As pretensas refutações
ao discurso da pílula vermelha costumam ser marcadas pela falta de embasamento.
Em geral, os círculos conservadores que começam a falar sobre a pílula vermelha
assentam as suas bases no mesmo material levado ao público em geral: a mídia. Aquilo
que ela escolhe dar visibilidade torna-se, assim, o ponto de partida da
discussão, viciando o debate desde o início.
Consequentemente, não
se pode dizer que houve pesquisa ou estudo sério nesse tipo de abordagem, feita
com base numa impressão geral a partir de postagens aleatórias com o termo
redpill indexado.
Uma comparação simples,
que resume boa parte das manifestações contrárias aos masculinistas é a do
sujeito que, diante de alguém que aponta o dedo para a lua, fica olhando o dedo
e não o objeto indicado. Os comentaristas que não participam do movimento
feminista e procuram uma forma de rechaçar igualmente o polo que lhe é oposto
estão na mesma condição do sujeito que mantém o olhar fixo no dedo e ignora a
lua.
No chat ao vivo houve
um comentário destacando a superficialidade com que o tema estava sendo
tratado, e essa constatação estava correta. É o caso de se perguntar o porquê
de as abordagens sobre os masculinistas serem tão raquíticas quando provindas
de outros homens que, embora não sejam feministas, não conseguiram captar o
fenômeno do feminismo em sua real dimensão. Em discussões como essas, praticamente
a unanimidade descamba para a autoajuda.
A pílula vermelha não é
uma discussão para coaches, que tratam os problemas apresentados como conflitos
internos que precisam ser solucionados com ajuda de terapia e truques de
superação de timidez. Aliás, esses expedientes existem às pencas e já foram
fornecidos aos homens pelos ditos “artistas
de sedução”, portanto o material de coaching e autoajuda, a nível
psicológico e interpessoal, já existia em fóruns, livros e artigos
masculinistas antes mesmo que qualquer rebatedor anti-pílula abrisse a boca
para tratar do tema.
A pílula vermelha
comporta discussões sob diversas perspectivas, com materiais e manifestações de
teor sentimental, familiar, jurídico-político ou ideológico
e social.
A bibliografia de
Nessahan Alita foi primorosa menos por apresentar meios de proteção sentimental
do que por destacar a existência de um profano feminino. Nota-se que mesmo os
grupos que enfatizam a questão da solteirice pegam de empréstimo a literatura
de Alita, que na verdade seria mais um material de Pick Up Artist, já que
apresenta formas de lidar com as mulheres e controlar os próprios sentimentos,
o que seria estranho para quem propõe o afastamento puro e simples de relações.
A ideia de profano
feminino é diretamente contrária à blindagem feita pelos críticos da pílula
vermelha, que ingressam na discussão para ocultar e isentar a figura da mulher,
construindo a imagem falsa de que todo o problema atual se resuma a uma “crise
masculina”, o que está longe de ser o retrato fidedigno da crise enfrentada e,
se de fato há crise masculina significativa, os responsáveis são os homens que
acobertam os fatores ativamente denunciados pelos homens contrários à erosão
dos relacionamentos e que recorreram ao boicote ou precauções seguindo o que a
prudência recomenda.
A seguir estão delineados
cinco pontos centrais que acompanham as abordagens falhas, costumeiramente
utilizadas para o assunto da pílula vermelha, sendo as maiores vulnerabilidades
presentes no discurso dos críticos:
1)
Dissolver a questão específica num poço de generalidades
– O ponto falacioso se manifesta no seguinte tom: o feminismo, suas armas
institucionais e a recusa da mulher em cumprir o seu papel ou não constituem um
problema ou, no máximo, são adversidades gerais da vida que podem ser
contornadas. Exemplo: o feminismo é ruim, a sociedade está ruim, mas o mundo é
ruim, siga em frente (não sistematize nem mapeie o foco do problema, os fatos
sociais, institutos, os sistemas ideológicos impositivos e seus agentes).
