sexta-feira, 4 de julho de 2025

JK Rowling não merece apoio na sua contenda com os disfóricos



Já de longa data, a escritora JK Rowling, mais conhecida pelas obras sobre Harry Potter, vem comprando briga com a comunidade do arco-íris, levando a minoria homossexual barulhenta, bem como uma parcela maior, que não é gay, mas continua adepta e simpatizante do culto pseudocientífico, à perda de paciência. A autora é xingada de diversos nomes e enfrenta forte oposição dos próprios fãs, que já chegaram a fazer pressão para que fosse excluída de trabalhos envolvendo a ficção por ela criada. Gostariam estes que a autora fosse excluída dos créditos e da renda auferida dos produtos ficcionais de Harry Potter.

Com o recente lançamento do jogo Hogwarts Legacy, comentários denunciam que aqueles que efetuarem a sua compra estariam financiando a transfobia da autora. Em março de 2024, Rowling se posicionava novamente contra a fluidez de gênero, vejamos o seu comentário:

 

A palavra "transfóbico", tal como é utilizada aqui, não significa um medo irracional ou aversão às pessoas trans. Significa recusar-se a usar o jargão da ideologia da identidade de género, recusar-se a papaguear os seus slogans, recusar-se a aceitar que o sexo não importa quando se trata de desporto e espaços de sexo único, recusar-se a acreditar que um homem heterossexual barbudo se torna lésbica quando se declara lésbica, e recusar-se a acreditar que um homem abusivo e misógino é uma mulher porque gosta de usar mini-vestidos e fazer beicinho em selfies.

Tal como todas as outras pessoas críticas em relação ao género que conheço, acredito que todos devem ser livres de se expressarem como quiserem, vestirem-se como quiserem, chamarem-se o que quiserem, dormirem com qualquer adulto que queira dormir com eles e que as pessoas identificadas como trans devem ter as mesmas protecções em relação ao emprego, à habitação, à liberdade de expressão e à segurança pessoal a que todos os outros cidadãos têm direito.

Mas isto não é suficiente para a corrente dominante do ativismo trans, que afirma que, a menos que a liberdade de expressão seja retirada aos dissidentes, a menos que os homens trans-identificados sejam autorizados a retirar os direitos das mulheres, com particular referência a espaços de sexo único como centros de crise de violação, celas de prisão, enfermarias de hospital, vestiários e casas de banho públicas, até que todos nos curvemos perante a sua neo-religião, aceitemos as suas afirmações pseudo-científicas e abracemos o seu raciocínio circular, as pessoas trans são mais oprimidas e correm mais riscos do que qualquer outro grupo na sociedade.

Isto é um disparate. 99,9% do mundo sabe que é um disparate. O imperador está nu. Pode estar a usar batom, mas as suas bolas estão à vista de todos.

 

No entanto, apesar de apelar para a realidade biológica e se contrapor aos disfóricos, a posição de Rowling se deve ao fato de ela ser adepta de um culto feminista puro que se sente ameaçado ou incomodado pela ideologia da disforia de gênero. Ela se posiciona corretamente, mas pelos motivos errados, fazendo a defesa das mulheres contra uma confusão que tem sido semeada no campo da esquerda, porém ainda assim ao lado dos antipatriarcais, dos que consideram homens intrinsecamente danosos à liberdade feminina.

O fato de permanecer na postura feminista, mas criticando os disfóricos LGBT, bastou para que a máquina propagandista de esquerda dedicasse alguma energia para análise e intimidação da escritora.  Em certa publicação com ar acadêmico facilmente encontrada em campos de busca, tratando da escritora e sua comunidade de seguidores, consta que “Os fãs e seguidores de Rowling nas redes sociais já haviam identificado que, desde 2019, ela vem apoiando  grupos  de  feministas  radicais  em  alegações  anti-trans  e  dando  declarações transfóbicas em suas publicações, o que incitou a conversação em rede sobre o tema” (https://www.revistageminis.ufscar.br/index.php/geminis/article/view/759/516)

Na concepção clássica, a sociedade opressiva ao sexo feminino modela os papéis que as mulheres devem desempenhar, o patriarcado enquanto entidade assegura o seu domínio sobre o corpo, mente e reprodução das mulheres. A introdução do elemento disfórico seria uma deturpação da leitura feminista da sociedade, causando confusão e prejudicando a tomada de decisões corretas na contraposição ao patriarcado, afinal de contas, muitos homens passam a ser tratados como se mulheres fossem.

