, ao contrário, sua colaboradora e cúmplice no empenho de destruir a soberania, o poderio político-militar e a economia dos EUA”. “Longe de favorecer o capitalismo de livre-empresa, o projeto globalista tem dado mão forte a políticas estatistas e controladoras por toda a parte, não diferindo, nisso, do intervencionismo propugnado pelos eurasianos. O globalismo só é ‘liberal’ no sentido local que o termo tem nos EUA como sinônimo de ‘esquerdista’. O projeto globalista é herdeiro direto e continuador do socialismo Fabiano, tradicional aliado dos comunistas. A própria ideologia popperiana não é liberal-capitalista, no sentido do liberalismo clássico, mas, antes de tudo, ‘uma abordagem experimental da engenharia social[2].

Nos Estados Unidos, há um esforço conjugado para solapar a tradição constitucional e o desígnio que os Pais Fundadores tinham para o projeto nacional, os globalistas travam guerra contra essas duas coisas. Portanto, existe uma subdivisão dentro do território norte-americano entre uma corrente patriótica e outra comprometida com o esquema global, firmemente antiamericana.

Confrontado com tais afirmações, Dugin negava peremptoriamente essa diferenciação, com perplexidade ele chega mesmo a se questionar o que isso poderia significar. Nas palavras dele, “a globalização do mundo e a instalação em todos os cantos do controle americano, incluindo a intrusão direta em países nominalmente soberanos, a promoção do modo americano de vida e a uniformização das diferentes sociedades humanas, realizada pelos EUA, é considerada pelo professor como nada, sendo ignorada e esquecida. (...) Os EUA são uma praga absoluta para a humanidade. E a elite globalista é a quintessência dos EUA; ela domina os EUA e através dele o resto do mundo” (P. 69).

Essa foi sua posição na época. Contudo, recalculando seu discurso de ideólogo e estrategista geopolítico de acordo com novas necessidades, Dugin passou a concordar, ainda que implicitamente, com Olavo de Carvalho quanto à existência de um espírito nacional norte-americano distinto e em constante tensão com o projeto político capitaneado pelo estamento liberal-globalista.

Isso lhe abriu uma brecha para que formulasse uma nova interpretação geopolítica, levando em consideração essa revolta interna e aproveitando essa energia de maneira a aproximar o público de direita dos interesses russos. Ele se valeu de uma fórmula interpretativa segundo a qual um dos projetos globais é afirmado, ao passo que os demais são negados ou ofuscados, uma reciclagem do próprio discurso com base nos três esquemas fornecidos por seu interlocutor.

O que Aleksandr Dugin faz, a partir dessas observações, é passar a aceitar essa diferenciação entre patriotas norte-americanos (ou estadunidenses, se você considerar essa palavra agradável) e os denominados globalistas, que dominam suas instituições dos Estados Unidos. Ele percebeu essa cisão no cenário americano e começou a explorá-la, enfatizando um conflito interno entre essas duas forças, a ponto de chegar a clamar por uma nova guerra civil americana. É claro então que perceber a diferença entre interesses nacionais dos Estados Unidos, de um lado, e metacapitalistas, de outro, rendeu uma nova cartada para estratégia política de Dugin, o qual se viu na posição de manipular o movimento direitista, no sentido que este se direcionasse prioritariamente contra o esquema global metacapitalista e, por tabela, ao lado dos comunistas do esquema global russo-chinês.

Em termos marxistas, trata-se de explorar as contradições internas de um país, recomendação exarada pelo próprio Foro de São Paulo em sua estratégia contra os Estados Unidos da América.

Em linhas gerais, o estrategista russo dos neocomunistas aprendeu a trabalhar com a imagem que as dinastias financeiras e seus aliados (Rockefeller, Rothschild, Clube Bilderberg, George Soros, Partido Democrata etc.) passaram a ocupar na psicologia das massas politizadas. A partir disso, procurou canalizar o sentimento de oposição ao globalismo para um novo foco de resistência. Essa nova resistência se apresenta com feições aparentemente nacionalistas e soberanistas, antiglobalistas, mas preserva uma natureza progressista, pois, afinal de contas, o duginismo é também antinacionalismo[3].

A estratégia comunista aplicada contra a direita tem sido justamente a de fomentar a sensação de que a ameaça vermelha desapareceu, transferindo o foco das atenções para o globalismo das elites financeiras euro-americanas. Com isso, os regimes socialistas passam a ser retratados como forças insurgentes de defesa das soberanias nacionais e as fachadas nacionalistas do socialismo internacional passam a ser interpretadas como nacionalismos autênticos, compondo um eixo antiamericano, contrário à denominada “ordem unipolar” e promotor de uma “nova ordem multipolar”.

A multipolaridade se transforma numa palavra-chave para designar o conceito de democracia entre as nações. Não obstante, o mundo multipolar proposto é tão democrático quanto os regimes socialistas que se autodenominam democráticos. A palavra já nasce corrompida, como é próprio das tradições revolucionárias.

O método atua em duas chaves: por um lado, a ocultação e reconfiguração do comunismo; por outro, o enfoque exclusivo no metacapitalismo como ameaça às nações. É conveniente para os neocomunistas enfatizar o papel dos metacapitalistas, porque isso constitui um reforço disfarçado ao discurso leninista. Nessa moldura interpretativa, o mundo estaria dominado por uma oligarquia de banqueiros e magnatas, o que, para os marxistas, confirmaria a tendência monopolista do capitalismo e o agravamento inevitável da luta de classes. A alta concentração de capital levaria o conflito ao seu ápice, tornando possível tomar de assalto os centros de poder burguês e instaurar uma nova ordem econômica pós-capitalista.

A reação ao globalismo, nesse sentido, seria uma forma de anticapitalismo. O combate ao liberalismo é apresentado como a resistência espiritual e tradicional contra o monetarismo, servo de Mammon. Muitos aderem ao discurso comunista por vias indiretas, porque a rede de propaganda lhe confere um aspecto proteiforme, pois consegue se adaptar às convicções do público alvo.

Quanto às graves distorções, consistentes em atribuir aos grupos orientais o papel de guardiões da tradição e da pureza antiliberal, Olavo de Carvalho, tanto no debate quanto em artigos de seus alunos, oferece respostas esclarecedoras. Um olhar mais acurado revelará que, por trás do apelo místico eurasiano, há uma tradição esotérica anticristã que, em última instância, busca restaurar práticas pagãs entre os povos contemporâneos, exatamente o que os próprios globalistas promovem, por também serem antiocidentais.

O verdadeiro conflito, portanto, não se dá entre Oriente e Ocidente, mas entre duas forças igualmente empenhadas em destruir os fundamentos da cultura ocidental. Não se pode ignorar, aliás, que Aleksandr Dugin endossa a ideologia de gênero, um dos suprassumos da pseudociência moderna. De fato, ele afirma que “gênero é uma construção social” e que, quanto aos sexos, “as pessoas podem escolher”.

O uso da palavra “Ocidente” como um todo unificado, similar a uma entidade, reflete uma simplificação propagandística que ignora as particularidades de cada uma das nações, que passam a ser jogadas nesse termo totalizante, transformado em alvo. Se logo no início a simplificação em torno dos Estados foi objeto de crítica, com maior razão deve ser criticado o termo que pretende enquadrar como agente um hemisfério inteiro, as convicções dos neocomunistas eurasianos partem de um fundo esotérico segundo o qual conceitos geopolíticos incorporam-se em vocações continentais. Povos vocacionados ao mar, atlantistas (como as talassocracias da antiguidade), e outros vocacionados a ao domínio de grandes massas territoriais.

Portugal insere-se na tradição marítima e, por tabela, estaríamos condenados ao bloco “atlantista”, na linha do que declama o poeta (Mar Português - Fernando Pessoa):


“Ó mar salgado, quanto do teu sal 

São lágrimas de Portugal! 

Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 

Quantos filhos em vão rezaram! 

Quantas noivas ficaram por casar 

Para que fosses nosso, ó mar! 


Valeu a pena? Tudo vale a pena 

Se a alma não é pequena. 

Quem quer passar além do Bojador 

Tem que passar além da dor. 

Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 

Mas nele é que espelhou o céu”.