A ideia é negar a crise
antropológica dos sexos ou enquadrá-la como algo natural da vida e não uma catástrofe
muito específica, intencionalmente fabricada nas últimas décadas, que alterou o
quadro das relações intersexuais de uma maneira sem precedentes e que,
portanto, deve comportar uma análise individualizada, profunda e, se possível,
com a apresentação de propostas eficazes de contraposição ao fenômeno. Ao invés
disso, as causas remotas ou diretas dessa crise são excluídas e o enfoque se
concentra em suas consequências remotas, consistentes na modificação do
comportamento masculino.
Para abordar o assunto
específico do feminismo, é preciso saber não só que ele existe, mas que continua
ativo e vivo, que promoveu transformações e continua operando em sociedade, sendo
um fenômeno objetivamente constatável e independente do estado anímico do
observador. Quando a questão do feminismo vem à tona, é de se esperar que
aquele que irá abordá-la não passará para uma questão da humanidade, da
sociedade ou do alinhamento do cosmos, mas se centrará nos fatores relevantes
para a compreensão do feminismo. Não obstante, os coaches tentam compensar a
falta de embasamento com a desnaturação da questão, pois, tornado o assunto
genérico, já não se colocam na posição desconfortável de ter que abordar
tópicos para os quais não têm gabarito, nem interesse verdadeiro.
2)
Uso da moral religiosa num nível retórico, não analítico.
– os comentaristas também apelam para a esfera religiosa numa tentativa de
demover os homens de avaliarem a própria situação e a das fêmeas. A retórica
tem uma função apelativa, mas como já dissemos linhas anteriores, o fenômeno do
feminismo exige um tratamento de outra natureza, ele é algo que se submete a
análises sociológicas, políticas e culturais, mais do que uma questão teórica,
o feminismo gerou problemas práticos e entraves que explicam o desarranjo atual.
Alguns encaram a religião como produto da cultura e outros a tomam como fonte
da própria cultura, qualquer que seja a visão adotada, os conceitos religiosos
utilizados não podem ser palavras vazias, devemos nos perguntar de que maneira
o falante trata o termo religião.
Se se referem à
salvação das almas, encontraremos nos dez mandamentos[1] o
seguinte: 1) Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz tirei da terra do Egito dessa
da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de Mim; 2) Não invocarás
em vão o Nome do Senhor teu Deus; 3) Guarda o dia do sábado santificando-o; 4)
Honra teu pai e tua mãe; 5) Não matarás; 6) Não cometerás adultério; 7) Não
roubarás; 8) Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo; 9) Não desejarás
a mulher do teu próximo; 10) Não cobiçarás nada que pertença ao teu próximo.
Entre esses diversos
comandos, nota-se uma maior preocupação com a castidade do que propriamente com
a formação de família, considerando as relações matrimoniais existentes na
sociedade, o cumpridor dos mandamentos deve se abster de prejudicar as relações
dos outros. O apanhado de versículos de que se munem os apologistas apenas se
prestaria para censurar o caso de cafajestes que se utilizam da pílula vermelha
como justificativa para manter redes de relações sexuais com várias mulheres,
usando a promiscuidade feminina para justificar a própria, encontrando na
guerra geral feita contra os homens um ponto de apoio para aliviar a barra dos
seus próprios vícios, que existiriam fosse qual fosse a situação do entrechoque
de sexos na sociedade. A pílula vermelha não se presta a limpar a barra de
modelos masculinos deformados, tampouco é acusada de fazê-lo, já que os
difamadores muitas vezes se utilizam do shamming da virgindade, acusando os
adeptos da redpill de não manterem contatos femininos, isto é, de não serem
cafas.
Nesse momento, já se
percebe que os principais pontos levantados pelos masculinistas sequer são
abordados; quando muito tangenciados e logo em seguida esquecidos como detalhes.
Avançando a querela religiosa, se desejam utilizá-la como suporte para analisar
o contexto social, é necessário lembrar que a sociedade pode ser regida por
princípios católicos ou não; em suma, ou os princípios da sua religião perpassam
a sociedade, moldam instituições e constituem a pedra de toque do casamento, da
filiação e do comportamento feminino, ou a religião fica sendo simplesmente algo
restrito a alguns círculos e as pessoas apenas nominalmente se dizem
religiosas.
