Embora o duelo de
cartas realizado por volta de 2011 componha mais de duzentas páginas, existem
alguns pontos gerais que podem ser sintetizados, dentre os quais a
especificação por parte de Carvalho sobre quais são os agentes históricos, os
esquemas de poder e os blocos que os representam na atualidade do século XXI.
Em primeiro lugar, discute-se
sobre quem tem capacidade para executar a ação histórica. É delineado um rol,
no qual constam: as Grandes religiões universais, Iniciações esotéricas –
grupos esotéricos; Dinastias; Movimentos ideológicos e partidos; e Agentes
espirituais (Deus, anjos e demônios).
Numa segunda etapa, o
estudioso passa a analisar sob quais fundamentos essas forças atuam. Podem ser
amparar numa base de poder econômico, político-militar ou ideológico-espiritual.
Por fim, nesta etapa em
que nos encontramos, quais são os blocos existentes e suas respectivas bases?
São identificados três, sendo possível destacar em primeiro momento a esfera de
influência dos metacapitalistas (aqueles que controlam a rede financeira
ocidental e o complexo de ONGs e burocratas comprados); outra composta pelo
bloco que envolve Rússia, China e seus puxadinhos (como os BRICS e países de
mesmo espírito revolucionário, explícita ou implicitamente comunista); e, por
último, a atuação da irmandade muçulmana (países e movimentos comprometidos em
espalhar a influência islâmica, seja por meios legais ou ilícitos, pacíficos ou
violentos).
Os analistas
geopolíticos da mídia mainstream costumam recorrer à imagem de Estados ou
governos para descrever ações no tabuleiro global. São sempre expressões como
"O governo faz isso", "o governo faz aquilo"; "os
Estados Unidos agiram assim", "os Estados Unidos agiram assado".
A ideia do governo como uma entidade abstrata, que age por si mesma e até se
comporta de maneira uniforme perante os demais governos, é uma constante, é como
se as nações estivessem realmente zelando por seus próprios interesses, ainda
que as camarilhas governamentais não tenham qualquer compromisso com o
patriotismo de seus povos. Colocada a questão nesses termos, é como se tais
governos agissem de modo independente da psicologia dos núcleos políticos que
dominam a máquina estatal, aquele conjunto de pessoas de carne e osso, com
ideologias e modos de agir próprios.
Isso não quer dizer,
necessariamente, que é errado se referir aos Estados, eu mesmo me referirei à
China, à Rússia e ao Brasil, o que precisa ser levado em conta é que, por trás
da menção a tais entidades, sabe-se que há grupos específicos que executam as ações
desejadas e direcionam a atividade governamental. Feita essa consideração, o
uso metonímico fica preservado.
Ocorre que, ao menos no
debate travado em 2011, Dugin fundia o interesse das elites financeiras com o
do País denominado Estados Unidos da América. Para ele, o predomínio dessas
elites no cenário geopolítico seria também a hegemonia norte-americana em todo
o globo.
No debate, Dugin encara
o capitalismo norte-americano como extensão da ação dos Estados Unidos sobre o
mundo, as intervenções dos capitalistas sobre as outras nações são consideradas
como medidas tomadas com vistas a resguardar o interesse dos EUA, não é feita a
devida separação entre o plano próprio dessa oligarquia e a atuação dos EUA
enquanto estado-nação. Quem levanta esse ponto é Olavo, que diz que essa
oligarquia, que ele se refere como Syndicate (ou Corporation), pegando de
empréstimo a expressão de Nicholas Hagger, atua mesmo contra o seu próprio País
para fazer prevalecer a sua agenda internacional.
Sobre o globalismo,
Olavo de Carvalho assevera que “Os EUA
não são o centro de comando do projeto globalista, mas, ao contrário, sua
vítima prioritária, marcada para morrer”[1].
Quem observar os
acontecimentos pós-2020, com Joe Biden atuando para enfraquecer o próprio País,
pode ter certeza de quão acertada é essa afirmação. Desde a retirada do
Afeganistão, deixando para trás equipamentos militares de tecnologia
desconhecida pelos inimigos que, após isso, tiveram oportunidade de estudá-los
e submetê-los a engenharia reversa, até as tratativas entre Estados Unidos e
Rússia antes da invasão na Ucrânia, em que Biden, transgredindo a confiança
nele depositada pelos outros países da OTAN, alimentou em Vladimir Putin a
confiança de que poderia invadir certas regiões do leste ucraniano como Donetsk
e Lugansk sem uma firme intervenção das potências euroamericanas. Poderíamos
ainda citar o esgotamento das reservas nacionais de combustível dos EUA e a
sabotagem diplomática feita nos países árabes, com Joe Biden criando incidentes
com a Arábia Saudita e Israel.
Prossegue Carvalho,
dissertando que “A elite globalista não é
inimiga da Rússia, da China ou dos países islâmicos virtualmente associados ao
projeto eurasiano, mas, ao contrário, sua colaboradora e cúmplice no empenho de
destruir a soberania, o poderio político-militar e a economia dos EUA”. “Longe de favorecer o capitalismo de
livre-empresa, o projeto globalista tem dado mão forte a políticas estatistas e
controladoras por toda a parte, não diferindo, nisso, do intervencionismo
propugnado pelos eurasianos. O globalismo só é ‘liberal’ no sentido local que o
termo tem nos EUA como sinônimo de ‘esquerdista’. O projeto globalista é
herdeiro direto e continuador do socialismo Fabiano, tradicional aliado dos
comunistas. A própria ideologia popperiana não é liberal-capitalista, no
sentido do liberalismo clássico, mas, antes de tudo, ‘uma abordagem
experimental da engenharia social’[2].