A hostilidade de Dugin é contra o Ocidente como um todo e, portanto, é também anti-Brasil, porque o nosso País encontra-se inserido nesse bloco ocidental, ele atacará justamente as bases europeias que formaram a nação. Quando nos deparamos com a palavra Ocidente, devemos compreender que, na verdade, refere-se ao conjunto de nações nele existentes. Os neocomunistas estão contra o Ocidente, leia-se: os neocomunistas estão contra todas as nações que extraem o seu DNA da cultura ocidental. Os comunistas procuram articular as partes contra o todo.

Esse impulso destrutivo contra as nações que dificultam o avanço russo-chinês encontra adeptos em movimentos fomentados pelo próprio ideólogo. Embora se apresentem com uma estética e linguagem nacionalistas, esses movimentos acabam por se trair, revelando sua real natureza revolucionária de viés internacionalista. O eurasianismo é, estruturalmente, um socialismo internacional, porém reformulado para ludibriar os patriotas dos países onde tenta se infiltrar.

Por isso mesmo, uma constante nesses movimentos pseudonacionalistas é a proximidade com os regimes da Rússia e da China, por vezes, até literal: há pessoas que visitaram a Rússia, receberam treinamento ou instrução de porta-vozes da ideologia eurasiana,uma espécie de neobolchevismo repaginado, a fim de replicar seus ensinamentos em seus países de origem, exatamente como a União Soviética fazia com seus cursos de formação de quadros e lideranças, a exemplo do que ocorria com a Universidade Patrice Lumumba, também chamada de “Universidade Russa da Amizade dos Povos”.

Sobre o nacionalismo, o professor Aleksandr não tem palavras simpáticas, ao contrário, ele diz que “o nacionalismo - é um produto da modernidade. Exatamente como o resto da teoria política da modernidade - liberalismo e comunismo. Baseia-se na negação do espírito da Idade Média e na recusa das tradições do Império e de Cristo. É burguês nas suas raízes e na sua essência. Pode ser um pouco melhor do que o liberalismo e o comunismo (que destroem explicitamente a identidade do povo e da religião), mas o nacionalismo está infectado com o mesmo veneno - secularismo, racionalismo, ateísmo. É outra versão de Westoxication (Occidentosis) --Gharbzadegi da pessoa filósofo Heideggeriano Ahmad Fardid chamou-a”. (...) “Portanto, o colapso dos Liberais, temos de o utilizar para fins próprios e não devemos cair na armadilha do nacionalismo. Ouçam o lixo comunista não adianta nada. Por isso, é necessário focar-se na Quarta Teoria Política”[4].

A elite da quarta teoria política não pode ser nacionalista, mas imperial. “Esta elite da Quarta Via irá colidir com demagogos e "líderes" histéricos que uma onda de novo nacionalismo inevitavelmente trará para a frente como a espuma na superfície do mar fermentado. E a batalha começa agora. Seria melhor que o monstro neonacionalista fosse estrangulado no berço. Mas vai aparecer[5].

As manifestações de Dugin frequentemente são convocações de militância contra o liberalismo e contra alvos metacapitalistas, que ele denomina de globalistas. A tônica de suas palavras revela que, entrelaçados à estrutura ideológica, encontram-se slogans de guerra e manifestos que conclamam aquilo que ele chama de Ocidente a travar uma cruzada contra si próprio, seus ouvintes e leitores devem cerrar os próprios galhos que os amparam.

Seus minions seguem esse padrão: denominam-se antiglobalistas sem revelar aos demais que estão, eles próprios, comprometidos com um projeto global. Grupos como a Nova Resistência, uma organização socialista internacional com fachada nacionalista, representam uma amostra do que os eurasianos já disseminaram em outras nações, especialmente na direita europeia.

Cumpre-se aqui um propósito específico e nada inocente: a substituição de expressões e a reformulação do conceito de globalismo serve como o melhor estratagema para reduzir a percepção da ameaça representada pela nomenklatura russa pós-soviética e pelo Partido Comunista Chinês, em contraste com o Golias metacapitalista, identificado como o leviatã das nações. É por isso que o ideólogo afirma que uma vitória da Rússia seria uma vitória para o mundo inteiro, porque os inimigos seriam os mesmos.

O discurso inteiro é construído para atrair simpatias ao bloco russo-chinês, apresentado como alternativa ao mundo ameaçado pelo movimento globalista, como se os comunistas não tivessem assassinado em escala industrial ou esmagado a autodeterminação dos povos, que eles alegam defender.

Este é o jogo de dissimulação que se encontra em curso.

O fato de que todas as conspirações são explicadas como frutos de ações da CIA ou de capitalistas ocidentais é sintomático. O imaginário norte-americano foi moldado para conceber um país sequestrado, o que levou o público a ver com simpatia figuras que se apresentam como libertadores antiglobalistas, como Vladimir Putin e Xi Jinping. Essa é a tônica de comunicadores influentes, papagaios da KGB, como Alex Jones e Tucker Carlson.

Ganha corpo, também, a ideia de que esse estado de coisas pode ser desafiado por correntes políticas criminalizadas ao longo de décadas pelo estamento, o que leva à romantização de ídolos que, embora se apresentem como nacionalistas, são também socialistas. Como ensinava o preceito bolchevique, o surgimento do comunismo implica também o surgimento dos anticomunismos e Vladimir Lênin orientava que fossem os próprios comunistas a criar o anticomunismo. Vários dos nacionalismos tidos como radicais até mesmo pelos esquerdistas de hoje apresentam essa constante: são nacionalistas na forma, porém socialistas no conteúdo.

Fato é que esses radicalismos vêm acompanhados de uma aura subversiva. As acusações de nacional-socialismo fabricadas pela mídia são imediatamente seguidas da assunção dessa identidade por alguns grupos, na expectativa de que, assim fazendo, se estaria combatendo o modelo socialista de subversão promovido pela agenda woke, de raízes frankfurtianas e promotora do método da crítica radical da sociedade.

Ou seja, buscando enfrentar os focos corrosivos da sociedade, adota-se uma postura identitária, de fundo pagão, com culto ao homem greco-romano da Antiguidade. Resgata-se uma “tradição” que ninguém sabe exatamente o que é, mas que todos imaginam remeter a um ideal de sociedade estruturada, expurgada dos defeitos da era moderna. Chega-se até mesmo a enxertar um cristianismo primitivo, que pouco tem de cristão, ao lado da idealização pagã promovida pelo movimento völkisch, inspirador do nacional-socialismo.

A oposição ao que o ideólogo denomina liberalismo faz desaparecer o anticomunismo. Ele reconfigura os alvos dos movimentos conservadores da América e da Europa: nenhum deles será mais anticomunista. Estarão, antes, dispostos a se aliar ao fascismo, ao nacional-socialismo e ao próprio comunismo como meios para se livrarem da hegemonia liberal denunciada pela narrativa eurasiana. Basta lembrar como certos direitistas passaram a olhar o Partido da Causa Operária com bons olhos, quando este se apresentou com a roupagem da velha esquerda, contrária às ideologias de gênero e à subversão dos papéis sexuais.

Já no início do século XX, Felix Dzerzhinsky (chefe da Cheka) dizia que seus métodos de espionagem e infiltração iriam fazer feder o Ocidente. Essa façanha logrou provocar, nas populações sabotadas, mesmo sem serem comunistas, uma complacência com relação ao controle por facções socialistas, desde que estas as livrassem dos incômodos gerados pelas próprias ferramentas de subversão. Os delírios pós-modernos às vezes parecem ter sido colocados justamente para que fossem combatidos por movimentos de natureza igualmente revolucionária.

O estamento global se utiliza do bicho-papão nacional-socialista como pretexto para estigmatizar os nacionalismos, mesmo aqueles sem fundo racial. Desde o pós-guerra, houve crescente campanha que popularizou o ódio ao nacional-socialismo, ainda que as pessoas, embora conheçam seus atos, pouco saibam de suas raízes profundas. Também merece destaque a atitude malandra de, em vez de se falar "nacional-socialismo", utilizar-se da abreviatura “nazismo”, que oculta o componente socialista da expressão.

A defesa do nacional-socialismo em meios que se identificam como direitistas é algo problemático, pois existem elementos nessa ideologia que sempre farão pender essa massa para os regimes socialistas de discurso trocado. Nos momentos em que forem instados a apoiar um lado, estarão ao lado da Rússia e da China, que aqui simplifico pela expressão “neocomunista”, devido ao fator essencial de preservação da estrutura comunista ao longo das décadas, qualquer que seja o discurso em voga. No final das contas, os apologistas das correntes fascistas e nacional-socialistas terminam por servir de base de apoio ao próprio comunismo e à revolução. Não esperem que sejam verdadeiramente direitistas ou conservadores, pois quando eles brigam com os comunistas, na verdade estão brigando em família.