O cristianismo a que se
referem os conservadores para defender o casamento é meramente retórico, não
encontrando eco sequer nas mulheres que se denominam católicas ou cristãs, amplamente
adaptadas ao regime de liberdades civis inaugurado pela ruptura feminista desde
as sufragistas.
Quando uma religião é
forte e seus fiéis regem suas vidas de acordo com os preceitos transcendentes,
as normas religiosas vêm em primeiro lugar que quaisquer outras, as normas dos
cristãos do império romano vinham antes das normas públicas e eles estavam
dispostos até o conflito para que, em última instância, predominassem os
preceitos bíblicos sobre os pagãos. Foram acusados de pertencer a uma seita,
porque os valores espirituais do grupo e a hierarquia do clero eram mais
importantes que os determinados por César. Um liame grupal forte conduz ao
boicote, à sabotagem ou militância ativa contra os preceitos que lhes são
contrários e, se esse fosse o caso das fêmeas cristãs atuais, elas trabalhariam
contra o direito antifamiliar, mas o que vemos é o contrário, passividade geral
e conivência com o aparelhamento ideológico do Estado e de seus órgãos.
As mulheres não
trabalharão contra os mecanismos ideológicos fabricados pelo feminismo a não
ser quando entrem em rota de colisão com seus interesses, como no caso da
comoção geral causada pelos disfóricos que ingressam em esportes femininos e
acabam por causar-lhes danos físicos e perdas de premiações.
Agora, devemos
perguntar qual tipo de mulher coloca o direito canônico acima do direito civil,
ou mais propriamente, ao direito de antifamília, um fruto do liberalismo, condenado
nas encíclicas de sua Igreja? Nenhuma.
Na primeira
oportunidade e em última instância, o que vale é o direito laico, os mecanismos
abusivos construídos pelo feminismo. Não será nem Vaticano, nem Roma, nem
Igreja, nem Papa que as impedirão de buscar auxílio do estado formatado de
acordo com a ideologia feminista, de maneira que devemos concluir que as seitas
são mais leais aos seus fundamentos do que as mulheres católicas o são com o
modelo de casamento defendido pela sua Igreja.
As suas passagens
preferidas são: “não julgueis, para que
não sejais julgado” e o episódio no qual Cristo intervém a favor da
adúltera e a impede de ser apedrejada. São
duas passagens convenientemente utilizadas para afastar julgamentos do meio
contra uma vida de troca constante de parceiros, maternidade irresponsável,
manipulação dos gostos masculinos, libertinagem, desprezo à figura do marido e
conivência explícita com o projeto revolucionário que encontrou na subversão
dos sexos uma de suas instâncias preferidas.
As esquerdas obtêm
expressiva votação do público eleitor feminino e a propaganda difundida pelos
meios de comunicação é repetida em suas bocas, de maneira que não é curvando-se
à mulher que alguma correção de valores se efetivará.
O mais curioso é que,
embora Cristo tenha intervindo contra o apedrejamento, não agarrou a mão da
adúltera para tomá-la como esposa, no entanto os cristãos retóricos pretendem
que a cada adúltera encontrada na esquina seja dado um marido, ao qual se
atribui uma “missão sacrificial”[2]. O
discurso dos retóricos tem apenas uma casca de dogmatismo e tradição, mas a sua
sociedade não é nem dogmática, nem tradicional, tampouco suas mulheres são, elas
já pertencem ao mundo e, portanto, devem ser tratadas como mundanas.
Acerca do vínculo
conjugal, calha recordar um trecho do deuteronômio sobre o divórcio (24: 1-4): “Se um homem tomar uma mulher, e a tiver consigo,
e ela não for agradável diante dos seus olhos por qualquer coisa torpe:
escreverá um libelo de repúdio, e lho dará na mão, e a despedirá de sua casa. E
se ela depois de ter saído, tomar outro marido, e este também a aborrecer, e
lhe der libelo de repúdio, e a despedir de sua casa, ou se ele veio a morrer:
não poderá o primeiro marido torná-la a tomar por mulher: porque ela está
contaminada, e tornou-se abominável diante do Senhor: não faças pecar a terra,
que o Senhor teu Deus te dará para a possuir”[3]
Embora a negação do
divórcio não seja absoluta e peremptória, os casais que verdadeiramente
objetivam seguir padrões bíblicos não devem admiti-lo como instituição normal,
sempre à disposição e que pode ser acionada com base na conveniência, ou seja,
deveria haver um choque entre as mulheres cristãs e o regime de divórcio do
direito contemporâneo.
