Com a redemocratização do
Brasil após o regime militar, o fim do bipartidarismo levou à proliferação de
grupos que buscavam se consolidar como partidos políticos registrados no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),
fundado por Getúlio Vargas em 1945, ressurgiu em 1980, mas enfrentou uma
disputa pelo controle da sigla. De um lado, Ivete Vargas, sobrinha-neta de
Getúlio, apoiada por Golbery do Couto e Silva, figura influente do regime
militar; de outro, Leonel Brizola, que buscava alinhar o PTB ao trabalhismo
internacional, tentando trazer para si os louros do título de “herdeiro do
getulismo”, visando uma futura candidatura presidencial.
O TSE decidiu a favor
de Ivete Vargas, frustrando os planos da facção brizolista, que, em resposta,
fundou o Partido Democrático Trabalhista (PDT) em Lisboa, ao lado do comunista
Mário Soares, líder do Partido Socialista Português, mas que naquela ocasião
estava representando a internacional socialista no encontro. Por isso afirma-se
que “Foi através das relações
estabelecidas no âmbito da esquerda internacional que Brizola encontrou na sede
do PS, em 1979, espaço para a reorganização do trabalhismo, com apoio do
primeiro-ministro português”[1].
Logo, o PDT nasceu sob
os auspícios da internacional socialista, sendo naquelas circunstâncias estabelecidas
as bases do programa partidário que iriam definir o DNA não só dos brizolistas,
como de seus sucessores que orbitassem em torno do partido.
Aqui cumpre traçar um
parêntesis para mencionar a programação feminista do PDT, conforme dito na carta
de Lisboa, documento apelidado de certidão de nascimento do partido, o qual se
manifesta no sentido da “atenção às
reivindicações da mulher brasileira, que jamais viu reconhecidos e equiparados
seus direitos de pessoa humana, de cidadã e de trabalhadora; e que, além de ser
vítima da exploração representada pela dupla jornada de trabalho, se vê
submetida a toda sorte de vexames sempre que procura fazer valer seus direitos”[2].
Após lograr a fundação
e registro do PDT, Brizola venceu as eleições para governador do Rio de Janeiro
em 1982 e estabeleceu uma série de mecanismos pró-banditismo. Ele foi um dos
primeiros agentes políticos a articular a segurança pública com as facções,
enfatizando a necessidade de uma abordagem leniente, se não complacente, para
com as lideranças do narcotráfico. Esta seria a marca característica da nova
República nascente, e dos movimentos socialistas em particular, praticamente
todo vagabundo, comunista ou simpatizante tem boas palavras a dizer sobre
Leonel de Moura Brizola.
Era a época de expansão
de facções como o Comando Vermelho, denominado na época de
Falange Vermelha. Enquanto ocupava o cargo de governador, Brizola
constantemente sabotava o trabalho da polícia do Estado na repressão ao crime,
proibindo operações e exigindo o atendimento de supostos padrões humanitários,
sob pena de sanções disciplinares dos agentes de segurança pública.
Segundo Carlos Amorim,
Brizola
“Anunciou uma política de
preservação dos direitos humanos, numa cidade onde os grupos de extermínio agem
abertamente. Colocou na Secretaria de Justiça um ex-perseguido político e
companheiro de partido, Vivaldo Barbosa. É nesse ponto que a volta do gaúcho vai
influir no desenvolvimento da organização criminosa mais importante da história
do país”. “Com razão, Brizola proíbe a polícia de subir as favelas sem um
motivo bem visível. O método de "meter o pé na porta do barraco fica
banido. O governador faz valer a inviolabilidade do domicílio - ainda que seja
o domicílio pobre. Obriga as forças da lei a cumprir mandados de busca e dá a
todos os detidos o direito de se comunicar com um advogado e usar o telefone da
polícia para fazer uma - apenas uma - ligação pessoal. Com essa simples medida,
os presos podem avisar às famílias o que está acontecendo. E isto visa
explicitamente a evitar que ocorram torturas e desaparecimentos. Brizola chega
a nomear um ex-preso político da Ilha Grande, José Carlos Tórtima, diretor de
presídio. O crime organizado explorou com habilidade cada uma dessas
demonstrações de civilidade do governo estadual”.
“Os limites impostos à ação
policial nos morros da cidade permitiram o enraizamento das quadrilhas. A
violência entre os grupos que disputam pontos de venda de drogas ocorre debaixo
do pano. Fica a impressão de que não há ameaças abertas à segurança pública.
Como sabemos, o tráfico de drogas e as grandes quadrilhas do roubo armado
querem exatamente isso. A paz no morro é sinônimo de estabilidade nos negócios”[3].
Em direção
diametralmente oposta caminharia o Governo de Wellington Moreira Franco. A
prática esquerdista de mascarar a proteção da bandidagem com invólucro de
proteção aos direitos humanos precede a blindagem feita por Edson Fachin à
criminalidade do Rio de Janeiro. O Governo Moreira Franco sofreu essas mesmas acusações,
foi durante sua gestão que se realizou uma das operações históricas da segurança
pública brasileira: a operação mosaico, visando cortar os laços do Cartel de
Medellin com o Comando Vermelho.
A proibição de operações
contra criminosos é uma mecânica sempre à disposição dos esquerdistas que,
ocupando o Executivo, utilizam decretos, instruções normativas e processos
administrativos disciplinares; caso passem a ocupar o judiciário, fazem-no com
o uso de sentenças e acórdãos. A classificação de grupos de extermínio ou
formação de milícias foi usada para criminalizar o combate efetivo às facções e
grupos correlatos.