Esse ponto poderia ser aprofundado em outra oportunidade. O que se pretende aqui é apenas deixar claro que houve uma campanha de combate aos nacionalismos por meio do manuseio do espantalho nazista. Assim, esse manancial de filmes, seriados, livros e artigos formou uma cultura pop antinazista, tão rasa quanto vasta. Os efeitos disso são dois: tornou-se difícil para o homem comum identificar a verdadeira natureza do nacional-socialismo, mas as massas não ficaram privadas de usar o termo como etiqueta contra adversários políticos e acadêmicos.

O ódio ao nacional-socialismo tornou-se parte do politicamente correto. Isso será aproveitado pelos neofascismos para questionar os conservadores se o ódio ao comunismo também não poderia ser encarado como apenas mais uma forma de politicamente correto (como o próprio Dugin indaga). As mesmas tentativas revisionistas aplicadas a um deveriam então ser aplicadas ao outro. Assim como a figura de Adolf Hitler pode ser revisitada, buscando-se sanear defeitos e desmistificar as versões dos vencedores, esse mesmo método também poderia ser aplicado a Vladimir Lênin, Joseph Stálin e seus sucessores. O revisionismo de um pode despertar o revisionismo dos outros e, sob o rótulo de revisionismo, muitas vezes se esconde a falsificação pura e simples.

As pessoas passam a perceber essa atividade como uma forma nobre de romper os paradigmas impostos pela Nova Ordem Mundial inaugurada em 1945, com a fundação da ONU e o início da Guerra Fria. Após tanta imprecação por parte dos meios de comunicação e do meio acadêmico, a defesa dessas vertentes ideológicas passa a ser identificada como uma forma de combate ao politicamente correto. A transgressão do politicamente correto, que condena o fascismo e o nacional-socialismo, fornece a mesma base para a repaginação das percepções sobre o comunismo.

Vejam o mundo dominado por metacapitalistas exploradores dos povos: um convite para a sugestão de que “talvez Marx, Lenin e Stálin não estivessem tão errados assim.” As revoluções comunistas, afinal, o que teriam sido senão produtos dos próprios capitalistas? Sim, o fio do novelo tem origem no capital, o comunismo teria sido apenas uma “ferramenta” de uma elite que é, esta sim, o verdadeiro mal do mundo. Alguns chegam mesmo a identificar essa elite como uma conspiração judaica. O casamento entre anticapitalismo e antissemitismo une aquilo que, sem as lentes corretivas, parecia estar separado. Os neofascismos e o comunismo orientam-se no mesmo sentido quando se trata de política internacional, com a diferença de que os neofascismos estão na condição de instrumentos para a consecução dos objetivos dos “vermelhos”.

Para a esquerda, apresenta-se o discurso comunista clássico. Para a direita, o discurso comunista vem na forma do paradoxal nacionalismo de esquerda, o antiamericanismo terceiro-mundista que encontrou forma de expressão nos BRICS, no apoio a Cuba e Venezuela.

Armas da nova propaganda que vêm se tornando cada vez mais comuns:

1)    O comunismo não existe mais ou o comunismo nunca existiu;

2)    O Foro de São Paulo perdeu o protagonismo na região e foi absorvido pelos globalistas ocidentais;

3)    As ações de domínio global são capitaneadas pelos Estados Unidos e suas elites capitalistas. A CIA tudo vê, a CIA tudo faz, etc...;

4)    As nações que entram em choque com esse capital monopolista são forças heroicas da soberania, uma vitória delas é a vitória de todo o mundo que anseia por uma distribuição democrática de poder entre os povos.

 

Por isso, alguns acontecimentos da história têm sido explicados como originados pela CIA, quando elementos comprometedores envolvendo os soviéticos estão plenamente acessíveis e documentados por dissidentes da KGB. Por exemplo, o assassinato de John Kennedy é abordado no livro de Ion Mihai Pacepa, onde o leitor encontrará um roteiro detalhado sobre o envolvimento de Lee Harvey Oswald com contatos comunistas. A desinformação oferecida ao público norte-americano tenta levá-lo a teorias falsas, segundo as quais os próprios órgãos de inteligência, em conluio com a elite capitalista, teriam assassinado o presidente Kennedy. Esse padrão se repete: os desinformantes fabricam teorias para que os próprios norte-americanos fiquem girando em círculos, procurando culpados em conspirações internas (inside jobs), enquanto a rede de espionagem estrangeira passa despercebida em meio a essas histerias provocadas.

Voltando ao ideólogo: já em 2016, Aleksandr Dugin passou a manobrar com o termo globalismo e com a candidatura outsider representada por Donald Trump, que se apresentou com bandeiras tipicamente conservadoras, desafiando o conglomerado que se apoderara da Presidência dos EUA.

Naquela oportunidade, Dugin escreveu uma espécie de manifesto “contra o pântano”:

 

Preste atenção ao slogan da campanha da empresa Trump -- "Drain the Swamp" - "Drain the Swamp". Pântano, Pântano não é apenas uma metáfora. Agora que Trump vence, este é o conceito mais importante. O que o pântano quer dizer com Donald Trump? Para ele e para os seus apoiantes, o Pântano é o globalismo, o liberalismo, o domínio corporativo transnacional, a política externa agressiva - em resumo, tudo aquilo que normalmente chamamos de "hegemonia. " O fato de que o globalismo e a hegemonia se tornaram o principal vetor da política americana na segunda metade do século XX (embora pretendendo ser através da era Woodrow Wilson do início do século XX), tornou-se algo tão evidente que simplesmente equiparamos a América ao globalismo. Nós dissemos "América, EUA" e queríamos dizer "globalismo, hegemonia. " Nós dissemos "globalismo, hegemonia" e queríamos dizer "América. " E nós estávamos certos. E cada globalista era um agente de influência dos Estados Unidos e do Departamento de Estado, e cada agente de influência dos Estados Unidos e do Departamento de Estado era um globalista.

Mas agora o 45o Presidente dos Estados Unidos estava do lado oposto do globalismo e da hegemonia, chamando este fenômeno, esta tendência, esta ideologia de "O Pântano". Ao fazê-lo, ele deu um golpe esmagador no centro da hegemonia, até ao seu núcleo. Ele realizou uma ação conceitual fundamental - um gesto de paradigma, ele separou o pântano da América e até se opôs a eles. Portanto, o pântano, que deve ser drenado, tornou-se instantaneamente extraterritorial. O mesmo fenômeno não espacial que o terrorismo internacional. O Pântano é uma rede global de corrupção, liberalismo, ideologia sectária dos LGBT, sociedade civil e direitos humanos. Esta é a onipotência das corporações transnacionais e da autoproclamada "elite mundial" não eleita - especuladores, maníacos, pervertidos e outras minorias.

Então os EUA contra o pântano. A América é contra o globalismo. Isto significa que o pântano está por conta própria agora. E isso torna-o vulnerável. Todo país tem seu próprio pântano. E todos os países têm de drená-lo agora. Entretanto, a América - a América de Trump - está do nosso lado desta vez. Estão a drenar o seu pântano, os russos são deles, os europeus são deles. Todo país tem um povo e um pântano. E entre eles começa a última e decisiva batalha. O pântano pertence às elites e separatistas. Mas apesar de toda a sua minoria, apostam na juventude, que procuram transformar na sua espinha dorsal, na sua quinta coluna - através de engenhocas técnicas, educação, redes. Além disso, o Pântano controla o sistema financeiro mundial moderno. Quero dizer, ainda é um poder enorme. Mas já não tão grandioso e consolidado como antes da vitória de Trump. A vitória de Trump é o início da luta de libertação da América contra o pântano. E isto é um sinal para a revolução anti-Pântano em todos os países.

Olha que coincidência surpreendente: a revolta das multidões globalistas russofóbicas no Pântano em Moscou e o programa de drenagem do Pântano na própria América. E o mesmo Soros, que financiou e provocou a revolta contra o nosso Presidente e o seu percurso patriótico, que esteve por trás da Maidan e dos tumultos na praça Taksim organizados pelos gullenistas, para a tentativa de golpe na Turquia, está agora a sair da pele para derrubar os legalmente eleito presidente dos Estados Unidos. Anteriormente, hordas de ativistas dos direitos humanos estavam em fuga na Inglaterra, protestando contra a decisão democrática do Brexit.