Pois bem, certa vez uma
colega de curso tinha fama de ser muito católica, frequentava rodas de orações
feitas na universidade, tive a curiosidade de perguntá-la de sua opinião sobre
a questão do divórcio, ao que ela respondeu que “é....tem vezes que a relação não dá certo mesmo...”. Essa mesma
moça terminou a faculdade solteira e não sei se continua até hoje, mas é
significativo o fato de que até mesmo uma das mulheres, com fama de católica, primeiro
colocava os olhos na formação e na carreira para, depois de uns anos, poder então
pensar que um filho talvez lhe faça falta, o marido sendo encarado por último,
quem sabe como mal necessário que pode ser dispensado quando o tédio e a
conveniência ditarem, porque “tem vezes
que a relação não dá certo mesmo”.
Por acaso alguém já viu
algum retórico religioso fazendo campanha para que divórcios voltassem a ser
tabu, para que as mulheres parassem de pedir divórcio? Ou então para que a
figura da mãe solteira não fosse consagrada como um modelo louvável? Alguma
movimentação de condenação do desprezo que as mulheres, em geral, nutrem pelo
casamento e obediência ao marido? Não, porque se fizessem isso deixariam de ser
retóricos.
Antes do Renascimento,
a hegemonia cultural modelava o homem a partir de Cristo; com a subversão
sexual as mulheres passaram a seguir o modelo de Lilith. Se por um lado os
retóricos estão preocupados em julgar os homens a partir de Cristo, eles
deveriam antes se preocupar em verificar se as fêmeas contemporâneas seguem o
modelo da Virgem Maria, a não ser que tratem a questão a partir de pressupostos
falaciosos, visando ao final consumar o casamento de Cristo com Lilith. O
sofisma de que o homem que aceita as cláusulas da união matrimonial
antifamiliar estaria cumprindo uma missão deve ser descartado.
Fala-se na missão
masculina no decorrer da história, sobre o papel ativo do homem nas
transformações e superação de obstáculos. Levantado esse ponto, eles sentenciam
no sentido de que a “missão sacrificial” consistiria justamente na aceitação do
homem em uma união de acordo com as cláusulas impostas pelo sistema
antifamiliar. Então fazem uma exortação que caminha no sentido inverso do papel
masculino, como se a submissão à farsa antifamiliar fosse um meio de o homem
cumprir o papel ativo. Na verdade, a energia masculina consiste justamente em
romper e denunciar o pacto leonino que lhe é apresentado, disfarçadamente, como
matrimônio idêntico ao celebrado pelos antepassados.
Existe um caráter de
retribuição quando o salmista faz referência à proporcionalidade do tratamento
divino com relação à criação, ele menciona que “Tu (Senhor) serás santo com o santo, e serás inocente com o homem
inocente; e com o puro serás puro; com o perverso serás como ele merece.
Porque tu salvarás o povo humilde,
e humilharás os olhos dos soberbos. ”[4]. A
ideia é de que com os de boa-fé responde-se normalmente e com os maliciosos
deve-se saber responder à altura. Os homens responderão à altura.
3) Descarte de instituições, costumes, fatos sociais gerados e impostos
pela ideologia feminista tanto no campo da esquerda quanto no da sociedade em
geral (em instituições de ensino, de Estado, culturais, políticas e jurídicas)
Num primeiro estágio o
feminismo se limitava ao campo do pensamento e de manifestações panfletárias, gradativamente
proliferando-se com um histórico de obras e acumulando robustez literária ao
ponto de se transformar em algo considerável, partindo para o ativismo e
influência dos movimentos políticos, sempre vinculado à esquerda, fazendo-se
presente desde então. Ele é a causa de transformações perceptíveis, impositivas
e que obrigam a sociedade no sentido ideologicamente determinado. Não é com truque de terapeuta e motivacional
que se irá entender, muito menos solucionar problemas fomentados por redes de
ONGs, estruturas burocráticas, think tanks, militância ativa e lobby em todos
os poderes da República. Existe uma rede estrutural que torna o feminismo
aquilo que ele é e essa rede é completamente ignorada pelos comentaristas.
