terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O anticomunismo nazola é uma fraude

 


“Alguns chamam de comunismo, eu chamo de judaísmo”. Com essa sentença, os nazolas pretendem passar a impressão de que o seu combate ao comunismo é tão sincero e certeiro que eles estariam indo direto na raiz do problema, passando por cima dos conservadores direitistas, que apenas tangenciariam o tema, impedindo que os outros tomem conhecimento dos verdadeiros responsáveis pelo fenômeno político que denunciam. Ocorre que o anticomunismo dos nazolas é um truque retórico, chegando a situações paradoxais como a situação a seguir demonstrada, que não é senão uma amostra, repetida em praticamente todos os entusiastas dos regimes do eixo, perdedores da Segunda Guerra mundial.

Francis Parker Yockey foi autor de um livro voltado à reintrodução da ideologia nacional-socialista no cenário ocidental, ele chamou o seu escrito de “o primeiro golpe na gigantesca guerra pela libertação da Europa[1]. Após ter participado dos julgamentos de Nuremberg auxiliando a acusação, Yockey virou a casaca e se tornou um antiamericano inveterado, adotando as posições ideológicas dos réus, como uma estagiária que se apaixona pelo delinquente do presídio ao qual ela deveria apenas fornecer ajuda jurídica, social ou psiquiátrica (foi uma espécie de Arlequína nazola).

Ele encara a derrota do Terceiro Reich como um desastre para a civilização ocidental, tendo que recalcular a situação mundial a partir da nova polarização entre Estados Unidos e União Soviética, apresentando uma alternativa ao homem branco escravizado por “grupos parasitas culturais”.

Quem são os verdadeiros inimigos? Ele aponta o tal do sionismo, identificando os Estados Unidos da América como o poder sionista que articulou pela guerra e que, portanto, precisa ser desafiado por um império ressurgente nas mesmas bases do regime derrotado. As culturas nascem e morrem, mas ele faz uma exceção e trata a cultura do regime derrotado, e suas concepções ideológicas, como algo que pudesse ser revivido. O antiamericanismo cumprirá papel importante nessa empreitada. 

Ora, se os Estados Unidos representam a base operacional do poder sionista, como resolver essa situação? É aqui que o “anticomunismo” nazola é revelado em todo o seu esplendor, pois Parker Yockey advoga uma aliança com a União Soviética para combater o seu próprio país. Os nacional-socialistas remanescentes deveriam se unir com os comunistas e esquerdistas em geral para, juntos, formarem uma mistura marrom e vermelha, cuja convergência resultaria na neutralização dos EUA, principal ponto de apoio daquilo que ele acredita ser a conspiração principal.

Como confeccionar uma justificativa para dizer que não tem problema algum apoiar a União Soviética? Descredibilizando o potencial de massacre e conquista da Rússia contra as nações europeias e fazendo uma cisão analítica entre o regime da URSS e uma Rússia profunda, que repele tudo que seja ocidental e que, portanto, seria útil de ser mobilizada.

Ora, existe um Brasil de Brasília e um Brasil profundo; um Estados Unidos de Washington e outro Estados Unidos profundo; uma França de Paris, outra França profunda, e por aí vai, todos os regimes políticos, a máquina administrativa por eles dominada, se desenvolvem com certa autonomia do povo que representam. Por que apenas a bipartição entre regime e povo seria levado em consideração no caso soviético? Porque no caso do povo norte-americano, alicerçado numa cultura federalista, de liberdades civis, constitucionalismo sólido e profunda influência bíblica, Yockey não encontraria bases para o socialismo que ele desejava.

Com a queda da Alemanha nacional-socialista e da Itália de Mussolini, os socialistas que não eram internacionalistas ficaram órfãos. Num mundo sem a disputa entre modelos socialistas nacionais e internacionais, o revolucionário irá apoiar a corrente hegemônica que existir. Se houver uma opção entre os regimes do eixo e da internacional, melhor para ele, optará por um dos dois, mas havendo apenas um deles, como no caso da URSS e seus parceiros, não faz mal, será a escolhida.

O caso do movimento dos países não alinhados é ilustrativo, muitos deles dirigidos por líderes socialistas, portanto alinhados aos soviéticos e chineses, como no caso do socialismo árabe de Gamal Abdel Nasser.

Estudos mais recentes mencionam existir uma similaridade nos perfis tidos por extrema-direita (assim tachados pelos meios comuns) e os outros de extrema-esquerda. Segundo essas investigações:

 

(...) pessoas com opiniões políticas extremas que favorecem o autoritarismo, estejam elas na extrema esquerda ou extrema direita, têm comportamentos e características psicológicas surpreendentemente semelhantes (...) Thomas Costello, doutorando em Psicologia em Emory e primeiro autor do estudo, disse o seguinte: “Nós descobrimos que a ideologia se torna secundária. Psicologicamente falando, você é um autoritário primeiro, e um ideólogo apenas na medida em que isso serve à estrutura de poder que você apoia.”[2]

 

Yockey serve de amostra, considerando que as mesmas tensões vivenciadas por ele, no século XX, retornam aos socialistas do século XXI e com os mesmos resultados: o de advogar uma aliança com as potências comunistas antiocidentais, embora com novas roupagens.