Então estamos todos no mesmo barco agora - nações e governantes soberanos. E contra nós está o pântano. Holanda, Merkel, burocracia de Bruxelas, assim como liberais russos ou pró-ocidental sexta coluna - este é o pântano. Mas agora eles não estão apenas servindo os Estados Unidos. Agora eles só servem a sua ideia diabólica fanática. E eles já odeiam Trump tanto quanto Putin, Erdogan ou Orban.

E o principal pra nós agora é não perder tempo. Os globalistas já entenderam: agora têm um objetivo - esperar Trump. Drenar o Pântano é uma tarefa difícil, porque o Pântano vai resistir. E o principal cálculo do pântano é agora que não temos tempo suficiente. E eles, infelizmente, podem ter razão. Portanto, agora nós, apoiantes de Putin e Trump, inimigos do Pântano e Soros, precisamos agir rapidamente. Não temos tempo nenhum. A limpeza das redes e estruturas pântanos deve ser feita de forma radical e sem demora. Até agora Trump está conosco. O pântano espera sair do Trump. Nosso objetivo é ter um vale seco e fértil espalhado diante de nós depois de Trump, pronto para o cultivo de culturas saudáveis, espirituais, populares e tradicionais. E o pântano desapareceria para lugar nenhum. Para o abismo de onde veio.

Drenar o pântano é o mais russo possível slogans. Trump é a nossa oportunidade e vamos amaldiçoar-nos se não a aproveitarmos rapidamente[6].

 

Percebam como o ideólogo busca reforçar um erro e uma falsa imagem ao dizer o seguinte: Nós dissemos "América, EUA" e queríamos dizer "globalismo, hegemonia. " Nós dissemos "globalismo, hegemonia" e queríamos dizer "América. " E nós estávamos certos. E cada globalista era um agente de influência dos Estados Unidos e do Departamento de Estado, e cada agente de influência dos Estados Unidos e do Departamento de Estado era um globalista. Mas agora o 45º Presidente dos Estados Unidos estava do lado oposto do globalismo e da hegemonia, chamando este fenômeno, esta tendência, esta ideologia de "O Pântano".

É como se a distinção entre o patriotismo americano antiglobalista e o plano globalista em si só tivesse passado a existir com a eleição de Donald Trump, o que é evidentemente falso. O deep state constitui uma estrutura de poder paralela à política formal, que é engolida.

Como apontou Olavo, as forças reais estão na sociedade, sendo a política partidária a expressão última. Dugin afirma que o movimento antiestamento surgiu com a eleição de Trump, mas sabemos que ocorreu justamente o oposto. Primeiro, houve a formação de grupos nacionalistas e patrióticos interessados em debater e diagnosticar a situação, compondo uma massa de discussões robusta, que denunciava a ação de traidores e globalistas com agenda própria, hostil aos interesses dos Estados Unidos da América. Só após o surgimento dessa cultura nacional foi possível criar um ambiente favorável à insurgência de uma candidatura como a de Donald Trump, capaz de desafiar as forças dominantes naquele território. A cisão entre o pântano e o patriotismo sempre existiu, embora se mantivesse submersa à luta política pela tomada da máquina estatal.

Aquilo que Olavo descreve como a luta do povo contra o estamento burocrático, com base nas lições de Raymundo Faoro, também existiu e ainda existe nos Estados Unidos. A partir disso, Dugin passou a utilizar essa perspectiva analítica como forma de abrir um canal por meio do qual a direita norte-americana pudesse se identificar com a dissimulação conservadora do regime pós-soviético que, no entanto, conserva a mesma estrutura, estirpe e métodos de sempre. Era preciso colocar patriotas direitistas norte-americanos e stalinistas, comunistas e simpatizantes, todos eles do mesmo lado.

Já em 27 de fevereiro de 2022, comentando a guerra contra a Ucrânia, Dugin escreveu o seguinte em sua rede social:

 

Isto não é uma guerra com a Ucrânia. Este confronto com o globalismo como um fenômeno planetário inteiro. Confronto em todos os níveis - geopolítico e ideológico. A Rússia rejeita tudo sobre o globalismo - unipolaridade, Atlantismo, por um lado, e liberalismo, anti-tradição, tecnocracia, numa palavra, o Grande Reset. É claro que todos os líderes europeus fazem parte da elite liberal atlântica. E fomos para a guerra com ela. Daí a reação padrão deles. A Rússia está agora excluída das redes globalistas. Ela não tem mais escolha: construir o mundo dela ou desaparecer. A Rússia tomou o curso para construir o seu próprio mundo, a sua civilização. E agora o primeiro passo está sendo dado. Mas diante do globalismo, só um grande espaço, um estado continente, um estado civilizacional pode ser soberano. Nenhum país pode resistir a um encerramento completo por muito tempo. A Rússia está agora a criar um campo de resistência global. A vitória dela será a vitória de todas as forças alternativas - direita e esquerda e de todos os povos. Como sempre, começamos os processos mais difíceis e perigosos. Mas quando ganhamos, todo mundo aproveita. Era assim que se pretendia. Estamos agora a criar a premissa para a verdadeira multipolaridade. E aqueles que estão prontos para nos matar agora serão os primeiros a aproveitar o nosso feito amanhã. Quase sempre escrevo o que se torna realidade depois. E isto vai tornar-se realidade.[7]

 

Se a situação se desenvolverá conforme os desejos de Aleksandr Dugin, isso é algo que pode ser debatido. O que não se pode discutir, por ser evidente, é que Rússia e China não se opõem a uma nova ordem mundial, ao contrário, pretendem instaurar uma ordem global que lhes seja favorável, temperada pelo slogan da multipolaridade, substituto da antiga “solidariedade dos povos”, cujo símbolo era Stálin, outrora exaltado como um dos “grandes filhos da humanidade”, embora os verdadeiros patriotas saibam que tipo de grande filho Stálin era. Essa tendência globalista dos vermelhos tem sido observada nos eventos envolvendo os BRICS[8], conglomerado de países emergentes que promete fornecer apoio recíproco às ditaduras e uma rede econômica que diminua os efeitos das sanções a elas direcionadas.

Durante uma viagem para a Turquia em 2023, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, sustentou que as negociações de paz com a Ucrânia deveriam ser feitas sob os princípios de uma nova ordem mundial[9]. Em 2022, enquanto a guerra se desenvolvia no leste europeu, a China comunista manifestou o desejo de construir junto com a Rússia uma nova ordem mundial que tenha como vetores a justiça e a igualdade, atentando para o longo histórico de cooperação estratégica entre os dois países[10].

Dessa forma, é possível classificar esses dois esquemas mundiais em um globalismo branco (para designar as elites metacapitalistas, com o seu conglomerado de ONGs, políticos e governos inteiros cooptados) e outro denominado globalismo vermelho (de vertente marxista-leninista, maoísta, comprometido com os valores da revolução comunista internacional). Neste último é que se insere o eurasianismo, que embora tenha a pretensão de ser uma quarta teoria política, cumpre o papel de neocomunismo puro e simples.

Embora a finalidade de ambos os esquemas globais seja a mesma, eles possuem tradições e culturas distintas. No atual sistema de relações internacionais, o bloco russo-chinês sente-se em desvantagem e busca romper a hegemonia vigente apenas como meio de instaurar uma forma de mundialismo mais palatável aos seus interesses.

A dificuldade das discussões contemporâneas reside, basicamente, na incapacidade de visualizar os três projetos globais como simultâneos: na maioria das vezes concorrentes, em outras, colaboradores. Em geral, vê-se uma tendência a escolher um único esquema e negar os outros, como se o quadro completo fosse largo demais.

Por fim, os pontos atacados pelos comunistas recaem sobre dois pilares. O primeiro é a concepção de nação, patriotismo e identidade nacional. O segundo diz respeito à definição e compreensão do globalismo. Em suma, trata-se de saber quem somos,  reconhecer os patriotismos autênticos, e quem são os nossos inimigos, quantos são e de que modo se apresentam. Como ensinava Sun Tzu: “Conhece a ti mesmo e conhece o inimigo, e não precisarás temer o resultado de cem batalhas.” Com atenção e boa-fé, é possível reduzir a dissimulação eurasiana a pó, poupando confusões causadas pela babel ideológica que desorienta compatriotas e correntes genuinamente antiglobalistas.