Um dos sujeitos do
vídeo mencionou a questão da pensão socioafetiva, mas de passagem, como detalhe
de somenos importância e irrelevante para a discussão. Em linhas gerais, essas
discussões são superficiais e não tratam dos principais fatores levantados pelo
antifeminismo, por exemplo:
Os divórcios são majoritariamente iniciados pelas mulheres, mais de
70% é de iniciativa feminina[5]. O
divórcio não depende de motivo sério, pode ser pedido a qualquer hora e a
guarda da criança fica com a mãe, do dia para a noite o pai se vê com uma
dívida mensal de pensão alimentícia.
O divórcio sem culpa, que aqui no Brasil se conhece mais como divórcio direto,
não é uma questão criticada pelos conservadores.
Ainda no contexto
familiar, surge a questão da alienação
parental, forma de manipulação psicológica por meio da qual a mãe forma um
imaginário infantil desfavorável à figura paterna. O divórcio, que não deveria
estar consagrado, gerou a gambiarra da pensão alimentícia, assim como a
necessidade de dar atenção ao fenômeno da alienação parental, cuja lei destinada
a coibi-lo tem sido um dos poucos instrumentos de proteção aos pais. Porém, a
revogação da lei de alienação parental avançou recentemente uma etapa na CCJ,
contando com ajuda de políticos da bancada conservadora como Magno Malta e
Damares Alves, o que prova a inexistência de antifeminismo nos opositores da
esquerda.
Os ramos masculinistas
abordam com frequência a deformação do sistema jurídico no sentido do
supremacismo feminista, cujo divisor de águas se deu com a introdução da Lei
Abuso da Penha, seguindo-se a partir daí o aparelhamento geral do Estado, com
um sistema de medidas protetivas com base apenas na palavra da vítima e a
possibilidade de, em certas ocasiões, um simples policial deferir medida de
afastamento do lar.
No contexto de
relacionamentos, critica-se a hipergamia
turbinada. Embora a seletividade feminina, em si, sempre tenha sido
fenômeno presente nas sociedades humanas, a tônica do atual momento é
prestigiar a supremacia feminina e negar as prerrogativas masculinas. Apesar de
se colocarem na posição de guardiões da moral antiga, corretiva dos vícios do
presente, ignora-se o fato de que quem não quer formar famílias são AS MULHERES
modernas, que desejam adiar compromissos o máximo que puder, focando no
trabalho, colocando filhos e marido como algo secundário, se tanto. A queda da
taxa de natalidade se deve a isso: ou a sociedade assegura as prerrogativas
masculinas, ou apodrece como exatamente vem apodrecendo.
Somem-se a esses
tópicos os casos forjados de violência doméstica, insegurança jurídica, demissão
de cargos por responder à lei abuso da penha, impossibilidade mesmo de ingresso
em profissões por ter supostamente incorrido em seus dispositivos, além da
criação do tipo penal de violência psicológica, aparelhamento ideológico
feminista da máquina burocrática e também do terceiro setor. A deformação
observada no sistema de normas chegou ao ponto em que se impõem cotas de candidaturas
e de financiamento obrigatório na mesma proporção de 30%, também há o caso das
desembargadoras biônicas (CNJ fabricou uma causa de promoção fora dos critérios
constitucionais para criar mais desembargadoras). Há inversão do ônus da prova
em se tratando de processo penal, condenações cíveis mais flexíveis para
favorecer interesses feministas (com o processo coletivo transformando em arma
política interessante para agentes ideológicos que ocupam cargos nas
promotorias, defensorias e magistraturas).
A censura sendo
costurada com o slogan de combate à misoginia seria um desdobramento do alto
grau de aparelhamento já observado nas recentes décadas.