Nos Estados Unidos, há
um esforço conjugado para solapar a tradição constitucional e o desígnio que os
Pais Fundadores tinham para o projeto nacional, os globalistas travam guerra
contra essas duas coisas. Portanto, existe uma subdivisão dentro do território
norte-americano entre uma corrente patriótica e outra comprometida com o
esquema global, firmemente antiamericana.
Confrontado com tais
afirmações, Dugin negava peremptoriamente essa diferenciação, com perplexidade
ele chega mesmo a se questionar o que isso poderia significar. Nas palavras
dele, “a globalização do mundo e a
instalação em todos os cantos do controle americano, incluindo a intrusão
direta em países nominalmente soberanos, a promoção do modo americano de vida e
a uniformização das diferentes sociedades humanas, realizada pelos EUA, é
considerada pelo professor como nada, sendo ignorada e esquecida. (...) Os EUA
são uma praga absoluta para a humanidade. E a elite globalista é a
quintessência dos EUA; ela domina os EUA e através dele o resto do mundo”
(P. 69).
Essa foi sua posição na
época. Contudo, recalculando seu discurso de ideólogo e estrategista geopolítico
de acordo com novas necessidades, Dugin passou a concordar, ainda que
implicitamente, com Olavo de Carvalho quanto à existência de um espírito
nacional norte-americano distinto e em constante tensão com o projeto político
capitaneado pelo estamento liberal-globalista.
Isso lhe abriu uma
brecha para que formulasse uma nova interpretação geopolítica, levando em
consideração essa revolta interna e aproveitando essa energia de maneira a
aproximar o público de direita dos interesses russos. Ele se valeu de uma
fórmula interpretativa segundo a qual um dos projetos globais é afirmado, ao
passo que os demais são negados ou ofuscados, uma reciclagem do próprio
discurso com base nos três esquemas fornecidos por seu interlocutor.
O que Aleksandr Dugin
faz, a partir dessas observações, é passar a aceitar essa diferenciação entre
patriotas norte-americanos (ou estadunidenses, se você considerar essa palavra
agradável) e os denominados globalistas, que dominam suas instituições dos
Estados Unidos. Ele percebeu essa cisão no cenário americano e começou a
explorá-la, enfatizando um conflito interno entre essas duas forças, a ponto de
chegar a clamar por uma nova guerra civil americana. É claro então que perceber
a diferença entre interesses nacionais dos Estados Unidos, de um lado, e
metacapitalistas, de outro, rendeu uma nova cartada para estratégia política de
Dugin, o qual se viu na posição de manipular o movimento direitista, no sentido
que este se direcionasse prioritariamente contra o esquema global metacapitalista
e, por tabela, ao lado dos comunistas do esquema global russo-chinês.
Em termos marxistas,
trata-se de explorar as contradições internas de um país, recomendação exarada
pelo próprio Foro de São Paulo em sua estratégia contra os Estados Unidos da América.
Em linhas gerais, o
estrategista russo dos neocomunistas aprendeu a trabalhar com a imagem que as
dinastias financeiras e seus aliados (Rockefeller, Rothschild, Clube
Bilderberg, George Soros, Partido Democrata etc.) passaram a ocupar na
psicologia das massas politizadas. A partir disso, procurou canalizar o
sentimento de oposição ao globalismo para um novo foco de resistência. Essa
nova resistência se apresenta com feições aparentemente nacionalistas e
soberanistas, antiglobalistas, mas preserva uma natureza progressista, pois,
afinal de contas, o duginismo é também antinacionalismo[3].
A estratégia comunista aplicada
contra a direita tem sido justamente a de fomentar a sensação de que a ameaça
vermelha desapareceu, transferindo o foco das atenções para o globalismo das
elites financeiras euro-americanas. Com isso, os regimes socialistas passam a
ser retratados como forças insurgentes de defesa das soberanias nacionais e as
fachadas nacionalistas do socialismo internacional passam a ser interpretadas como
nacionalismos autênticos, compondo um eixo antiamericano, contrário à denominada
“ordem unipolar” e promotor de uma “nova ordem multipolar”.
A multipolaridade se
transforma numa palavra-chave para designar o conceito de democracia entre as
nações. Não obstante, o mundo multipolar proposto é tão democrático quanto os
regimes socialistas que se autodenominam democráticos. A palavra já nasce
corrompida, como é próprio das tradições revolucionárias.
O método atua em duas
chaves: por um lado, a ocultação e reconfiguração do comunismo; por outro, o
enfoque exclusivo no metacapitalismo como ameaça às nações. É conveniente para
os neocomunistas enfatizar o papel dos metacapitalistas, porque isso constitui
um reforço disfarçado ao discurso leninista. Nessa moldura interpretativa, o
mundo estaria dominado por uma oligarquia de banqueiros e magnatas, o que, para
os marxistas, confirmaria a tendência monopolista do capitalismo e o
agravamento inevitável da luta de classes. A alta concentração de capital
levaria o conflito ao seu ápice, tornando possível tomar de assalto os centros
de poder burguês e instaurar uma nova ordem econômica pós-capitalista.