 



[1] Os EUA e a Nova Ordem Mundial. P. 55.

[2] Idem.

[3]Nacionalismos são obstáculo à Nova Ordem Multipolar, diz Dugin. https://www.estudosnacionais.com/42825/nacionalismos-sao-obstaculo-a-nova-ordem-multipolar-diz-dugin

[5] Idem.

[7]https://www.facebook.com/alexandr.dugin/posts/pfbid0DcboHYUZHQjA2GvuoH7UYaRpGkucy65Yy9R7QtwjtupLpsLyr86ZCicsWgJc7LMql.  Em inglês: This is not a war with Ukraine. It is a confrontation with globalism as an integral planetary phenomenon. It is a confrontation on all levels - geopolitical and ideological. Russia rejects everything in globalism - unipolarity, Atlantism, on the one hand, and liberalism, anti-tradition, technocracy, Great Reset in one word, on the other. It is clear that all European leaders are part of the Atlanticist liberal elite. And we are at war with exactly that. Hence their legitimate reaction. Russia is now being excluded from the globalist networks. It no longer has a choice: either build its world or disappear. Russia has set a course to build its world, its civilization. And now the first step is being taken. But sovereign in the face of globalism can only be a large space, a continent-state, a civilization-state. No country can withstand complete disconnection for a long time.

Russia is now creating a field of global resistance. Its victory would be a victory for all alternative forces, both right-wing and left-wing, and for all peoples. We are, as always, starting the most difficult and dangerous processes.

 But when we win, everyone takes advantage of them. That is the way it is meant to be. We are now creating the preconditions for real multipolarity. And those who are ready to kill us now will be the first to take advantage of our feat tomorrow. I almost always write things that later come true. This will also come true.

[8] Lavrov fala na China de "nova ordem mundial multipolar e mais justa". https://pt.euronews.com/2022/03/31/lavrov-fala-na-china-de-nova-ordem-mundial-multipolar-e-mais-justa

[9] Conversas de paz devem considerar “nova ordem mundial”, diz Lavrov. https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/conversas-de-paz-devem-considerar-nova-ordem-mundial-diz-lavrov/

[10] China quer construir com a Rússia uma nova ordem mundial mais justa. https://revistaoeste.com/mundo/china-quer-construir-com-a-russia-uma-nova-ordem-mundial-mais-justa/

 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Internacionalistas procurando usar a cartada da soberania

 




“O socialismo petista articulará a construção nacional – que na maioria dos países da periferia do capitalismo ainda é um processo inconcluso - com uma perspectiva internacionalista”[1].

 

“Um compromisso internacionalista. Somos todos seres humanos, habitantes de um mesmo planeta, casa comum a que temos direito e de que todos devemos cuidar. O capitalismo é um modo de produção que atua em escala internacional e, portanto, o socialismo deve também propor alternativas mundiais de organização social. Apoiamos a autodeterminação dos povos e valorizamos a ação internacionalista, no combate a todas as formas de exploração e opressão. O internacionalismo democrático e socialista é nossa inspiração permanente”[2].

 

“Princípios da política de relações internacionais do PT O PT é um partido internacionalista, antiimperialista e socialista. Luta por democracia, soberania e igualdade. Luta por uma nova ordem internacional, pela paz mundial e pela integração continental. Busca construir, em escala internacional, um nova hegemonia, baseada no multilateralismo. Estas grandes diretrizes se traduzem nos seguintes “princípios” de nossa política de relações internacionais”[3].

 

Esses são apenas alguns itens constantes em documento contendo resoluções do terceiro congresso do Partido dos Trabalhadores, datado de 2007, mas que sublinham o caráter desse grupo político: o de ter vocação internacionalista.

Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi questionado por seu então ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, sobre os termos extremamente favoráveis ao Paraguai e prejudiciais ao Brasil no acordo relativo à usina de Itaipu, respondeu que não via qualquer problema, pois o Brasil deveria compensar o Paraguai em razão do ataque “imperialista” que o Brasil teria praticado contra aquele país, durante a guerra ocorrida entre 1864 e 1870[4].

Notícia de 05/08/2009:

 

“O presidente Lula usou boa parte do repertório de palavrões brasileiros para passar uma descompostura no ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. O sermão aconteceu pouco antes da assinatura do novo acordo entre Brasil e Paraguai sobre a hidrelétrica de Itaipu, no dia 25 de julho. A reprimenda de Lula valeu também para o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, presente no encontro. A irritação de Lula foi motivada pela resistência de Lobão e Gabrielli em assinar o acordo. -- Vai t..., Lobão! Não me venha com esse papo. Vocês querem que o Brasil repita com os países pobres o mesmo imperialismo dos Estados Unidos com toda a América do Sul. Vai t... Sem escutar os argumentos dos subalternos, Lula continuou a dizer o que pensava. -- O Brasil tem uma responsabilidade muito grande com os vizinhos, ainda mais com o Paraguai, teve a guerra. Vocês querem f... o Lugo (Fernando Lugo, presidente do Paraguai), mas não vão. -- E não adianta vocês fazerem estas continhas, estes numerozinhos. Vocês vao t... A reprimenda de Lula foi reproduzida ao colunista por uma pessoa que tomou conhecimento da conversa. As frases, certamente, não são literais. Os palavrões e o sentido das reclamações do presidente, com segurança, são verdadeiros e ditos em grande quantidade”.

 

Ainda durante seu governo, em 2006, Lula permitiu a nacionalização da refinaria da Petrobrás em território boliviano por Evo Morales, aliado político no âmbito do Foro de São Paulo, legitimando, assim, a expropriação de um ativo pertencente à estatal brasileira[5].

Já no atual período de mandato, surgiram denúncias recentes envolvendo a suposta entrega de urânio, pelo Brasil, à China comunista. Após a publicação das notícias sobre o caso, os principais portais de mídia realizaram retificações nas matérias, alegando que o mineral é de interesse estratégico para o Brasil e que sua exploração constitui monopólio da União. O fato é que a empresa chinesa China Nonferrous Trade (CNT)[6], subsidiária da  China Nonferrous Metal Mining Group[7], adquiriu a Mineração Taboca, uma empresa peruana que atua na exploração de minérios como estanho, nióbio, tântalo e outros minerais presentes em terras raras, nas proximidades de uma reserva de urânio. A compra da empresa peruana, que opera em solo brasileiro, foi realizada pela quantia de R$ 2 bilhões. As notícias foram retificadas em pouco tempo para explicitar que, embora exista de fato presença chinesa nesse ramo, os chineses não terão acesso à exploração desse recurso...  

A República Popular da China está envolvida em pesca ilegal e furto de água do rio amazonas[8], segundo o prefeito Carlos Gouvêa, do município de Soure: “Não discutimos isso diretamente com Lula, mas o governo sabe que isso está acontecendo”. Ele diz que até a Guiana Francesa “tem uma estrutura melhor para combater esse flagelo” e impedir que navios chineses cheguem perto de sua costa, “mas aqui na região de Marajó no Brasil, eles fazem, chegam muito perto das nossas costas com aquelas redes que arrastam os peixes” (...) “Uma curiosidade é que os grandes cargueiros que passam por aqui, uma das coisas ilegais que eles fazem é encher os barcos com água doce da Amazônia para levar para outras partes. Eles levam para o Oriente Médio, é mais barato tornar aquela água potável do que dessalinizar a água de lá”[9], finalizou.

Marcos Schotgues faz uma apanhado ao informar que: “Em 2019, ainda de acordo com o Sobesp, cerca de 7 toneladas de peixe provenientes de pesca ilegal foram apreendidos em uma operação conjunta da Marinha do Brasil e da França, entre a foz do rio Oiapoque, no Amapá, e águas territoriais da Guiana Francesa. Em 2017 o Equador apreendeu um navio mandarim que levava 300 toneladas de espécies ameaçadas de extinção pescadas ilegalmente na reserva marítima de Galápagos, a segunda maior do mundo e protegida como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Em 2016, a Armada Argentina chegou a abater uma embarcação chinesa que pescava ilegalmente em sua zona econômica exclusiva”[10].

As relações com os comunistas são sempre caracterizadas por traços predatórios e o furto de recursos naturais pelos comunistas não é objeto de denúncia pelos pseudonacionalistas, porque eles estão afinados com o mesmo projeto de construção de um bloco de poder antiamericano.