Em 2023, o Senado
Federal instituiu uma comissão para alterar dispositivos do Código Civil, nele
fazendo constar a possibilidade de pensão alimentícia até para animais, na
linha do pensamento liberal de liquefação do conceito de família e ruptura de
paradigmas. Ao que devemos perguntar: onde
estão os juristas católicos para se opor às aberrações promovidas no seio do
direito civil? Desmobilizados, quietos, ou pior, fazendo o voto de que a sua
religião não deve interferir no regime jurídico do direito de família. No
entanto, eles se mobilizam para tratar da pílula vermelha e as suas bancadas
colocam adiante projetos que apenas agravam a situação.
Para se ter uma ideia,
existe mais reclamação contra o divórcio por parte dos masculinistas do que
pelos conservadores, que já largaram essa questão há tempos e encaram com
naturalidade as novidades de seu tempo e a troca de parceiros e a maternidade
solteira. Como se não bastasse, funcionam como suavizadores dos demais impactos
provocados pelo feminismo, isso quando não são colaboradores ativos dessas
transformações.
É feita a acusação de
que o afastamento das mulheres seria uma contribuição à entropia social
promovida pelo feminismo, de que, se por um lado o intuito das feministas é
destruir o matrimônio, por outro a postura dos homens que o boicotassem as
estaria ajudando a alcançar esse desiderato. A verdadeira colaboração com o
sistema ideológico ocorre quando as causas são reforçadas e as críticas
relevadas. Quem estiver preocupado com a crise de relacionamentos não irá
reduzir esse acontecimento a uma “crise masculina”, mas trabalhará para remover
os fatores que contribuem para o desastre, afinal de contas, cessada a causa,
modificam-se os efeitos.
4) Psicologização típica de coaches - autoajuda. – Os comentaristas
sobre o problema do feminismo tratam da questão como se se tratasse de um
programa de “Casos de Família”,
desentendimentos de casais, homens tímidos, irresponsáveis e imaturos para
manter uma relação.
Com uso da
psicologização, os retóricos transformam problemas reais em questões que
navegam no campo puro da psicologia humana. Então há uma substituição de
problemas concretos, constitutivos de fatos sociais e instituições impositivas
por situações abstratas, tratando todos os tipos de aberrações promovidas pelo
feminismo na sociedade como se fossem secundárias. Para os retóricos se
imporem, eles precisam descartar todos os fatos, os problemas reais e seus
agentes, focando tão somente na psicologia dos adeptos do antifeminismo.
Essa é uma das maiores
vulnerabilidades e explica o porquê de suas abordagens sobre o tema serem tão
fracas.
Considerando que os
acontecimentos da revolução sexual vieram primeiro e as reações psicológicas
surgem a posteriori, os retóricos
tentam de extrair do acontecido a posteriori o principal para explicar o
antecedente. São coaches, não são estudiosos de um assunto procurando traçar um
quadro e colher seus elementos.
Por exemplo, um dos
interlocutores sabe da hostilidade alimentada pelo feminismo nas mulheres, o
retórico ressalta que isso encontra uma hostilidade nutrida pelos homens como
reação e então os homens criariam um
fator impeditivo para o diálogo e, por via de consequência, frustrariam uma
relação. Assim, ele ao mesmo tempo que isenta as mulheres, transfere a carga
para o outro lado.
Posteriormente a coisa
piora e passam a tratar da questão como se fosse um afastamento, em linhas gerais,
da questão do amor, do outro, etc... recaindo no vício já apontado antes, sobre
dissolver a questão específica num poço de generalidades, além de cair em
lirismos baratos, muito aquém do que se espera de uma abordagem
intelectualizada do assunto.
A contribuição que
coaches podem fornecer à pílula vermelha é mínima, os tratamentos psiquiátricos
e terapêuticos podem entrar em cena quando o meio está estruturado, mas é o
sujeito que se encontra descompassado; já numa situação contrária, quando é a
sociedade que se encontra apodrecida, a reação, inclusive aquela que se
manifesta pelo boicote e exposição das artimanhas revolucionárias feministas, é
mais que salutar, ela é necessária.