Porém, a cara de pau de Yockey é maior, porque ele não precisou esperar que os comunistas mudassem as suas fachadas para se posicionar favoravelmente a eles, bastou demonstrar um arremedo de pragmatismo antijudaico e o truque estava feito. Encontraremos nas várias correntes socialistas, quase sempre, um componente antijudaico, de maneira que o antissemitismo costumeiramente resulta em socialismo, mesmo os judeus socialistas se dizem eles próprios antissionistas (uma palavra-chave criada para justificar o combate ativo aos judeus politicamente organizados).  

Yockey faz uma entusiástica defesa do socialismo em sua obra, apontando o Marxismo como desvio, mais próximo da religião do que propriamente do socialismo. Ele afirma que:

 

“o Marxismo difere do Socialismo por ser uma religião, ao passo que o Socialismo é um princípio organizatório-político instintivo. O Marxismo tinha sua bíblia, seus santos, seus apóstolos, seus tribunais de heresia, ortodoxia e heterodoxia, seus dogmas e exegeses, escritos sagrados e cismas. O Socialismo dispensa tudo isso; ele se interessa em obter a cooperação de homens com os mesmos instintos. A ideologia tem até agora pouca importância para o Socialismo, e nas próximas décadas terá cada vez menos”[3].

 

A Revolução encerra em si própria um processo contínuo que envolve a contraposição às correntes antecessoras às novas propostas do momento. Marx atacou os socialistas antecedentes como utópicos, como se fossem trouxas que apenas sonhavam, em contraste com o seu socialismo científico. As correntes anteriores, ao mesmo tempo em que são justificadas e defendidas, são também condenadas pelos socialistas das novas escolas, que se apresentam na condição de renovadores e portadores de uma corrente mais afinada com a ortodoxia verdadeiramente revolucionária. Com o período do terror, os revolucionários franceses fizeram avanços contra seus adversários; os bolcheviques estruturaram a tcheka e se puseram a caçar opositores, esquerdistas inclusive; posteriormente Stálin manda assassinar Trótsky, Kruschev denuncia Stálin, o maoísmo surge como nova estrela, aparentando opor-se à URSS, e por aí vai...

Todas as subcorrentes do grande movimento socialista estão sempre se denunciando, nos mostrando que a antagonização do marxismo feita por Yockey não é episódio novo, principalmente pela forte acusação de que o marxismo não representaria uma pureza ortodoxa. Portanto, ao mesmo tempo em que Yockey acusa o marxismo de promover tribunais de heresia, ele próprio elabora uma condenação do marxismo como herética ao verdadeiro socialismo que ele, Francis Yockey, quer resgatar em seu livro.

Corrêa de Oliveira destaca o caráter dominante desse tipo de crise, considerando a revolução “uma rainha a que todas as forças do caos servem como instrumentos eficientes e dóceis”[4].

Então, para Parker Yockey, apesar de dominada pelos soviéticos, a Rússia deveria ser apoiada pelos nacional-socialistas, como etapa estratégica a fim de eliminar os regimes ocidentais, parasitado por seus inimigos internos. Disse se conclui que, a fórmula do anticomunismo nazola consiste em apoiar o comunismo para poder combater os comunistas.

Em suma, o anticomunismo do nacional-socialismo é uma grande fraude e sempre que nos depararmos com a teoria de que o comunismo seria um produto essencialmente judaico, apresentada como pílula vermelha, trata-se na verdade de um placebo, uma pílula de farinha. Com a reformulação da propaganda estalinista, apresentando um regime no qual a influência judaica tenha sido “expurgada”, o nazola apoiará a URSS; em se tratando da China do PCCh, se Pequim estiver retratada como algo que se desgarrou da influência do capital ocidental, ela será apoiada; se a Rússia, administrada por quadros oligárquicos existentes desde a era soviética, for apresentada como responsável por uma cruzada antissionista, ela será apoiada.

Alguns chamam de comunismo, eu chamo de judaísmo”, trata-se de sentença que deve ser reformulada para: “alguns chamam de anticomunismo, eu chamo de antijudaísmo puro e simples”, uma vez que nunca houve verdadeiramente nenhum tipo de incômodo com o comunismo ou socialismo em si.



[1] LEE, Martin. A. The Beast Reawakens : Fascism's Resurgence From Hitler's Spymasters to Today's Neo-Nazi Groups and Right-Wing Extremists. P. 94.

[2]Friends & Enemies (08/25/24) Leftwing authoritarianism. https://youtu.be/UzdCyqawwwk?si=jVRrtzBbs_0oa8tS

[3] YOCKEY, Francis Parker. Imperium. P. 64 – tradução livre.

[4] OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Revolução e Contrarrevolução. P. 4.

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