Luis Inácio confessa que sempre teve boas relações com o partido comunista da China, com o qual manteve contato antes mesmo de assumir a presidência. “É sempre uma alegria poder receber um país irmão, um país com que mantemos uma relação extraordinária não apenas do ponto de vista comercial, mas também do ponto de vista político (...) o meu partido é um partido que tem uma forte relação com o Partido Comunista Chinês. Eu próprio já fui à China, como dirigente partidário, antes de ser presidente da República[11], disse o petista, que também asseverou, noutra ocasião, que: “se depender do meu governo e se depender da minha disposição, Brasil e China serão parceiros incontornáveis, a nossa relação será indestrutiva (sic)”[12]

A comunicação real, nesse nível, ocorre entre partidos, não entre governos, pois os grupos comunistas trabalham em outra frequência. Se nas democracias existe o jogo partidário voltado para as eleições, os partidos revolucionários não podem ser encarados como partidos formais, preocupados com os ciclos de eleições e debates parlamentares com as bancadas separadas. Na verdade, eles enxergam o jogo no longo prazo e aceitam, apenas provisoriamente, as regras daquilo que denominam democracia burguesa. Quando já têm força suficiente, rompem essas estruturas e passam a agir definitivamente com a configuração que entendem ser adequada para um Estado socialista, de vocação revolucionária.

Luís Inácio também articulou para enviar recursos financeiros para a Argentina, quando Alberto Fernandez ocupava a presidência. Lula “utilizou a estrutura ministerial do governo para influenciar na decisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) de emprestar US$ 7,5 bilhões à Argentina”, que enfrentava uma grave crise financeira. Naquela ocasião, ele ainda “pressionou a ministra Simone Tebet, do Planejamento, a autorizar uma operação de US$ 1 bilhão do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) mesmo com o país vizinho sem crédito, e dar vantagem ao candidato do governo argentino na eleição presidencial deste ano, Sergio Massa, sobre o principal concorrente, o libertário Javier Milei[13].

Utilizando as instituições de Estado, o partido financia obras e concede empréstimos aos parceiros, seguindo os ditames da solidariedade internacional, eufemismo para o socialismo internacional que rege as relações dos respectivos agentes políticos vinculados ao Foro de São Paulo, como ocorreu em operações via BNDES, a exemplo do empréstimo ao regime dos Castro, que teve como garantia de pagamento charutos cubanos em contrapartida para um montante emprestado de R$3,6 bilhões. O governo brasileiro também assumiria o total risco da operação e entregaria a quantia diretamente para o banco estatal de Cuba, ao invés de depositá-la em outra instituição, seguindo as regras tradicionais de empréstimo nessas circunstâncias[14].

A utilização do Brasil como vaca leiteira é prática recorrente da política externa do Partido dos Trabalhadores.

Costurou-se também a operação “mais médicos” para abastecer os cofres de Cuba, o know-how desse mecanismo de sustentação da ilha dos Castro foi aplicado primeiro na Venezuela, diz Paulo Henrique Araújo que A primeira vez que os médicos cubanos foram explorados como ferramenta de sustentação do regime comunista foi em 1999 na Venezuela de Hugo Chávez, que assinou termo de compromisso com Fidel Castro que assumia o contingente de 12 mil médicos”(...) “Segundo o Tribunal de Contas da União, o Brasil pagou quase 7 bilhões de reais para a Cuba durante a existência do programa[15].

Os internacionalistas sempre fazem arranjos para favorecerem uns aos outros à custa dos recursos de seus países, porque a revolução é mundial.

O BNDES também financiou a obra do Porto de Mariel, um local estratégico no Caribe perfeito para o escoamento de produtos ilícitos, como parte de um empreendimento coordenado com o narcoestado cubano, aliás, o primeiro narcoestado da América Latina. Ora, trata-se de um Estado socialista envolvido há décadas nesse tipo de atividade, dedicado à exportação da revolução e à interferência nos assuntos internos de outras nações. Nesse contexto, ao incentivar alianças entre facções socialistas e o tráfico de drogas, que outra destinação se poderia esperar de uma obra como essa? Quem poderia imaginar, Cuba usou porto de Mariel para vender armas à Coreia do Norte: “Cuba utilizou o Porto de Mariel para abastecer com 240 toneladas de armamento um navio norte-coreano, em descumprimento a sanções internacionais contra o regime autoritário da Coreia do Norte. A operação, realizada há menos de um ano, fracassou porque a carga secreta foi descoberta por autoridades do Panamá, já no caminho de volta à Ásia[16].

Durante a operação montada pelos grupos interessados no contexto da COVID, quando tentaram pressionar o governo, uma das acusações era de que o governo brasileiro resistia às diretrizes da Organização Mundial da Saúde, pois, no entender das esquerdas e das quadrilhas oligárquicas, as diretrizes internacionais deveriam ser obedecidas de pronto, sem questionar.

O Partido dos Trabalhadores possibilitou a ascensão e permanência de Hugo Chavez no poder. Assim como Fidel Castro, Chavez, em sua etapa inicial, jogou a imagem da indefinição, aparentando um líder nacionalista latino-americano, mas com o tempo o jogo foi entregue e ele mostrou as cores definitivas de agente político vinculado às coordenações socialistas da hidra vermelha a que se refere Carlos Azambuja.

Em 2003, os comunistas criaram um grupo internacional chamado amigos da Venezuela, reunindo apoio dos regimes do continente para Hugo Chavez, que havia tentado dar um golpe de Estado. Vários setores da sociedade venezuelana mobilizavam-se contra Chavez naquele período.  

Luis Inácio confessou que: "Foi assim que nós, em janeiro de 2003, propusemos ao nosso companheiro, presidente Chávez, a criação do Grupo de Amigos para encontrar uma solução tranqüila que, graças a Deus, aconteceu na Venezuela. E só foi possível graças a uma ação política de companheiros. Não era uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente. Quem está lembrado, o Chávez participou de um dos foros que fizemos em Havana. E graças a essa relação foi possível construirmos, com muitas divergências políticas, a consolidação do que aconteceu na Venezuela, com o referendo que consagrou o Chávez como presidente da Venezuela."[17]

Antes mesmo de assumir a presidência, Luis Inácio solicitou a Fernando Henrique Cardoso que enviasse um petroleiro para a Venezuela, sabotando assim a greve dos funcionários da PDVSA, empresa petrolífera venezuelana, contra o regime[18].

 

FHC confirma pedido da Venezuela para garantir combustíveis

Rio Branco, 20/12/2002 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Fernando Henrique Cardoso confirmou há pouco que a Venezuela solicitou apoio do Brasil para garantir o abastecimento de combustíveis durante a crise instalada no país. Ele explicou, entretanto, que o pedido foi feito pela estatal venezuelana de petróleo (PDVSA) à Petrobras, o que configura uma situação entre empresas. Questionado sobre a atual crise instalada naquele país, onde manifestantes contrários ao governo de Hugo Chavez brigam com os partidários do presidente venezuelano, Fernando Henrique voltou a defender o respeito à legalidade e às instituições democráticas. Ele revelou que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, lhe pediu uma autorização para que um emissário da equipe de transição pudesse ir à Venezuela conversar com Chavez e ver de perto a situação. "E também para mostrar ao presidente Chavez, pelo qual tenho estima pessoal, que é preciso tomar cuidado. É melhor propor uma conciliação que evite o conflito. Nós não queremos ver um país irmão com estas dificuldades. Achamos que é preciso algum gesto que aproxime as duas facções", acrescentou. A crise na Venezuela já dura algumas semanas, agravada com a greve geral no País e os conflitos de rua entre manifestantes favoráveis e contra Chavez[19].

 

Fernando Henrique Cardoso também forneceu a quantia de R$ 2,1 bilhões para o Movimento dos Sem Terra (MST), instigando o conflito agrário e a mobilização de milícia partidária dos comunistas[20].

O Partido dos Trabalhadores permitiu acesso do regime socialista Venezuela à JBS, para que esta enviasse carne para a Venezuela de maneira a apaziguar os protestos turbinados pela crise alimentar, além de continuar mantendo a estrutura de apoio ao narcoestado chavista, conservando relações harmônicas com as FARC e de apoio mútuo. As FARC já publicaram uma carta de apoio ao PT, que por sua vez sempre atuou diplomaticamente a favor do grupo narcoguerrilheiro, propugnando a sua transformação em partido político. Não é possível manter integridade nacional com a cumplicidade para com estruturas paralelas de poder, os grupos internacionalistas reiteradamente têm prestado apoio a facções e cartéis e sabotado as Forças Armadas de seus países.

