“Alguns chamam de
comunismo, eu chamo de judaísmo”. Com essa sentença, os nazolas pretendem
passar a impressão de que o seu combate ao comunismo é tão sincero e certeiro
que eles estariam indo direto na raiz do problema, passando por cima dos
conservadores direitistas, que apenas tangenciariam o tema, impedindo que os
outros tomem conhecimento dos verdadeiros responsáveis pelo fenômeno político
que denunciam. Ocorre que o anticomunismo dos nazolas é um truque retórico,
chegando a situações paradoxais como a situação a seguir demonstrada, que não é
senão uma amostra, repetida em praticamente todos os entusiastas dos regimes do
eixo, perdedores da Segunda Guerra mundial.
Francis Parker Yockey foi
autor de um livro voltado à reintrodução da ideologia nacional-socialista no cenário
ocidental, ele chamou o seu escrito de “o
primeiro golpe na gigantesca guerra pela libertação da Europa”[1]. Após
ter participado dos julgamentos de Nuremberg auxiliando a acusação, Yockey
virou a casaca e se tornou um antiamericano inveterado, adotando as posições
ideológicas dos réus, como uma estagiária que se apaixona pelo delinquente do
presídio ao qual ela deveria apenas fornecer ajuda jurídica, social ou
psiquiátrica (foi uma espécie de Arlequína nazola).
Ele encara a derrota do
Terceiro Reich como um desastre para a civilização ocidental, tendo que
recalcular a situação mundial a partir da nova polarização entre Estados Unidos
e União Soviética, apresentando uma alternativa ao homem branco escravizado por
“grupos parasitas culturais”.
Quem são os verdadeiros
inimigos? Ele aponta o tal do sionismo, identificando os Estados Unidos da
América como o poder sionista que articulou pela guerra e que, portanto,
precisa ser desafiado por um império ressurgente nas mesmas bases do regime derrotado.
As culturas nascem e morrem, mas ele faz uma exceção e trata a cultura do
regime derrotado, e suas concepções ideológicas, como algo que pudesse ser
revivido. O antiamericanismo cumprirá papel importante nessa empreitada.
Ora, se os Estados
Unidos representam a base operacional do poder sionista, como resolver essa
situação? É aqui que o “anticomunismo” nazola é revelado em todo o seu
esplendor, pois Parker Yockey advoga uma aliança com a União Soviética para
combater o seu próprio país. Os nacional-socialistas remanescentes deveriam se
unir com os comunistas e esquerdistas em geral para, juntos, formarem uma
mistura marrom e vermelha, cuja convergência resultaria na neutralização dos
EUA, principal ponto de apoio daquilo que ele acredita ser a conspiração
principal.
Como confeccionar uma
justificativa para dizer que não tem problema algum apoiar a União Soviética? Descredibilizando
o potencial de massacre e conquista da Rússia contra as nações europeias e
fazendo uma cisão analítica entre o regime da URSS e uma Rússia profunda, que
repele tudo que seja ocidental e que, portanto, seria útil de ser mobilizada.
Ora, existe um Brasil
de Brasília e um Brasil profundo; um Estados Unidos de Washington e outro
Estados Unidos profundo; uma França de Paris, outra França profunda, e por aí
vai, todos os regimes políticos, a máquina administrativa por eles dominada, se
desenvolvem com certa autonomia do povo que representam. Por que apenas a
bipartição entre regime e povo seria levado em consideração no caso soviético?
Porque no caso do povo norte-americano, alicerçado numa cultura federalista, de
liberdades civis, constitucionalismo sólido e profunda influência bíblica,
Yockey não encontraria bases para o socialismo que ele desejava.
Com a queda da Alemanha
nacional-socialista e da Itália de Mussolini, os socialistas que não eram
internacionalistas ficaram órfãos. Num mundo sem a disputa entre modelos
socialistas nacionais e internacionais, o revolucionário irá apoiar a corrente
hegemônica que existir. Se houver uma opção entre os regimes do eixo e da
internacional, melhor para ele, optará por um dos dois, mas havendo apenas um
deles, como no caso da URSS e seus parceiros, não faz mal, será a escolhida.
O caso do movimento dos
países não alinhados é ilustrativo, muitos deles dirigidos por líderes socialistas,
portanto alinhados aos soviéticos e chineses, como no caso do socialismo árabe
de Gamal Abdel Nasser.
Estudos mais recentes mencionam
existir uma similaridade nos perfis tidos por extrema-direita (assim tachados
pelos meios comuns) e os outros de extrema-esquerda. Segundo essas
investigações:
(...) pessoas com opiniões
políticas extremas que favorecem o autoritarismo, estejam elas na extrema
esquerda ou extrema direita, têm comportamentos e características psicológicas
surpreendentemente semelhantes (...) Thomas Costello, doutorando em Psicologia
em Emory e primeiro autor do estudo, disse o seguinte: “Nós descobrimos que a ideologia se torna secundária.