A reação ao globalismo,
nesse sentido, seria uma forma de anticapitalismo. O combate ao liberalismo é
apresentado como a resistência espiritual e tradicional contra o monetarismo,
servo de Mammon. Muitos aderem ao discurso comunista por vias indiretas, porque
a rede de propaganda lhe confere um aspecto proteiforme, pois consegue se
adaptar às convicções do público alvo.
Quanto às graves
distorções, consistentes em atribuir aos grupos orientais o papel de guardiões
da tradição e da pureza antiliberal, Olavo de Carvalho, tanto no debate quanto
em artigos de seus alunos, oferece respostas esclarecedoras. Um olhar mais
acurado revelará que, por trás do apelo místico eurasiano, há uma tradição
esotérica anticristã que, em última instância, busca restaurar práticas pagãs
entre os povos contemporâneos, exatamente o que os próprios globalistas
promovem, por também serem antiocidentais.
O verdadeiro conflito,
portanto, não se dá entre Oriente e Ocidente, mas entre duas forças igualmente
empenhadas em destruir os fundamentos da cultura ocidental. Não se pode
ignorar, aliás, que Aleksandr Dugin endossa a ideologia de gênero, um dos
suprassumos da pseudociência moderna. De fato, ele afirma que “gênero é uma construção social” e que,
quanto aos sexos, “as pessoas podem
escolher”.
O uso da palavra
“Ocidente” como um todo unificado, similar a uma entidade, reflete uma
simplificação propagandística que ignora as particularidades de cada uma das
nações, que passam a ser jogadas nesse termo totalizante, transformado em alvo.
Se logo no início a simplificação em torno dos Estados foi objeto de crítica,
com maior razão deve ser criticado o termo que pretende enquadrar como agente
um hemisfério inteiro, as convicções dos neocomunistas eurasianos partem de um
fundo esotérico segundo o qual conceitos geopolíticos incorporam-se em vocações
continentais. Povos vocacionados ao mar, atlantistas (como as talassocracias da
antiguidade), e outros vocacionados a ao domínio de grandes massas
territoriais.
Portugal insere-se na tradição marítima e, por tabela, estaríamos condenados ao bloco “atlantista”, na linha do que declama o poeta (Mar Português - Fernando Pessoa):
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.
A hostilidade de Dugin
é contra o Ocidente como um todo e, portanto, é também anti-Brasil, porque o
nosso País encontra-se inserido nesse bloco ocidental, ele atacará justamente
as bases europeias que formaram a nação. Quando nos deparamos com a palavra
Ocidente, devemos compreender que, na verdade, refere-se ao conjunto de nações
nele existentes. Os neocomunistas estão contra o Ocidente, leia-se: os
neocomunistas estão contra todas as nações que extraem o seu DNA da cultura
ocidental. Os comunistas procuram articular as partes contra o todo.
Esse impulso destrutivo
contra as nações que dificultam o avanço russo-chinês encontra adeptos em
movimentos fomentados pelo próprio ideólogo. Embora se apresentem com uma
estética e linguagem nacionalistas, esses movimentos acabam por se trair,
revelando sua real natureza revolucionária de viés internacionalista. O
eurasianismo é, estruturalmente, um socialismo internacional, porém reformulado
para ludibriar os patriotas dos países onde tenta se infiltrar.
Por isso mesmo, uma
constante nesses movimentos pseudonacionalistas é a proximidade com os regimes
da Rússia e da China, por vezes, até literal: há pessoas que visitaram a
Rússia, receberam treinamento ou instrução de porta-vozes da ideologia
eurasiana,uma espécie de neobolchevismo
repaginado, a fim de replicar seus ensinamentos em seus países de
origem, exatamente como a União Soviética fazia com seus cursos de formação de
quadros e lideranças, a exemplo do que ocorria com a Universidade Patrice
Lumumba, também chamada de “Universidade
Russa da Amizade dos Povos”.
Sobre o nacionalismo, o
professor Aleksandr não tem palavras simpáticas, ao contrário, ele diz que “o nacionalismo - é um produto da
modernidade. Exatamente como o resto da teoria política da modernidade -
liberalismo e comunismo. Baseia-se na negação do espírito da Idade Média e na
recusa das tradições do Império e de Cristo. É burguês nas suas raízes e na sua
essência. Pode ser um pouco melhor do que o liberalismo e o comunismo (que
destroem explicitamente a identidade do povo e da religião), mas o nacionalismo
está infectado com o mesmo veneno - secularismo, racionalismo, ateísmo. É outra
versão de Westoxication (Occidentosis) --Gharbzadegi da pessoa filósofo
Heideggeriano Ahmad Fardid chamou-a”. (...) “Portanto, o colapso dos Liberais, temos de o utilizar para fins
próprios e não devemos cair na armadilha do nacionalismo. Ouçam o lixo
comunista não adianta nada. Por isso, é necessário focar-se na Quarta Teoria
Política”[4].