Hugo Chavez conta como, em uma reunião de líderes esquerdistas, encontrou Raul Reyes, então comandante das FARC: “Recebi o convite para assistir, em 1995, ao Foro de São Paulo, que se instalou naquele ano em San Salvador. (…) Naquela ocasião conheci Lula, entre outros. E chegou alguém ao meu posto na reunião, a uma mesa de trabalho onde estávamos em grupo conversando, e lembro que colocou sua mão aqui [no ombro esquerdo] e disse: ‘Cara, quero conversar com você.’ E eu lhe disse: ‘Quem é você?’ ‘Raúl Reyes, um dos comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.’ Nós nos reunimos nesta noite, em algum bairro humilde lá de El Salvador. (…) E então se abriu um canal de comunicação e ele veio aqui (…) e conversamos horas e horas. Depois, em uma terceira e última ocasião, passou por aqui também[21].

O mesmo Raul Reyes, em uma entrevista para a Folha de São Paulo, no contexto em que atacava a Colômbia, presidida por Álvaro Uribe, mencionou que a organização criminosa havia enviado uma carta de felicitações pela vitória de Luís Inácio em 2003, esperando retomar com o PT o mesmo diálogo que travavam antes. Reyes disse que conheceu Lula em uma das reuniões do Foro de São Paulo em San Salvador, acrescentando, sobre os contatos das FARC no Brasil, que: “As Farc têm contatos não apenas no Brasil com distintas forças políticas e governos, partidos e movimentos sociais. Na época do presidente [Fernando Henrique] Cardoso, tínhamos uma delegação no Brasil. Folha de S.Paulo - O sr. pode nomear as mais importantes? Reyes - Bem, o PT, e, claro, dentro do PT há uma quantidade de forças; os sem-terra, os sem-teto, os estudantes, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, historiadores, jornalistas... Folha de S.Paulo - Quais intelectuais? Reyes - [O sociólogo] Emir Sader, frei Betto [assessor especial de Lula] e muitos outros[22].

Nessa mesma entrevista, Reyes acusou o então presidente Uribe de ser um fantoche norte-americano. Essa vinculação que se faz entre líderes antisocialistas com os Estados Unidos da América é um lugar-comum bem antigo usado pelos comunistas para construir frentes pseudonacionalistas, dando a impressão de que se está repelindo uma agressão estrangeira e que se importa com defesa nacional.

Conforme notícias datadas de 2005, o PT teria recebido cerca de R$ 3 milhões vindos de Cuba, entre agosto e setembro de 2002. “Ao chegar a Brasília, por meios que Veja não conseguiu identificar, o dinheiro ficou sob os cuidados de Sérgio Cervantes, um cubano que já serviu como diplomata de seu país no Rio de Janeiro e em Brasília”. “De Brasília, o dinheiro foi levado para Campinas, a bordo de um avião Seneca, acondicionado em três caixas de bebida. Eram duas caixas de uísque Johnnie Walker, uma do tipo Red Label e outra de Black Label, e uma terceira caixa de rum cubano, o Havana Club. Quem levou o dinheiro foi Vladimir Poleto, um economista e ex-auxiliar de Antônio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto[23].

Com a queda do muro de Berlim, o comunista Luis Inácio disse que o objetivo das esquerdas internacionais era reconquistar na América Latina aquilo que se perdeu no leste europeu, encontrando em Fidel Castro o parceiro ideal para essa aventura conjunta. O apoio financeiro que Cuba ganhava dos soviéticos passou a ser substituído por aquele extraído das atividades do narcotráfico, Cuba diversificou as suas formas de subvenção.

O PT foi apontado como tendo diálogos cabulosos com o Primeiro Comando da Capital (PCC), de fato, todos os agentes ideológicos próximos das facções manifestam preferência pelo PT e ojerizam seus adversários. Em interceptação obtida pela Polícia Federal, um renomado líder da facção, Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, dizia que para eles Lula era a melhor opção.

O governo Lula recebeu a dama do tráfico enquanto Flávio Dino era Ministro da Justiça, sendo que as passagens da visita foram custeadas pelos cofres públicos[24].

A atuação do Partido dos Trabalhadores indica um projeto voltado à diluição das soberanias nacionais em benefício de organismos supranacionais, a exemplo da proposta de integração por meio da Unasul e as tentativas de imposição da CELAC como órgão alternativo à OEA, para servir de suporte aos regimes socialistas da América Latina. A transferência dos processos decisórios para instâncias estrangeiras ou regionais enfraquece a autodeterminação do Estado brasileiro.

O Foro de São Paulo é uma estrutura internacional e emite comandos gerais vinculantes para os partidos a ele associados. A única defesa que os asseclas da esquerda possuem é fazer cara de sonso e negarem a existência da entidade, ou tentar diminuir a sua importância, mas essa tática tem caído no vazio há tempos.

O governo comunista de Luís Inácio resgatou a ex-primeira dama do Peru, salvando-a dos processos envolvendo corrupção, protegendo assim um dos integrantes da quadrilha internacional à custa da Força Aérea Brasileira.

Desde o primeiro discurso de Luis Inácio na Organização das Nações Unidas, o comunista não defendeu a soberania brasileira, mas exigiu respeito à soberania do Iraque, em contraste com o discurso de Jair Bolsonaro, que citou uma série de pontos de relevância para o Brasil.

Sobre as eleições de 2022, matéria publicada pelo Financial Times revela a existência de articulação entre os esquerdistas dos Estados Unidos para catapultar Luís Inácio para a Presidência. Sob o pretexto de defender as eleições, o governo Biden pressionou autoridades brasileiras para fazer vistas grossas às inconsistências eleitorais e aceitarem de imediato os resultados das eleições[25].

Os comunistas estão acostumados a perverter a linguagem e, como tal, quando eles falam em “soberania” referem-se à soberania do bloco inteiro, não do País em particular, eles reformulam os termos. Como consequência, todo aquele que conclama pela defesa da soberania tem a obrigação de se posicionar pelo expurgo de partidos com vocação internacional.

A oligarquia construída não só em torno do Supremo Tribunal Federal, como também em torno do Superior Tribunal de Justiça, vincularam os seus julgamentos ao atendimento das pautas definidas na Agenda 2030, programa global que visa subjugar os ordenamentos jurídicos, solapando as Constituições nacionais e em seu lugar impor diretrizes globais. A oligarquia judiciária é também responsável pelo entrave de projetos importantes, como a ferro grão e a blindagem de exploração ou cultivo de partes importantes do território nacional, sob o pretexto de preservação da natureza e respeito às populações indígenas. O mesmo Tribunal foi à China e, sob pretexto de troca de mecanismos institucionais, estabeleceu contato com a maior ditadura do planeta para a melhor exercer as politicagens que já faz.

Luis Inácio disse que não se ofende de ser chamado de comunista, que seus adversários representam tudo aquilo que ele e seus parceiros comunistas rejeitam, como por exemplo, o patriotismo.

 

“Eles nos tratam como se nós fôssemos terroristas, eles nos acusam de comunistas, achando que nós ficamos ofendidos com isso. Nós não ficamos ofendidos, nós ficaríamos ofendidos se nos chamassem de nazistas, de neofascistas, de terroristas, mas de comunista, de socialista, nunca. Isso não nos ofende, isso nos orgulha, muitas vezes e muitas vezes nós sabemos que merecemos esses ataques. (...) Aqui no Brasil, nós enfrentamos o discurso do costume, o discurso da família, o discurso do patriotismo, ou seja, aqui nós enfrentamos o discurso de tudo aquilo que a gente aprendeu historicamente a combater[26].

 

A companheira de Lula, Janja, reclamou ao ditador comunista Xi Jinping que o algoritmo do aplicativo TikTok estaria favorecendo discursos de direita, chamando atenção para um ponto que ela gostaria de ver corrigido[27]. A China comunista poderia inclusive enviar especialistas em censura para auxiliar o regime Lula na supressão de notícias, discursos e expressões consideradas ofensivas e enganosas.