Psicologicamente falando, você é um autoritário primeiro, e um ideólogo apenas
na medida em que isso serve à estrutura de poder que você apoia.”[2]
Yockey serve de amostra,
considerando que as mesmas tensões vivenciadas por ele, no século XX, retornam
aos socialistas do século XXI e com os mesmos resultados: o de advogar uma
aliança com as potências comunistas antiocidentais, embora com novas roupagens.
Porém, a cara de pau de
Yockey é maior, porque ele não precisou esperar que os comunistas mudassem as
suas fachadas para se posicionar favoravelmente a eles, bastou demonstrar um
arremedo de pragmatismo antijudaico e o truque estava feito. Encontraremos nas
várias correntes socialistas, quase sempre, um componente antijudaico, de maneira
que o antissemitismo costumeiramente resulta em socialismo, mesmo os judeus socialistas
se dizem eles próprios antissionistas (uma palavra-chave criada para justificar
o combate ativo aos judeus politicamente organizados).
Yockey faz uma
entusiástica defesa do socialismo em sua obra, apontando o Marxismo como desvio,
mais próximo da religião do que propriamente do socialismo. Ele afirma que:
“o Marxismo difere do Socialismo
por ser uma religião, ao passo que o Socialismo é um princípio
organizatório-político instintivo. O Marxismo tinha sua bíblia, seus santos,
seus apóstolos, seus tribunais de heresia, ortodoxia e heterodoxia, seus dogmas
e exegeses, escritos sagrados e cismas. O Socialismo dispensa tudo isso; ele se
interessa em obter a cooperação de homens com os mesmos instintos. A ideologia
tem até agora pouca importância para o Socialismo, e nas próximas décadas terá
cada vez menos”[3].
A Revolução encerra em
si própria um processo contínuo que envolve a contraposição às correntes antecessoras
às novas propostas do momento. Marx atacou os socialistas antecedentes como utópicos,
como se fossem trouxas que apenas sonhavam, em contraste com o seu socialismo
científico. As correntes anteriores, ao mesmo tempo em que são justificadas e
defendidas, são também condenadas pelos socialistas das novas escolas, que se
apresentam na condição de renovadores e portadores de uma corrente mais afinada
com a ortodoxia verdadeiramente revolucionária. Com o período do terror, os revolucionários
franceses fizeram avanços contra seus adversários; os bolcheviques estruturaram
a tcheka e se puseram a caçar opositores, esquerdistas inclusive;
posteriormente Stálin manda assassinar Trótsky, Kruschev denuncia Stálin, o
maoísmo surge como nova estrela, aparentando opor-se à URSS, e por aí vai...
Todas as subcorrentes
do grande movimento socialista estão sempre se denunciando, nos mostrando que a
antagonização do marxismo feita por Yockey não é episódio novo, principalmente
pela forte acusação de que o marxismo não representaria uma pureza ortodoxa.
Portanto, ao mesmo tempo em que Yockey acusa o marxismo de promover tribunais
de heresia, ele próprio elabora uma condenação do marxismo como herética ao
verdadeiro socialismo que ele, Francis Yockey, quer resgatar em seu livro.
Corrêa de Oliveira
destaca o caráter dominante desse tipo de crise, considerando a revolução “uma
rainha a que todas as forças do caos servem como instrumentos eficientes e
dóceis”[4].
Então, para Parker
Yockey, apesar de dominada pelos soviéticos, a Rússia deveria ser apoiada pelos
nacional-socialistas, como etapa estratégica a fim de eliminar os regimes
ocidentais, parasitado por seus inimigos internos. Disse se conclui que, a
fórmula do anticomunismo nazola consiste em apoiar o comunismo para poder
combater os comunistas.
Em suma, o
anticomunismo do nacional-socialismo é uma grande fraude e sempre que nos
depararmos com a teoria de que o comunismo seria um produto essencialmente
judaico, apresentada como pílula vermelha, trata-se na verdade de um placebo,
uma pílula de farinha. Com a reformulação da propaganda estalinista, apresentando
um regime no qual a influência judaica tenha sido “expurgada”, o nazola apoiará
a URSS; em se tratando da China do PCCh, se Pequim estiver retratada como algo
que se desgarrou da influência do capital ocidental, ela será apoiada; se a
Rússia, administrada por quadros oligárquicos existentes desde a era soviética,
for apresentada como responsável por uma cruzada antissionista, ela será
apoiada.
“Alguns chamam de comunismo, eu chamo de judaísmo”, trata-se de
sentença que deve ser reformulada para: “alguns
chamam de anticomunismo, eu chamo de antijudaísmo puro e simples”, uma vez
que nunca houve verdadeiramente nenhum tipo de incômodo com o comunismo ou
socialismo em si.
[1]
LEE, Martin. A. The Beast Reawakens :
Fascism's Resurgence From Hitler's Spymasters to Today's Neo-Nazi Groups and
Right-Wing Extremists. P. 94.
[2]Friends
& Enemies (08/25/24) Leftwing authoritarianism. https://youtu.be/UzdCyqawwwk?si=jVRrtzBbs_0oa8tS
[3]
YOCKEY, Francis Parker. Imperium. P. 64 – tradução livre.
[4]
OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Revolução e
Contrarrevolução. P. 4.
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