A elite da quarta
teoria política não pode ser nacionalista, mas imperial. “Esta elite da Quarta Via irá colidir com demagogos e
"líderes" histéricos que uma onda de novo nacionalismo
inevitavelmente trará para a frente como a espuma na superfície do mar
fermentado. E a batalha começa agora. Seria melhor que o monstro neonacionalista
fosse estrangulado no berço. Mas vai aparecer”[5].
As manifestações de
Dugin frequentemente são convocações de militância contra o liberalismo e contra
alvos metacapitalistas, que ele denomina de globalistas. A tônica de suas
palavras revela que, entrelaçados à estrutura ideológica, encontram-se slogans
de guerra e manifestos que conclamam aquilo que ele chama de Ocidente a travar uma cruzada contra
si próprio, seus ouvintes e leitores devem cerrar os próprios galhos que os
amparam.
Seus minions seguem esse padrão:
denominam-se antiglobalistas sem revelar aos demais que estão, eles próprios,
comprometidos com um projeto global. Grupos como a Nova Resistência, uma organização socialista internacional com
fachada nacionalista, representam uma amostra do que os eurasianos já
disseminaram em outras nações, especialmente na direita europeia.
Cumpre-se aqui um
propósito específico e nada inocente: a substituição de expressões e a
reformulação do conceito de globalismo
serve como o melhor estratagema para reduzir a percepção da ameaça representada
pela nomenklatura russa pós-soviética e pelo Partido Comunista Chinês, em
contraste com o Golias metacapitalista, identificado como o leviatã das nações.
É por isso que o ideólogo afirma que uma vitória da Rússia seria uma vitória
para o mundo inteiro, porque os inimigos seriam os mesmos.
O discurso inteiro é
construído para atrair simpatias ao bloco russo-chinês, apresentado como
alternativa ao mundo ameaçado pelo movimento globalista, como se os comunistas
não tivessem assassinado em escala industrial ou esmagado a autodeterminação
dos povos, que eles alegam defender.
Este é o jogo de
dissimulação que se encontra em curso.
O fato de que todas as
conspirações são explicadas como frutos de ações da CIA ou de capitalistas
ocidentais é sintomático. O imaginário norte-americano foi moldado para
conceber um país sequestrado, o que levou o público a ver com simpatia figuras
que se apresentam como libertadores antiglobalistas, como Vladimir Putin e Xi
Jinping. Essa é a tônica de comunicadores influentes, papagaios da KGB, como
Alex Jones e Tucker Carlson.
Ganha corpo, também, a
ideia de que esse estado de coisas pode ser desafiado por correntes políticas
criminalizadas ao longo de décadas pelo estamento, o que leva à romantização de
ídolos que, embora se apresentem como nacionalistas, são também socialistas.
Como ensinava o preceito bolchevique, o surgimento do comunismo implica também
o surgimento dos anticomunismos e Vladimir Lênin orientava que fossem os
próprios comunistas a criar o anticomunismo. Vários dos nacionalismos tidos
como radicais até mesmo pelos esquerdistas de hoje apresentam essa constante:
são nacionalistas na forma, porém socialistas no conteúdo.
Fato é que esses
radicalismos vêm acompanhados de uma aura subversiva. As acusações de
nacional-socialismo fabricadas pela mídia são imediatamente seguidas da
assunção dessa identidade por alguns grupos, na expectativa de que, assim
fazendo, se estaria combatendo o modelo socialista de subversão promovido pela
agenda woke, de raízes frankfurtianas e promotora do método da crítica
radical da sociedade.
Ou seja, buscando
enfrentar os focos corrosivos da sociedade, adota-se uma postura identitária,
de fundo pagão, com culto ao homem greco-romano da Antiguidade. Resgata-se uma
“tradição” que ninguém sabe exatamente o que é, mas que todos imaginam remeter
a um ideal de sociedade estruturada, expurgada dos defeitos da era moderna.
Chega-se até mesmo a enxertar um cristianismo primitivo, que pouco tem de
cristão, ao lado da idealização pagã promovida pelo movimento völkisch,
inspirador do nacional-socialismo.
A oposição ao que o
ideólogo denomina liberalismo
faz desaparecer o anticomunismo. Ele reconfigura os alvos dos movimentos
conservadores da América e da Europa: nenhum deles será mais anticomunista.
Estarão, antes, dispostos a se aliar ao fascismo, ao nacional-socialismo e ao
próprio comunismo como meios para se livrarem da hegemonia liberal denunciada
pela narrativa eurasiana. Basta lembrar como certos direitistas passaram a olhar
o Partido da Causa Operária com bons
olhos, quando este se apresentou com a roupagem da velha esquerda, contrária às
ideologias de gênero e à subversão dos papéis sexuais.
Já no início do século
XX, Felix Dzerzhinsky (chefe da Cheka) dizia que seus métodos de espionagem e
infiltração iriam fazer feder o Ocidente. Essa façanha logrou provocar, nas
populações sabotadas, mesmo sem serem comunistas, uma complacência com relação
ao controle por facções socialistas, desde que estas as livrassem dos incômodos
gerados pelas próprias ferramentas de subversão. Os delírios pós-modernos às
vezes parecem ter sido colocados justamente para que fossem combatidos por
movimentos de natureza igualmente revolucionária.