Estamos, portanto, diante de um cenário em que uma oligarquia, em conjunto com a esquerda internacional, conclama a população à defesa da soberania. Esse discurso encontra eco na boca dos pseudonacionalistas, uma espécie à parte, com suas próprias peculiaridades, que merece análise em separado. Por ora, basta dizer que são figuras que gravitam em torno dos comunistas. Em breve, os vermelhinhos começarão a repetir que estão com medo de “revoluções coloridas contra o Presidente Lula”. Os internacionalistas não devem contar com o apoio, sob o pretexto de ameaças externas, eles precisam ser deixados levando tomates de todos os lados até que caiam como frutas podres.

 

 

 

ARAÚJO, Paulo Henrique. O mínimo sobre o Foro de São Paulo. Editora PH Vox.

______________________. O Foro de São Paulo e a Pátria Grande. Editora PH Vox.

Resoluções do 3O Congresso Partido dos Trabalhadores 2007. https://fpabramo.org.br/csbh/wp-content/uploads/sites/3/2018/05/Resolucoesdo3oCongressoPT.pdf

FARC: Saudação ao Foro de São Paulo. https://port.pravda.ru/mundo/15168-farcsaudacao e https://www.defesanet.com.br/front/caso-lula-farc-se-solidariza-con-lula



[1] Resoluções do 3º Congresso Partido dos Trabalhadores 2007. P. 14.

[2] Idem. P. 15.

[3] Idem. P. 138.

[5] Nacionalização do petróleo boliviano repercute na Câmara. https://www.camara.leg.br/tv/169487-nacionalizacao-do-petroleo-boliviano-repercute-na-camara/

[8]Barcos chineses têm recolhido água doce da Bacia Amazônica para levá-las a outros países. https://www.youtube.com/shorts/MqItgLtb8Ek; China pesca ilegalmente na Amazônia, diz prefeito: “governo Lula sabe”.  https://www.epochtimes.com.br/brasil/china-coleta-agua-e-promove-pesca-ilegal-no-para-diz-prefeito-governo-sabe-187916.html 

[9] Idem.

[10] Idem.

[11]Lula diz que PT tem forte relação com o Partido Comunista da China. https://youtu.be/TpSFQzS_GzU?si=KaAGeXd_U7oKxMEc

[12]Se depender de mim, relação com a China será indestrutível, diz Lula. https://youtube.com/shorts/W4O-EzxYo-E?si=tWA2aG4H1aRAICS2

[13] Lula pressionou Tebet para autorizar US$ 1 bi à Argentina e barrar eleição de Milei. https://www.gazetadopovo.com.br/republica/lula-argentina-emprestar-1-bilhao-barrar-milei-presidencia/

[15] Mais médicos, o projeto de sustentação de Cuba . https://news.phvox.com.br/mais-medicos-o-projeto-de-sustentacao-de-cuba/

[16]Brasil financia indiretamente exportação de armas para Coreia do Norte. https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/historico-veja/brasil-financia-indiretamente-exportacao-de-armas-para-coreia-do-norte/ ; ver também artigo de Roberto Lacerda Barricelli: Porto de Mariel e o retorno da Mãe Rússia, disponível em http://www.agrobrasil.com.br/2014/07/alerta-total-porto-de-mariel-e-o.html

[17]Segundo Lula, ajuda do Foro de São Paulo foi fundamental para Chávez. https://pt.wikinews.org/wiki/Segundo_Lula,_ajuda_do_Foro_de_S%C3%A3o_Paulo_foi_fundamental_para_Ch%C3%A1vez

[18] Brasil deverá enviar gasolina ao vizinho, diz FHC. O Brasil deverá mandar gasolina para a Venezuela, disse ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso enquanto inaugurava a barragem do Castanhão, em Alto Santo, a 250 km de Fortaleza. A Venezuela fez o pedido na semana passada, para combater os efeitos da greve geral iniciada no dia 2. "Possivelmente nós vamos mandar", disse FHC. "No domingo, conversei com o presidente da Petrobras, Francisco Gros, para que possamos remeter gasolina à Venezuela, algo de que eles estão precisando muito. Também precisam de navios, mas o governo brasileiro não possui tais embarcações. Os navios pertencem à Petrobras, sob a forma de arrendamento, e não é fácil deslocá-los." (ARMANDO ANTENORE). Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2412200202.htm ; ver também “FHC confirma sondagem à Petrobras sobre envio de combustível para Venezuela”, em https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2002-12-23/fhc-confirma-sondagem-petrobras-sobre-envio-de-combustivel-para-venezuela

[20] FHC recebe o MST e libera R$ 2,1 bilhões. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0407200025.htm . WILLIAM FRANÇA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou ontem a liberação de R$ 2,1 bilhões para o atendimento de 51 itens de reivindicações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
O anúncio foi feito após encontro entre FHC e os sem-terra, marcado de surpresa e realizado no Palácio do Planalto. O MST considerou o encontro "um avanço", mas disse que o dinheiro ainda é insuficiente.
Antes de saber que o presidente receberia seus líderes, o MST havia divulgado nota em que ameaçava fazer uma marcha até a fazenda de FHC em Buritis (MG), como forma de pressão para o atendimento das reivindicações. "Demos um voto de confiança ao presidente", disse Gilberto Portes, da direção nacional do MST. Segundo ele, o movimento dará prazo até o dia 20 deste mês para que o governo concretize as ações anunciadas e amplie os recursos para o financiamento dos assentados e as desapropriações. "Se a gente for no banco ou no Incra e não vir que de fato as medidas existem, vamos continuar mobilizando nosso pessoal. A resposta vai ser na rua. A ocupação é um processo natural de pressão e não depende de orientação", afirmou Portes. "E não está descartada a invasão de prédios públicos novamente", completou. A fazenda de FHC em Buritis (MG) estará preservada até o final do mês, afirmou o líder do MST. "A fazenda está tranquila." O líder do MST considerou "insuficiente" a meta do governo de assentar 45 mil famílias neste ano. "Temos mais de 100 mil famílias acampadas", disse Portes. Ele classificou de "insignificantes" os recursos para o financiamento dos assentados -R$ 840 milhões. O MST acredita que nos próximos dias conseguirá convencer o governo a rever essas formas de financiamento, como a ampliação do subsídio que é dado aos recém-assentados. Pela proposta do MST, o governo deveria liberar mais R$ 6 bilhões para resolver todos os problemas na reforma agrária. "Mas o presidente disse que nós temos a função de pressionar. É o que vamos fazer."
Reunião. A reunião do MST com o governo no Planalto começou às 15h45 e prosseguiu além das 19h. FHC participou da primeira parte, que durou quase duas horas. "O presidente debateu diretamente os problemas", disse o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann. Também participou o ministro da Justiça, José Gregori. Foi FHC quem ligou, por volta do meio-dia de ontem, para a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que está mediando o diálogo do governo com o MST, pedindo que a reunião de acontecesse no Planalto. Seria a segunda rodada de conversas. A primeira foi no dia 21 de junho. Apesar de o MST ter sinalizado com a disposição de negociar com o governo e dar um prazo para que as ações sejam implantadas, Jungmann disse em entrevista que "não tinha nenhuma expectativa de que o MST venha a fazer qualquer trégua ou acordo". "Não consta no DNA do MST as palavras pacto, acordo ou trégua. Não há paz com o MST, porque ele não considera o governo legítimo e está mais para partido camponês radical que para movimento social", afirmou o ministro. Portes classificou a afirmação como "paranóia" de Jungmann. "O dia em que o MST virar partido, ele acaba. O ministro tem de ficar preocupado agora é em responder e implantar as medidas anunciadas", afirmou Portes. O MST mobilizou cerca de 100 militantes para fazer uma marcha de Buritis (MG) até a fazenda do presidente Fernando Henrique Cardoso, a 65 km do local. Ontem, os sem-terra aguardavam o resultado da reunião dos líderes do movimento com FHC para preparar a marcha. Mas os líderes que participaram da reunião com o presidente garantiram, no final, que a área não será invadida e cancelaram o acampamento diante da propriedade.

[27] “Se não seguir a regra, tem prisão”: o modelo de censura que Janja quer importar da China”. https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/o-modelo-de-censura-que-janja-quer-importar-da-china/

Globalismo branco e globalismo vermelho: reformulações no discurso neocomunista após debate Dugin vs Olavo

  Embora o duelo de cartas realizado por volta de 2011 componha mais de duzentas páginas, existem alguns pontos gerais que podem ser sinteti...