Após o governo Franco,
uma nova gestão Brizola, a partir de 1991, reverteu as políticas de combate à
criminalidade, restaurando o tratamento relaxado com relação às facções do Rio,
que puderam se expandir com mais facilidade, havendo um apaziguamento do clima
nos presídios, uma vez que os faccionados avaliaram a situação como favorável:
Os líderes do crime organizado
estão, mais uma vez, trabalhando em cooperação com a Pastoral Penal. Não há
violência nas cadeias. Os grande seqüestros pararam repentinamente. Por outro
lado, o governo do estado determina mudanças no comando da Polícia Militar,
deixa as favelas em paz. Chega de operações ilegais e invasões dos morros. Até
os helicópteros da polícia são proibidos de voar sobre os barracos, "para
não colocar em risco a vida de cidadãos inocentes". Isso o governador Leonel
Brizola disse numa entrevista na rádio Jornal do Brasil. Ares de trégua[4].
O herdeiro político de
Brizola, por sua vez, é Ciro Gomes. A disputa de Gomes com os demais setores da
esquerda remonta a briga pela hegemonia que Brizola travava com o Partido dos
Trabalhadores enquanto ainda era vivo, mas sempre apoiando Luis Inácio nos
momentos críticos. Gomes segue o carma de seu padrinho político, sempre sendo
chutado de canto, sendo enganado por outros, mas nunca tendo chances efetivas
de ganhar o poder e com isso satisfazer as suas ambições.
O Partido Democrático
Trabalhista integra tanto a Internacional Socialista quanto o Foro de São
Paulo, ou seja, é um partido internacionalista ao quadrado[5], o
símbolo desse partido é o mesmo da internacional, um punho fechado segurando
uma rosa vermelha. Portanto, os pedetistas em nada se relacionam ao
nacionalismo varguista do século passado, constituindo braço autônomo do
movimento revolucionário internacional, compartilhando de suas agendas e do complexo
de alianças naturais em sua execução. O Partido Comunista da China tinha
apostado em Ciro Gomes como cavalo corredor nas eleições de 2018, fracassou, mas
isso não constituiu impeditivo para a aliança natural entre o PCCh e o PT.
A trajetória de Leonel
Brizola traz importantes balizas para a compreensão do fenômeno do
pseudonacionalismo. Embora tenha recebido dinheiro de Fidel Castro para
realizar a guerrilha socialista, não conseguiu estabelecer uma oposição forte
ao regime vigente naquela época. Fugindo para o exterior, utilizou uma rede
internacional de apoio para retornar ao cenário brasileiro com prestígio
durante a abertura política, estabelecendo relações com outros anistiados que,
alegando interesse na disputa eleitoral democrática, tramavam para capturar
instituições e poderes da República, a fim de obter o fechamento político de
seu agrado, conforme os modelos de Cuba e Venezuela.
REFERÊNCIAS
AMORIM,
Carlos. Comando Vermelho: A História Secreta do Crime Organizado. P. 75 –
versão digital
GOLBERY tira de Brizola a sigla PTB.
Memorial da Democracia. Disponível em: https://memorialdademocracia.com.br/card/golbery-tira-de-brizola-a-sigla-ptb.
Acesso em: 4 ago. 2025.
História.
PDT Paraná. Disponível em: https://pdtparana.org.br/historia/. Acesso em: 4 ago. 2025.
História do PDT.
PDT Nacional. Disponível em: https://pdt.org.br/index.php/o-pdt/historia/.
Acesso em: 4 ago. 2025.
História do PDT: você conhece o partido
de Brizola? Politize. Disponível em: https://www.politize.com.br/pdt/.
Acesso em: 4 ago. 2025.
MARQUES, Teresa Cristina Schneider;
GONÇALVES, Leandro Pereira. A fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT)
no exílio. Civitas - Revista de Ciências Sociais, v. 20, n. 3, p.
408-427, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/civitas/a/DbTLqN7X9FTq58spQCK9npx/?format=pdf.
Acesso em: 4 ago. 2025.
Partido Democrático Trabalhista.
Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Democr%C3%A1tico_Trabalhista.
Acesso em: 4 ago. 2025.
PDT e Partido Comunista da China debatem
candidatura de Ciro e fortalecem parceria. PDT Nacional.
Disponível em: https://pdt.org.br/index.php/pdt-e-partido-comunista-da-china-fortalecem-parceria-e-discutem-candidatura-de-ciro/.
Acesso em: 4 ago. 2025.
Uma breve história do PTB.
Fundação Getulio Vargas (FGV). Disponível em: https://repositorio.fgv.br/server/api/core/bitstreams/2ed42f66-10d2-4c9b-8e49-38d21e3f41a2/content.
Acesso em: 4 ago. 2025.
Carta de Lisboa: o prestígio de Brizola
e a gênese socialista do PDT. PDT Nacional.
Disponível em: https://pdt.org.br/index.php/carta-de-lisboa-o-prestigio-de-brizola-e-a-genese-socialista-do-pdt/.
Acesso em: 4 ago. 2025.
[1] A fundação do Partido Democrático
Trabalhista (PDT) no exílio. P. 408.
[2]Carta de Lisboa: o prestígio de Brizola e a
gênese socialista do PDT. https://pdt.org.br/index.php/carta-de-lisboa-o-prestigio-de-brizola-e-a-genese-socialista-do-pdt/
[3] AMORIM,
Carlos. Comando Vermelho A História
Secreta do Crime Organizado. P. 75 - digital
[4] Idem.
P. 126
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