Os retóricos estão
muito abaixo da bagagem adequada para dissecar o assunto, então tergiversam,
tratam de questões supérfluas ou perspectivas infrutíferas, em todo caso o
feminismo segue sendo um elefante branco na sala. Um deles confessa que a
discussão é feita sem fontes, ou seja, eles não pesquisaram NADA.
Digo isso porque um
deles afirmou que a união matrimonial se recomenda pelo fato de que “os seus
pais, avôs, tataravós, etc.. terem celebrado uma união com as suas respectivas
esposas”. Se meus pais e avôs fizeram, eu também irei fazer, como se nada houvesse
interferido nesse meio tempo de maneira radical e substancial, alterando as
cláusulas matrimoniais por completo. Que isso seja dito por um tiozão de bar
sem estudo, focado tão somente em trabalhar, assistir novela e ir a passeios
turísticos, vá lá, mas o círculo dos discutidores acerca da redpill geralmente
é composto por gente com pretensões de crítica intelectual profunda, ou como a
própria thumbnail faz constar: “crítica destrutiva”.
Porém, se a sua
intenção ao formarem círculos de debates é promover uma desconstrução das
críticas masculinas, deveriam ter feito o trabalho de casa e pesquisado o
arcabouço crítico dos masculinistas.
A responsabilidade do
crítico competente é mapear as bases teóricas de uma determinada corrente e
desconstruí-las, desde o ponto de vista abstrato até as suas consequências
práticas. Os retóricos não tratarão nem de uma e, quanto á outra, as
consequências práticas são tão remotas que pouco afetam as afirmações da
androsfera. Em suma, os retóricos são
coniventes com a revolução feminista.
Há canal que integra
essa tal androsfera e possui número considerável de inscritos, não é anônimo,
repercute bem na bolha e respinga inclusive fora dela, por que estão fingindo
que não existe?
Existem publicações em blogs antigos, livros e
artigos que circulam e são citados, não fizeram o trabalho que se espera de um
intelectual, que é ler e pesquisar? Aonde foi parar o tal do status questionis?
5) Fuga do julgamento das mulheres – Foi Tertuliano quem, logo nos
primeiros séculos da Igreja, fez uma exortação às mulheres de seu tempo para
que se portassem com modéstia e se vestissem com elegância: “Vesti-vos
com o tecido da probidade, com o linho da santidade, com a púrpura da
castidade.
Assim, pintadas dessa maneira, tereis
Deus como vosso amante”[6].
Caminhando em sentido diverso, há uma verdadeira recusa em cobrar das
mulheres o mínimo de recato, quiçá o cumprimento de seus papéis. Aliás, o mero
fato de que as mulheres possuem papéis é capaz de causar estranhamento geral
nas atuais circunstâncias.
São elas que, em geral, não querem casar, não querem filhos e renunciaram
à sua vocação de esposas, pesquisas comprovam isso, mas os olhos e o senso
comum deveriam bastar.
“Na pesquisa
da Morgan, seriam aproximadamente 45% das mulheres, na faixa etária entre 25 e
44 anos, que estão previstas para não terem filhos e serem solteiras conforme
demonstrou a pesquisa. Pois a presença crescente de mulheres solteiras no
mercado de trabalho, provocou mudanças de hábitos de consumo e estilo de vida”[7]
Outra matéria diz que o percentual seria de 50%, como a variação é
própria desse tipo de estudo, que busca traçar faixas prováveis do fenômeno,
ainda que escolhêssemos o mínimo de 45%, isso já seria escandaloso, já que
seria confissão de que as próprias mulheres consideram o matrimônio instituição
falida e reproduzem os modos da ideologia sexista, o que aliás já foi
identificado pelos masculinistas.
Fala-se muito em crise
do homem, às vezes querendo-se afirmar crise da humanidade, mas o corrente
sentido dessa expressão é para referir-se à crise da masculinidade, passando
então a cobrar satisfações do porquê de os homens modernos estarem supostamente
faltando com os seus papéis, chegando-se ao momento chave em que se encerra uma
condenação geral contra aqueles que passaram a desaconselhar os
relacionamentos.