O estamento global se
utiliza do bicho-papão nacional-socialista como pretexto para estigmatizar os
nacionalismos, mesmo aqueles sem fundo racial. Desde o pós-guerra, houve
crescente campanha que popularizou o ódio ao nacional-socialismo, ainda que as
pessoas, embora conheçam seus atos, pouco saibam de suas raízes profundas.
Também merece destaque a atitude malandra de, em vez de se falar
"nacional-socialismo", utilizar-se da abreviatura “nazismo”, que
oculta o componente socialista da expressão.
A defesa do
nacional-socialismo em meios que se identificam como direitistas é algo
problemático, pois existem elementos nessa ideologia que sempre farão pender
essa massa para os regimes socialistas de discurso trocado. Nos momentos em que
forem instados a apoiar um lado, estarão ao lado da Rússia e da China, que aqui
simplifico pela expressão “neocomunista”, devido ao fator essencial de
preservação da estrutura comunista ao longo das décadas, qualquer que seja o
discurso em voga. No final das contas, os apologistas das correntes fascistas e
nacional-socialistas terminam por servir de base de apoio ao próprio comunismo
e à revolução. Não esperem que sejam verdadeiramente direitistas ou
conservadores, pois quando eles brigam com os comunistas, na verdade estão
brigando em família.
Esse ponto poderia ser
aprofundado em outra oportunidade. O que se pretende aqui é apenas deixar claro
que houve uma campanha de combate aos nacionalismos por meio do manuseio do
espantalho nazista. Assim, esse manancial de filmes, seriados, livros e artigos
formou uma cultura pop antinazista, tão rasa quanto vasta. Os efeitos disso são
dois: tornou-se difícil para o homem comum identificar a verdadeira natureza do
nacional-socialismo, mas as massas não ficaram privadas de usar o termo como
etiqueta contra adversários políticos e acadêmicos.
O ódio ao
nacional-socialismo tornou-se parte do politicamente correto. Isso será
aproveitado pelos neofascismos para questionar os conservadores se o ódio ao
comunismo também não poderia ser encarado como apenas mais uma forma de
politicamente correto (como o próprio Dugin indaga). As mesmas tentativas
revisionistas aplicadas a um deveriam então ser aplicadas ao outro. Assim como
a figura de Adolf Hitler pode ser revisitada, buscando-se sanear defeitos e
desmistificar as versões dos vencedores, esse mesmo método também poderia ser
aplicado a Vladimir Lênin, Joseph Stálin e seus sucessores. O revisionismo de
um pode despertar o revisionismo dos outros e, sob o rótulo de revisionismo,
muitas vezes se esconde a falsificação pura e simples.
As pessoas passam a
perceber essa atividade como uma forma nobre de romper os paradigmas impostos
pela Nova Ordem Mundial inaugurada em 1945, com a fundação da ONU e o início da
Guerra Fria. Após tanta imprecação por parte dos meios de comunicação e do meio
acadêmico, a defesa dessas vertentes ideológicas passa a ser identificada como
uma forma de combate ao politicamente correto. A transgressão do politicamente
correto, que condena o fascismo e o nacional-socialismo, fornece a mesma base
para a repaginação das percepções sobre o comunismo.
Vejam o mundo dominado
por metacapitalistas exploradores dos povos: um convite para a sugestão de que “talvez Marx, Lenin e Stálin não estivessem
tão errados assim.” As revoluções comunistas, afinal, o que teriam sido
senão produtos dos próprios capitalistas? Sim, o fio do novelo tem origem no
capital, o comunismo teria sido apenas uma “ferramenta” de uma elite que é,
esta sim, o verdadeiro mal do mundo. Alguns chegam mesmo a identificar essa
elite como uma conspiração judaica. O casamento entre anticapitalismo e
antissemitismo une aquilo que, sem as lentes corretivas, parecia estar
separado. Os neofascismos e o comunismo orientam-se no mesmo sentido quando se
trata de política internacional, com a diferença de que os neofascismos estão
na condição de instrumentos para a consecução dos objetivos dos “vermelhos”.
Para a esquerda,
apresenta-se o discurso comunista clássico. Para a direita, o discurso
comunista vem na forma do paradoxal nacionalismo de esquerda, o antiamericanismo
terceiro-mundista que encontrou forma de expressão nos BRICS, no apoio a Cuba e
Venezuela.
Armas da nova
propaganda que vêm se tornando cada vez mais comuns:
1) O
comunismo não existe mais ou o comunismo nunca existiu;
2) O
Foro de São Paulo perdeu o protagonismo na região e foi absorvido pelos
globalistas ocidentais;
3) As
ações de domínio global são capitaneadas pelos Estados Unidos e suas elites
capitalistas. A CIA tudo vê, a CIA tudo faz, etc...;
4) As
nações que entram em choque com esse capital monopolista são forças heroicas da
soberania, uma vitória delas é a vitória de todo o mundo que anseia por uma
distribuição democrática de poder entre os povos.
