Já de longa data, a
escritora JK Rowling, mais conhecida pelas obras sobre Harry Potter, vem
comprando briga com a comunidade do arco-íris, levando a minoria homossexual
barulhenta, bem como uma parcela maior, que não é gay, mas continua adepta e
simpatizante do culto pseudocientífico, à perda de paciência. A autora é
xingada de diversos nomes e enfrenta forte oposição dos próprios fãs, que já
chegaram a fazer pressão para que fosse excluída de trabalhos envolvendo a
ficção por ela criada. Gostariam estes que a autora fosse excluída dos créditos
e da renda auferida dos produtos ficcionais de Harry Potter.
Com o recente
lançamento do jogo Hogwarts Legacy, comentários denunciam que aqueles que
efetuarem a sua compra estariam financiando a transfobia da autora. Em março de
2024, Rowling se posicionava novamente contra a fluidez de gênero, vejamos o
seu comentário:
A
palavra "transfóbico", tal como é utilizada aqui, não significa um
medo irracional ou aversão às pessoas trans. Significa recusar-se a usar o
jargão da ideologia da identidade de género, recusar-se a papaguear os seus
slogans, recusar-se a aceitar que o sexo não importa quando se trata de
desporto e espaços de sexo único, recusar-se a acreditar que um homem
heterossexual barbudo se torna lésbica quando se declara lésbica, e recusar-se
a acreditar que um homem abusivo e misógino é uma mulher porque gosta de usar
mini-vestidos e fazer beicinho em selfies.
Tal
como todas as outras pessoas críticas em relação ao género que conheço,
acredito que todos devem ser livres de se expressarem como quiserem,
vestirem-se como quiserem, chamarem-se o que quiserem, dormirem com qualquer
adulto que queira dormir com eles e que as pessoas identificadas como trans
devem ter as mesmas protecções em relação ao emprego, à habitação, à liberdade
de expressão e à segurança pessoal a que todos os outros cidadãos têm direito.
Mas
isto não é suficiente para a corrente dominante do ativismo trans, que afirma
que, a menos que a liberdade de expressão seja retirada aos dissidentes, a
menos que os homens trans-identificados sejam autorizados a retirar os direitos
das mulheres, com particular referência a espaços de sexo único como centros de
crise de violação, celas de prisão, enfermarias de hospital, vestiários e casas
de banho públicas, até que todos nos curvemos perante a sua neo-religião,
aceitemos as suas afirmações pseudo-científicas e abracemos o seu raciocínio
circular, as pessoas trans são mais oprimidas e correm mais riscos do que
qualquer outro grupo na sociedade.
Isto
é um disparate. 99,9% do mundo sabe que é um disparate. O imperador está nu.
Pode estar a usar batom, mas as suas bolas estão à vista de todos.
No entanto, apesar de
apelar para a realidade biológica e se contrapor aos disfóricos, a posição de
Rowling se deve ao fato de ela ser adepta de um culto feminista puro que se
sente ameaçado ou incomodado pela ideologia da disforia de gênero. Ela se
posiciona corretamente, mas pelos motivos errados, fazendo a defesa das
mulheres contra uma confusão que tem sido semeada no campo da esquerda, porém
ainda assim ao lado dos antipatriarcais, dos que consideram homens
intrinsecamente danosos à liberdade feminina.
O fato de permanecer na
postura feminista, mas criticando os disfóricos LGBT, bastou para que a máquina
propagandista de esquerda dedicasse alguma energia para análise e intimidação
da escritora. Em certa publicação com ar
acadêmico facilmente encontrada em campos de busca, tratando da escritora e sua
comunidade de seguidores, consta que “Os
fãs e seguidores de Rowling nas redes sociais já haviam identificado que, desde
2019, ela vem apoiando grupos de
feministas radicais em
alegações anti-trans e
dando declarações transfóbicas em
suas publicações, o que incitou a conversação em rede sobre o tema” (https://www.revistageminis.ufscar.br/index.php/geminis/article/view/759/516)
Na concepção clássica,
a sociedade opressiva ao sexo feminino modela os papéis que as mulheres devem
desempenhar, o patriarcado enquanto entidade assegura o seu domínio sobre o
corpo, mente e reprodução das mulheres. A introdução do elemento disfórico
seria uma deturpação da leitura feminista da sociedade, causando confusão e
prejudicando a tomada de decisões corretas na contraposição ao patriarcado,
afinal de contas, muitos homens passam a ser tratados como se mulheres fossem.