A ideia é passar a
imagem desses homens como imaturos, então de certa forma a psicologização e
autoajuda colaboram para a isenção das mulheres que, se da boca para fora se
dizem contra o feminismo, não se dispõem a se transforem em personificações da
feminilidade, da maternidade ou religiosidade mariana que descartaram há
tempos.
Nas circunstâncias
atuais, mulher nenhuma tem moral para falar do homem moderno, pois absorveram
diversas características introduzidas na cultura pelo feminismo e todas elas
são, em maior ou menor grau, adeptas do feminismo. Já se falou o suficiente
sobre crise masculina, mas nada sobre a crise feminina. O julgamento da mulher
moderna é inevitável, ela que recusa o casamento, ela que se divorcia, ela que
usa os mecanismos institucionais em seu favor, que pensa poder viver sem a
presença masculina com o devido acatamento e recusando a sua vocação de
auxiliadora do homem. Em épocas passadas, a sociedade como um todo sancionaria
a mulher moralmente desviante, lembrando-a da existência de um código de
maneiras femininas, obliterado na atualidade para ceder lugar à falsa
liberdade, que passa incólume aos olhos dos que se imaginam tradicionais, mas
cujo tradicionalismo pregado aos homens destoa da modernidade permitida às
fêmeas, cujos ardis não passam despercebidos dos olhos dos homens
antifeministas, que sabem que aceitar esse teatro seria o mesmo que se tornarem
não heróis, mas palhaços.
Conclusão
Quando arguições
contrárias ao ramo da pílula são levantadas por sujeitos não feministas,
principalmente a partir de perfis com nuances de tradicionalismo, num primeiro
momento eles aparentam que irão falar montados numa estrutura intelectual
literária, filosófica e de bases teológicas, que em pouco tempo se prova
miragem, desfeita e substituída por uma conversa de coaches e terapeutas, e é
esse tipo de perfil que se repetirá praticamente todas as vezes em que algum
anti-pílula se manifestar. Visualizando esse quadro, essas vulnerabilidades
parecem ser de difícil superação, porque eles parecem incapazes de analisar,
seja com filosofia, lógica ou mesmo literatura, as realidades sociológicas que
embasam o discurso masculinista. Não é pelo fato de serem casados, porque os
anti-pílula que são solteiros apresentam a mesma limitação. Se o adepto da
androsfera se mantiver nos limites desse campo intersexual e suas conclusões
forem pertinentes a ele, continuará sólido e irrefutável, se decidir sair do
seu campo de competência, passará a ser vulnerável ele próprio. A ocasião aqui foi
ressaltar as vulnerabilidades não dos antifeministas, mas sim dos
anti-antifeministas, que é o que os retóricos acabam sendo no final das contas.
[1]
BÍBLIA SAGRADA. Deuteronômio 5, 6-21 e Êxodo 20, 2-17. https://bibliotecacatolica.com.br/blog/formacao/10-mandamentos/?srsltid=AfmBOopwj-ZI8HbdIj8EW1WHeH0c826wL4pqFJ9XCscZ1jTP_fI6G-Yu
[2] Falácia dita por volta de 58:00 no vídeo do IB. Sobre os Red Pill e a crise da masculinidade / Crítica Destrutiva / 052. https://www.youtube.com/live/t5a5vGxnKl4?si=Al9lhH5edpdtFSOZ
[3]
BÌBLIA SAGRADA. Versão padre Matos Soares. P. 344.
[4] BÍBLIA
SAGRADA. Tradução e comentário pelo Padre Mattos Soares. Salmo XVII, 26-28.
[5]
Mulheres têm a iniciativa do divórcio em cerca de 70% dos casos. https://www.otempo.com.br/interessa/mulheres-tem-a-iniciativa-do-divorcio-em-cerca-de-70-dos-casos-1.2579354
[6] De
Cultu Feminarum.
[7] Mulheres – Estudo americano aponta
transformação social para mulheres, até 2030. https://www.grupometanews.com.br/post/mulheres-estudo-americano-aponta-transforma%C3%A7%C3%A3o-social-para-mulheres-at%C3%A9-2030
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