Por
isso, alguns acontecimentos da história têm sido explicados como originados
pela CIA, quando elementos comprometedores envolvendo os soviéticos estão
plenamente acessíveis e documentados por dissidentes da KGB. Por exemplo, o
assassinato de John Kennedy é abordado no livro de Ion Mihai Pacepa, onde o
leitor encontrará um roteiro detalhado sobre o envolvimento de Lee Harvey
Oswald com contatos comunistas. A desinformação oferecida ao público
norte-americano tenta levá-lo a teorias falsas, segundo as quais os próprios
órgãos de inteligência, em conluio com a elite capitalista, teriam assassinado
o presidente Kennedy. Esse padrão se repete: os desinformantes fabricam teorias
para que os próprios norte-americanos fiquem girando em círculos, procurando
culpados em conspirações internas (inside jobs), enquanto a rede de espionagem
estrangeira passa despercebida em meio a essas histerias provocadas.
Voltando
ao ideólogo: já em 2016, Aleksandr Dugin passou a manobrar com o termo globalismo e com a candidatura
outsider representada por Donald Trump, que se apresentou com bandeiras tipicamente
conservadoras, desafiando o conglomerado que se apoderara da Presidência dos
EUA.
Naquela
oportunidade, Dugin escreveu uma espécie de manifesto “contra o pântano”:
Preste
atenção ao slogan da campanha da empresa Trump -- "Drain the Swamp" -
"Drain the Swamp". Pântano, Pântano não é apenas uma metáfora. Agora
que Trump vence, este é o conceito mais importante. O que o pântano quer dizer
com Donald Trump? Para ele e para os seus apoiantes, o Pântano é o globalismo,
o liberalismo, o domínio corporativo transnacional, a política externa
agressiva - em resumo, tudo aquilo que normalmente chamamos de "hegemonia.
" O fato de que o globalismo e a hegemonia se tornaram o principal vetor
da política americana na segunda metade do século XX (embora pretendendo ser
através da era Woodrow Wilson do início do século XX), tornou-se algo tão
evidente que simplesmente equiparamos a América ao globalismo. Nós
dissemos "América, EUA" e queríamos dizer "globalismo,
hegemonia. " Nós dissemos "globalismo, hegemonia" e queríamos
dizer "América. " E nós estávamos certos. E cada globalista era um
agente de influência dos Estados Unidos e do Departamento de Estado, e cada
agente de influência dos Estados Unidos e do Departamento de Estado era um
globalista.
Mas agora o 45o Presidente
dos Estados Unidos estava do lado oposto do globalismo e da hegemonia, chamando
este fenômeno, esta tendência, esta ideologia de "O Pântano". Ao fazê-lo, ele deu um golpe
esmagador no centro da hegemonia, até ao seu núcleo. Ele realizou uma ação conceitual
fundamental - um gesto de paradigma, ele separou o pântano da América e até se
opôs a eles. Portanto, o pântano, que deve ser drenado, tornou-se
instantaneamente extraterritorial. O mesmo fenômeno não espacial que o
terrorismo internacional. O Pântano é uma rede global de corrupção,
liberalismo, ideologia sectária dos LGBT, sociedade civil e direitos humanos.
Esta é a onipotência das corporações transnacionais e da autoproclamada
"elite mundial" não eleita - especuladores, maníacos, pervertidos e outras
minorias.
Então os
EUA contra o pântano. A América é contra o globalismo. Isto significa que o
pântano está por conta própria agora. E isso torna-o vulnerável. Todo país tem
seu próprio pântano. E todos os países têm de drená-lo agora. Entretanto, a
América - a América de Trump - está do nosso lado desta vez. Estão a drenar o
seu pântano, os russos são deles, os europeus são deles. Todo país tem um povo
e um pântano. E entre eles começa a última e decisiva batalha. O pântano
pertence às elites e separatistas. Mas apesar de toda a sua minoria, apostam na
juventude, que procuram transformar na sua espinha dorsal, na sua quinta coluna
- através de engenhocas técnicas, educação, redes. Além disso, o Pântano
controla o sistema financeiro mundial moderno. Quero dizer, ainda é um poder
enorme. Mas já não tão grandioso e consolidado como antes da vitória de Trump.
A vitória de Trump é o início da luta de libertação da América contra o
pântano. E isto é um sinal para a revolução anti-Pântano em todos os países.
Olha que
coincidência surpreendente: a revolta das multidões globalistas russofóbicas no
Pântano em Moscou e o programa de drenagem do Pântano na própria América. E o
mesmo Soros, que financiou e provocou a revolta contra o nosso Presidente e o
seu percurso patriótico, que esteve por trás da Maidan e dos tumultos na praça
Taksim organizados pelos gullenistas, para a tentativa de golpe na Turquia,
está agora a sair da pele para derrubar os legalmente eleito presidente dos
Estados Unidos. Anteriormente, hordas de ativistas dos direitos humanos estavam
em fuga na Inglaterra, protestando contra a decisão democrática do Brexit.
Então
estamos todos no mesmo barco agora - nações e governantes soberanos. E contra
nós está o pântano. Holanda, Merkel, burocracia de Bruxelas, assim como
liberais russos ou pró-ocidental sexta coluna - este é o pântano. Mas agora
eles não estão apenas servindo os Estados Unidos. Agora eles só servem a sua
ideia diabólica fanática. E eles já odeiam Trump tanto quanto Putin, Erdogan ou
Orban.