O que parece ser um duelo entre a escritora, montada na razão biológica contra distúrbios psiquiátricos, na verdade é uma briga entre a pseudociência feminista contra a pseudociência dos disfóricos de gênero. Rowling não acompanhou as adaptações da esquerda em seu modelo de sabotagem à saúde mental das sociedades ocidentais e se prendeu a um modelo feminista já ultrapassado pela quebra de racionalidade promovida com a ideologia queer, nos termos colocados por Judith Butler.

A obra sobre Harry Potter trata de bruxaria, e a sua popularização tem causado interesse crescente sobre cultos pagãos, a exemplo da religião Wicca, a exploração desse tópico é uma das formas de sabotagem dos três pilares propostos por Gramsci da civilização ocidental. Relembremos: Direito Romano, filosofia grega e cristianismo (leia-se, Igreja Católica e sua tradição como pilar de toda a cristandade)

Na obra, Rowling associa homossexualismo como um traço do principal mago sábio e experiente que guia o protagonista. As preferências sexuais, que seriam algo completamente alheio e desnecessário em uma história de fantasia, são introduzidas como curiosidades picantes da história do personagem.

Magos brancos, aristocráticos e loiros posam de arrogantes contra o menino pobre escolhido para derrotar o senhor das trevas.

A colega do protagonista é uma garota estudiosa que tem o esforço ignorado no lugar da predestinação de Harry para ser o centro dos acontecimentos, então o mérito da mulher é um nada se comparado ao papel reservado ao garoto, predestinado como peça fundamental para os grandes eventos.

Potter é humilhado por uma família tradicional britânica, que o escraviza e reprime a sua tentativa de voltar às raízes da tradição pagã da bruxaria, são elementos do colégio que o libertam da família escravizadora e permitem que ele tenha acesso a toda educação proveniente da feitiçaria, exatamente como os centros universitários ideológicos fazem com os que ingressam neles, eles passam a dar embasamento ao ódio de núcleos familiares (correspondentes ao modelo da família burguesa). Talvez não por acaso, o garoto que no início parece ser um nerd tímido passa a demonstrar cada vez mais sinais de rebeldia, comportamentos impulsivos contra a hierarquia do colégio, ele precisa romper regras para que a história progrida e acabe salvando o dia.

A obra de Rowling, ao ilustrar a existência de uma subcultura feiticeira, aponta para uma sociedade secreta multifacetada, composta por diversos clãs que seguem uma tradição própria, apartada da população em geral. Todos os que dela participam se encontram em um patamar superior ao dos demais “trouxas”. Ou seja, o conhecimento secreto fornece as chaves do verdadeiro poder e possibilita o acesso a novas realidades, o colégio de Hogwarts abre as portas para várias doutrinas ocultas, para além das quais se situa ainda a magia negra.

Em certo momento da história a escola Hogwarts é tomada pelos inimigos, momento em que se implanta uma disciplina férrea, regulamentação extrema e proibição do acesso pelos bruxos ao verdadeiro conhecimento da feitiçaria, os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem, enquanto por baixo dos panos procuram reverter a situação com conspirações, aulas clandestinas e subterfúgios contra o regime totalitário implantado por Voldemort e seu grupo. Se antes a ruptura da disciplina era necessária, com maior razão passou a se apresentar como último recurso a favor dos alunos. Os personagens velhos, por mais lendários que sejam, são coadjuvantes, as grandes decisões devem ser tomadas pela juventude e são os seus atos que determinarão o desfecho da história.

Nessa obra ficcional de Rowling está ausente qualquer representação de valores tradicionais que fundamentariam o combate às ideologias difundidas na cultura musical, literária ou cinematográfica. Ao invés disso, confere-se propulsão ao desejo infantil de produzir bem estar com o mero balançar de uma varinha conjugado com as palavras corretas.