O que parece ser um
duelo entre a escritora, montada na razão biológica contra distúrbios psiquiátricos,
na verdade é uma briga entre a pseudociência feminista contra a pseudociência
dos disfóricos de gênero. Rowling não acompanhou as adaptações da esquerda em
seu modelo de sabotagem à saúde mental das sociedades ocidentais e se prendeu a
um modelo feminista já ultrapassado pela quebra de racionalidade promovida com
a ideologia queer, nos termos colocados por Judith Butler.
A obra sobre Harry
Potter trata de bruxaria, e a sua popularização tem causado interesse crescente
sobre cultos pagãos, a exemplo da religião Wicca, a exploração desse tópico é
uma das formas de sabotagem dos três pilares propostos por Gramsci da
civilização ocidental. Relembremos: Direito Romano, filosofia grega e
cristianismo (leia-se, Igreja Católica e sua tradição como pilar de toda a
cristandade)
Na obra, Rowling
associa homossexualismo como um traço do principal mago sábio e experiente que
guia o protagonista. As preferências sexuais, que seriam algo completamente
alheio e desnecessário em uma história de fantasia, são introduzidas como
curiosidades picantes da história do personagem.
Magos brancos, aristocráticos
e loiros posam de arrogantes contra o menino pobre escolhido para derrotar o
senhor das trevas.
A colega do
protagonista é uma garota estudiosa que tem o esforço ignorado no lugar da
predestinação de Harry para ser o centro dos acontecimentos, então o mérito da
mulher é um nada se comparado ao papel reservado ao garoto, predestinado como
peça fundamental para os grandes eventos.
Potter é humilhado por
uma família tradicional britânica, que o escraviza e reprime a sua tentativa de
voltar às raízes da tradição pagã da bruxaria, são elementos do colégio que o
libertam da família escravizadora e permitem que ele tenha acesso a toda
educação proveniente da feitiçaria, exatamente como os centros universitários
ideológicos fazem com os que ingressam neles, eles passam a dar embasamento ao
ódio de núcleos familiares (correspondentes ao modelo da família burguesa).
Talvez não por acaso, o garoto que no início parece ser um nerd tímido passa a
demonstrar cada vez mais sinais de rebeldia, comportamentos impulsivos contra a
hierarquia do colégio, ele precisa romper regras para que a história progrida e
acabe salvando o dia.
A obra de Rowling, ao
ilustrar a existência de uma subcultura feiticeira, aponta para uma sociedade
secreta multifacetada, composta por diversos clãs que seguem uma tradição
própria, apartada da população em geral. Todos os que dela participam se
encontram em um patamar superior ao dos demais “trouxas”. Ou seja, o
conhecimento secreto fornece as chaves do verdadeiro poder e possibilita o acesso
a novas realidades, o colégio de Hogwarts abre as portas para várias doutrinas
ocultas, para além das quais se situa ainda a magia negra.
Em certo momento da
história a escola Hogwarts é tomada pelos inimigos, momento em que se implanta
uma disciplina férrea, regulamentação extrema e proibição do acesso pelos
bruxos ao verdadeiro conhecimento da feitiçaria, os professores fingem que
ensinam e os alunos fingem que aprendem, enquanto por baixo dos panos procuram
reverter a situação com conspirações, aulas clandestinas e subterfúgios contra o
regime totalitário implantado por Voldemort e seu grupo. Se antes a ruptura da
disciplina era necessária, com maior razão passou a se apresentar como último
recurso a favor dos alunos. Os personagens velhos, por mais lendários que
sejam, são coadjuvantes, as grandes decisões devem ser tomadas pela juventude e
são os seus atos que determinarão o desfecho da história.
Nessa obra ficcional de
Rowling está ausente qualquer representação de valores tradicionais que
fundamentariam o combate às ideologias difundidas na cultura musical, literária
ou cinematográfica. Ao invés disso, confere-se propulsão ao desejo infantil de
produzir bem estar com o mero balançar de uma varinha conjugado com as palavras
corretas.