E o
principal pra nós agora é não perder tempo. Os globalistas já entenderam: agora
têm um objetivo - esperar Trump. Drenar o Pântano é uma tarefa difícil, porque
o Pântano vai resistir. E o principal cálculo do pântano é agora que não temos
tempo suficiente. E eles, infelizmente, podem ter razão. Portanto, agora nós,
apoiantes de Putin e Trump, inimigos do Pântano e Soros, precisamos agir
rapidamente. Não temos tempo nenhum. A limpeza das redes e estruturas pântanos
deve ser feita de forma radical e sem demora. Até agora Trump está conosco. O
pântano espera sair do Trump. Nosso objetivo é ter um vale seco e fértil
espalhado diante de nós depois de Trump, pronto para o cultivo de culturas
saudáveis, espirituais, populares e tradicionais. E o pântano desapareceria
para lugar nenhum. Para o abismo de onde veio.
Drenar o
pântano é o mais russo possível slogans. Trump é a nossa oportunidade e vamos
amaldiçoar-nos se não a aproveitarmos rapidamente[6].
Percebam
como o ideólogo busca reforçar um erro e uma falsa imagem ao dizer o seguinte: Nós
dissemos "América, EUA" e queríamos dizer "globalismo,
hegemonia. " Nós dissemos "globalismo, hegemonia" e queríamos
dizer "América. " E nós estávamos certos. E cada globalista era um
agente de influência dos Estados Unidos e do Departamento de Estado, e cada
agente de influência dos Estados Unidos e do Departamento de Estado era um
globalista. Mas agora o 45º Presidente dos Estados Unidos estava do lado oposto do
globalismo e da hegemonia, chamando este fenômeno, esta tendência, esta
ideologia de "O Pântano".
É
como se a distinção entre o patriotismo americano antiglobalista e o plano
globalista em si só tivesse passado a existir com a eleição de Donald Trump, o
que é evidentemente falso. O deep
state constitui uma estrutura de poder paralela à política formal, que é
engolida.
Como
apontou Olavo, as forças reais estão na sociedade, sendo a política partidária
a expressão última. Dugin afirma que o movimento antiestamento surgiu com a
eleição de Trump, mas sabemos que ocorreu justamente o oposto. Primeiro, houve
a formação de grupos nacionalistas e patrióticos interessados em debater e
diagnosticar a situação, compondo uma massa de discussões robusta, que
denunciava a ação de traidores e globalistas com agenda própria, hostil aos
interesses dos Estados Unidos da América. Só após o surgimento dessa cultura
nacional foi possível criar um ambiente favorável à insurgência de uma
candidatura como a de Donald Trump, capaz de desafiar as forças dominantes
naquele território. A cisão entre o pântano e o patriotismo sempre existiu,
embora se mantivesse submersa à luta política pela tomada da máquina estatal.
Aquilo
que Olavo descreve como a luta do povo contra o estamento burocrático, com base
nas lições de Raymundo Faoro, também existiu e ainda existe nos Estados Unidos.
A partir disso, Dugin passou a utilizar essa perspectiva analítica como forma
de abrir um canal por meio do qual a direita norte-americana pudesse se
identificar com a dissimulação conservadora do regime pós-soviético que, no
entanto, conserva a mesma estrutura, estirpe e métodos de sempre. Era preciso
colocar patriotas direitistas norte-americanos e stalinistas, comunistas e
simpatizantes, todos eles do mesmo lado.
Já
em 27 de fevereiro de 2022, comentando a guerra contra a Ucrânia, Dugin
escreveu o seguinte em sua rede social:
Isto não é uma guerra com a
Ucrânia. Este confronto com o globalismo como um fenômeno planetário inteiro.
Confronto em todos os níveis - geopolítico e ideológico. A Rússia rejeita tudo
sobre o globalismo - unipolaridade, Atlantismo, por um lado, e liberalismo,
anti-tradição, tecnocracia, numa palavra, o Grande Reset. É claro que todos os
líderes europeus fazem parte da elite liberal atlântica. E fomos para a guerra
com ela. Daí a reação padrão deles. A Rússia está agora excluída das redes
globalistas. Ela não tem mais escolha: construir o mundo dela ou desaparecer. A
Rússia tomou o curso para construir o seu próprio mundo, a sua civilização. E
agora o primeiro passo está sendo dado. Mas diante do globalismo, só um grande
espaço, um estado continente, um estado civilizacional pode ser soberano.
Nenhum país pode resistir a um encerramento completo por muito tempo. A Rússia
está agora a criar um campo de resistência global. A vitória dela será a
vitória de todas as forças alternativas - direita e esquerda e de todos os
povos. Como sempre, começamos os processos mais difíceis e perigosos. Mas
quando ganhamos, todo mundo aproveita. Era assim que se pretendia. Estamos
agora a criar a premissa para a verdadeira multipolaridade. E aqueles que estão
prontos para nos matar agora serão os primeiros a aproveitar o nosso feito
amanhã. Quase sempre escrevo o que se torna realidade depois. E isto vai
tornar-se realidade.[7]
Se a situação se
desenvolverá conforme os desejos de Aleksandr Dugin, isso é algo que pode ser debatido.
O que não se pode discutir, por ser evidente, é que Rússia e China não se opõem
a uma nova ordem mundial, ao contrário, pretendem instaurar uma ordem global
que lhes seja favorável, temperada pelo slogan da multipolaridade, substituto da antiga “solidariedade dos povos”,
cujo símbolo era Stálin, outrora exaltado como um dos “grandes filhos da
humanidade”, embora os verdadeiros patriotas saibam que tipo de grande filho
Stálin era. Essa tendência globalista dos vermelhos tem sido observada nos
eventos envolvendo os BRICS[8],
conglomerado de países emergentes que promete fornecer apoio recíproco às
ditaduras e uma rede econômica que diminua os efeitos das sanções a elas
direcionadas.