A jornada de trabalho é ruim? Basta uma lei para resolver, os estudos econômicos do impacto da redução da jornada de trabalho são irrelevantes. O salário está baixo? Uma lei ou decreto elevando o salário-mínimo resolve a situação. Se alguém é burro e com ego ferido por falta de titulações, basta colocá-lo numa universidade mediante cotas e, ao final, conceder-lhe um diploma. Fórmulas fáceis, que se chegue ao ponto de chamar um homem de mulher, isso está dentro da linha de desdobramento do método inaugurado pelos socialistas, que imaginando terem dobrado Deus e a religião, não vai ser a natureza o obstáculo às suas pretensões.

A respeito disso, escreveu Roger Scruton:

 

O aspecto mais interessante das histórias de Potter, falando antropologicamente, é que elas dependem de uma atmosfera bem "às antigas" e inglesa, embora evite quaisquer referências para nossas tradicionais crenças religiosas. Hogwarts é uma escola pública inglesa, com claustros e uniformes, com jogos, que lembram as antigas virtudes esportivas, e hierarquias, com jantares formais e discursos ritualísticos. É uma grande capela gótica, mas sem hinos nem orações. Mas como se mantêm essa atmosfera? A resposta é: pela mágica. E essa mágica é uma criação esplêndida de Rowling, que ocupa todo lugar que a religião ocuparia, enquanto realocando o conflito entre o bem e o mau do plano cósmico para o primeiro plano, da ação humana. O conflito é revelado em formas e rostos, em símbolos e trajes, nos contornos e nas sombras dessa assustadora instituição.

 

Mais adiante, tratando das diferenças fundamentais entre magia e religião, o filósofo

 

(...) a atmosfera criada por ela também nos lembra porque a religião e a mágica já estiveram na cabeça de loucos. A religião nos diz que não temos poder no mundo e devemos aprender a aceitar nossas limitações e reconhecer que nossa salvação depende em Deus, que nos salvará. Quando rezamos, não comandamos ao mundo que nos obedeça, muito pelo contrário, nós modestamente reconhecemos nossa falta de poder e pedimos que Deus intervenha em nosso nome. Orar é reconhecer nossa fraqueza e, ao mesmo tempo, a determinação em merecer a ajuda de Deus. Nesse sentido, orações são o exato oposto dos feitiços. Aquele que conjura um feitiço está assumindo seu poder sob a realidade; ele não precisa de Deus, porque ele é Deus, ele está assumindo os poderes do Criador e subjugando a vida e o mundo a sua vontade. Quando a alquimia foi condenada pela Igreja medieval, era como uma tentativa blasfema de usurpar o poder de Deus. Se posicionando contra a alquimia, a Igreja contribuiu consideravelmente para o avanço da ciência, forçou as pessoas a renunciarem seus desejos de controlar o mundo e as instigou a tentar entendê-lo. Experimentos científicos e a teorização se transformaram na verdadeira obediência religiosa.

 

Com uma chave compreensiva, complexa e profunda, “A religião é um dos papéis que nos distancia da magia primitiva, para encarar o mundo sabendo do fato que nós não o controlamos”.

Com base no panorama metafísico exposto, Rowling está longe da posição de nova adversária dos equívocos difundidos pela esquerda no mundo contemporâneo, situando-se antes na condição de dissidente, ainda partilhando do núcleo essencial esquerdista que gerou tanto o feminismo quanto o gayzismo. E sendo assim, não merece apoio dos antirrevolucionários numa questão que é, no final das contas, algo interno e que apenas expressa a dialética esquerdista com as constantes mutações que ela provoca no discurso socialista. Por tal razão, JK Rowling deve ser deixada para combater os seus próprios demônios enquanto ainda partilhar das premissas de seus adversários. 

SCRUTON, Roger. On Harry Potter. https://youtu.be/tHGNf6nWUm0. Harry Potter, Segundo Roger Scruton.     https://pt.scribd.com/document/374136087/Harry-Potter-segundo-Roger-Scrutton 

J.K. ROWLING E TRANSFOBIA: UMA ANÁLISE DAS DIMENSÕES DA COMPETÊNCIA MIDIÁTICA NO ATIVISMO FÃ NO TWITTER. https://www.revistageminis.ufscar.br/index.php/geminis/article/view/759/516 

https://x.com/jk_rowling/status/1765822003246768198 


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