A jornada de trabalho é
ruim? Basta uma lei para resolver, os estudos econômicos do impacto da redução
da jornada de trabalho são irrelevantes. O salário está baixo? Uma lei ou
decreto elevando o salário-mínimo resolve a situação. Se alguém é burro e com
ego ferido por falta de titulações, basta colocá-lo numa universidade mediante
cotas e, ao final, conceder-lhe um diploma. Fórmulas fáceis, que se chegue ao
ponto de chamar um homem de mulher, isso está dentro da linha de desdobramento
do método inaugurado pelos socialistas, que imaginando terem dobrado Deus e a
religião, não vai ser a natureza o obstáculo às suas pretensões.
A respeito disso, escreveu
Roger Scruton:
O
aspecto mais interessante das histórias de Potter, falando antropologicamente,
é que elas dependem de uma atmosfera bem "às antigas" e inglesa,
embora evite quaisquer referências para nossas tradicionais crenças religiosas.
Hogwarts é uma escola pública inglesa, com claustros e uniformes, com jogos,
que lembram as antigas virtudes esportivas, e hierarquias, com jantares formais
e discursos ritualísticos. É uma grande capela gótica, mas sem hinos nem
orações. Mas como se mantêm essa atmosfera? A resposta é: pela mágica. E essa
mágica é uma criação esplêndida de Rowling, que ocupa todo lugar que a religião
ocuparia, enquanto realocando o conflito entre o bem e o mau do plano cósmico
para o primeiro plano, da ação humana. O conflito é revelado em formas e
rostos, em símbolos e trajes, nos contornos e nas sombras dessa assustadora
instituição.
Mais adiante, tratando das
diferenças fundamentais entre magia e religião, o filósofo
(...)
a
atmosfera criada por ela também nos lembra porque a religião e a mágica já
estiveram na cabeça de loucos. A religião nos diz que não temos poder no mundo
e devemos aprender a aceitar nossas limitações e reconhecer que nossa salvação
depende em Deus, que nos salvará. Quando rezamos, não comandamos ao mundo que
nos obedeça, muito pelo contrário, nós modestamente reconhecemos nossa falta de
poder e pedimos que Deus intervenha em nosso nome. Orar é reconhecer nossa
fraqueza e, ao mesmo tempo, a determinação em merecer a ajuda de Deus. Nesse
sentido, orações são o exato oposto dos feitiços. Aquele que conjura um feitiço
está assumindo seu poder sob a realidade; ele não precisa de Deus, porque ele é
Deus, ele está assumindo os poderes do Criador e subjugando a vida e o mundo a
sua vontade. Quando a alquimia foi condenada pela Igreja medieval, era como uma
tentativa blasfema de usurpar o poder de Deus. Se posicionando contra a
alquimia, a Igreja contribuiu consideravelmente para o avanço da ciência,
forçou as pessoas a renunciarem seus desejos de controlar o mundo e as instigou
a tentar entendê-lo. Experimentos científicos e a teorização se transformaram
na verdadeira obediência religiosa.
Com uma chave
compreensiva, complexa e profunda, “A
religião é um dos papéis que nos distancia da magia primitiva, para encarar o
mundo sabendo do fato que nós não o controlamos”.
Com base no panorama
metafísico exposto, Rowling está longe da posição de nova adversária dos
equívocos difundidos pela esquerda no mundo contemporâneo, situando-se antes na
condição de dissidente, ainda partilhando do núcleo essencial esquerdista que
gerou tanto o feminismo quanto o gayzismo. E sendo assim, não merece apoio dos
antirrevolucionários numa questão que é, no final das contas, algo interno e
que apenas expressa a dialética esquerdista com as constantes mutações que ela
provoca no discurso socialista. Por tal razão, JK Rowling deve ser deixada para
combater os seus próprios demônios enquanto ainda partilhar das premissas de
seus adversários.
SCRUTON, Roger. On Harry Potter. https://youtu.be/tHGNf6nWUm0. Harry Potter, Segundo Roger Scruton. https://pt.scribd.com/document/374136087/Harry-Potter-segundo-Roger-Scrutton
J.K. ROWLING E TRANSFOBIA: UMA ANÁLISE DAS DIMENSÕES DA COMPETÊNCIA MIDIÁTICA NO ATIVISMO FÃ NO TWITTER. https://www.revistageminis.ufscar.br/index.php/geminis/article/view/759/516
https://x.com/jk_rowling/status/1765822003246768198
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