Durante uma viagem para
a Turquia em 2023, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei
Lavrov, sustentou que as negociações de paz com a Ucrânia deveriam ser feitas
sob os princípios de uma nova ordem mundial[9].
Em 2022, enquanto a guerra se desenvolvia no leste europeu, a China comunista
manifestou o desejo de construir junto com a Rússia uma nova ordem mundial que
tenha como vetores a justiça e a igualdade, atentando para o longo histórico de
cooperação estratégica entre os dois países[10].
Dessa forma, é possível
classificar esses dois esquemas mundiais em um globalismo branco (para designar
as elites metacapitalistas, com o seu conglomerado de ONGs, políticos e
governos inteiros cooptados) e outro denominado globalismo vermelho (de
vertente marxista-leninista, maoísta, comprometido com os valores da revolução
comunista internacional). Neste último é que se insere o eurasianismo, que
embora tenha a pretensão de ser uma quarta teoria política, cumpre o papel de
neocomunismo puro e simples.
Embora a finalidade de
ambos os esquemas globais seja a mesma, eles possuem tradições e culturas
distintas. No atual sistema de relações internacionais, o bloco russo-chinês
sente-se em desvantagem e busca romper a hegemonia vigente apenas como meio de
instaurar uma forma de mundialismo mais palatável aos seus interesses.
A dificuldade das discussões
contemporâneas reside, basicamente, na incapacidade de visualizar os três projetos globais como
simultâneos: na maioria das vezes concorrentes, em outras, colaboradores. Em
geral, vê-se uma tendência a escolher um único esquema e negar os outros, como
se o quadro completo fosse largo demais.
Por fim, os pontos atacados pelos comunistas recaem sobre dois pilares. O
primeiro é a concepção de nação, patriotismo e identidade nacional. O segundo
diz respeito à definição e compreensão do globalismo. Em suma, trata-se de
saber quem somos, reconhecer os
patriotismos autênticos, e quem são os nossos inimigos, quantos são e de que
modo se apresentam. Como ensinava Sun Tzu: “Conhece a ti mesmo e conhece o
inimigo, e não precisarás temer o resultado de cem batalhas.” Com atenção e
boa-fé, é possível reduzir a dissimulação eurasiana a pó, poupando confusões
causadas pela babel ideológica que desorienta compatriotas e correntes
genuinamente antiglobalistas.
[1] Os EUA e a Nova Ordem Mundial. P. 55.
[2]
Idem.
[3]Nacionalismos
são obstáculo à Nova Ordem Multipolar, diz Dugin. https://www.estudosnacionais.com/42825/nacionalismos-sao-obstaculo-a-nova-ordem-multipolar-diz-dugin
[5]
Idem.
[6]https://www.facebook.com/alexandr.dugin/posts/pfbid022eETecNk5kBm4uGhVkaB5Nu4phjUcne989oCJ3RyQE5Wi3dAEEGhN89w4cHz9DWNl
[7]https://www.facebook.com/alexandr.dugin/posts/pfbid0DcboHYUZHQjA2GvuoH7UYaRpGkucy65Yy9R7QtwjtupLpsLyr86ZCicsWgJc7LMql. Em inglês: This is not a war with Ukraine. It
is a confrontation with globalism as an integral planetary phenomenon. It is a
confrontation on all levels - geopolitical and ideological. Russia rejects
everything in globalism - unipolarity, Atlantism, on the one hand, and
liberalism, anti-tradition, technocracy, Great Reset in one word, on the other.
It is clear that all European leaders are part of the Atlanticist liberal
elite. And we are at war with exactly that. Hence their legitimate reaction.
Russia is now being excluded from the globalist networks. It no longer has a
choice: either build its world or disappear. Russia has set a course to build
its world, its civilization. And now the first step is being taken. But sovereign
in the face of globalism can only be a large space, a continent-state, a
civilization-state. No country can withstand complete disconnection for a long
time.
Russia is now creating a
field of global resistance. Its victory would be a victory for all alternative
forces, both right-wing and left-wing, and for all peoples. We are, as always,
starting the most difficult and dangerous processes.
But when we win, everyone takes advantage of
them. That is the way it is meant to be. We are now creating the preconditions
for real multipolarity. And those who are ready to kill us now will be the
first to take advantage of our feat tomorrow. I almost always write things that
later come true. This will also come true.
[8] Lavrov fala na China de "nova ordem
mundial multipolar e mais justa". https://pt.euronews.com/2022/03/31/lavrov-fala-na-china-de-nova-ordem-mundial-multipolar-e-mais-justa
[9] Conversas de paz devem considerar “nova
ordem mundial”, diz Lavrov. https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/conversas-de-paz-devem-considerar-nova-ordem-mundial-diz-lavrov/
[10] China quer construir com a Rússia uma nova
ordem mundial mais justa. https://revistaoeste.com/mundo/china-quer-construir-com-a-russia-uma-nova-ordem-mundial-mais-justa/
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