terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Cinco vulnerabilidades estruturais dos discursos anti-pílula

 


As pretensas refutações ao discurso da pílula vermelha costumam ser marcadas pela falta de embasamento. Em geral, os círculos conservadores que começam a falar sobre a pílula vermelha assentam as suas bases no mesmo material levado ao público em geral: a mídia. Aquilo que ela escolhe dar visibilidade torna-se, assim, o ponto de partida da discussão, viciando o debate desde o início.

Consequentemente, não se pode dizer que houve pesquisa ou estudo sério nesse tipo de abordagem, feita com base numa impressão geral a partir de postagens aleatórias com o termo redpill indexado.

Uma comparação simples, que resume boa parte das manifestações contrárias aos masculinistas é a do sujeito que, diante de alguém que aponta o dedo para a lua, fica olhando o dedo e não o objeto indicado. Os comentaristas que não participam do movimento feminista e procuram uma forma de rechaçar igualmente o polo que lhe é oposto estão na mesma condição do sujeito que mantém o olhar fixo no dedo e ignora a lua.

No chat ao vivo houve um comentário destacando a superficialidade com que o tema estava sendo tratado, e essa constatação estava correta. É o caso de se perguntar o porquê de as abordagens sobre os masculinistas serem tão raquíticas quando provindas de outros homens que, embora não sejam feministas, não conseguiram captar o fenômeno do feminismo em sua real dimensão. Em discussões como essas, praticamente a unanimidade descamba para a autoajuda.

A pílula vermelha não é uma discussão para coaches, que tratam os problemas apresentados como conflitos internos que precisam ser solucionados com ajuda de terapia e truques de superação de timidez. Aliás, esses expedientes existem às pencas e já foram fornecidos aos homens pelos ditos “artistas de sedução”, portanto o material de coaching e autoajuda, a nível psicológico e interpessoal, já existia em fóruns, livros e artigos masculinistas antes mesmo que qualquer rebatedor anti-pílula abrisse a boca para tratar do tema.

A pílula vermelha comporta discussões sob diversas perspectivas, com materiais e manifestações de teor sentimental, familiar, jurídico-político ou ideológico e social.

A bibliografia de Nessahan Alita foi primorosa menos por apresentar meios de proteção sentimental do que por destacar a existência de um profano feminino. Nota-se que mesmo os grupos que enfatizam a questão da solteirice pegam de empréstimo a literatura de Alita, que na verdade seria mais um material de Pick Up Artist, já que apresenta formas de lidar com as mulheres e controlar os próprios sentimentos, o que seria estranho para quem propõe o afastamento puro e simples de relações.

A ideia de profano feminino é diretamente contrária à blindagem feita pelos críticos da pílula vermelha, que ingressam na discussão para ocultar e isentar a figura da mulher, construindo a imagem falsa de que todo o problema atual se resuma a uma “crise masculina”, o que está longe de ser o retrato fidedigno da crise enfrentada e, se de fato há crise masculina significativa, os responsáveis são os homens que acobertam os fatores ativamente denunciados pelos homens contrários à erosão dos relacionamentos e que recorreram ao boicote ou precauções seguindo o que a prudência recomenda.

A seguir estão delineados cinco pontos centrais que acompanham as abordagens falhas, costumeiramente utilizadas para o assunto da pílula vermelha, sendo as maiores vulnerabilidades presentes no discurso dos críticos:

1) Dissolver a questão específica num poço de generalidades – O ponto falacioso se manifesta no seguinte tom: o feminismo, suas armas institucionais e a recusa da mulher em cumprir o seu papel ou não constituem um problema ou, no máximo, são adversidades gerais da vida que podem ser contornadas. Exemplo: o feminismo é ruim, a sociedade está ruim, mas o mundo é ruim, siga em frente (não sistematize nem mapeie o foco do problema, os fatos sociais, institutos, os sistemas ideológicos impositivos e seus agentes).

A ideia é negar a crise antropológica dos sexos ou enquadrá-la como algo natural da vida e não uma catástrofe muito específica, intencionalmente fabricada nas últimas décadas, que alterou o quadro das relações intersexuais de uma maneira sem precedentes e que, portanto, deve comportar uma análise individualizada, profunda e, se possível, com a apresentação de propostas eficazes de contraposição ao fenômeno. Ao invés disso, as causas remotas ou diretas dessa crise são excluídas e o enfoque se concentra em suas consequências remotas, consistentes na modificação do comportamento masculino.

Para abordar o assunto específico do feminismo, é preciso saber não só que ele existe, mas que continua ativo e vivo, que promoveu transformações e continua operando em sociedade, sendo um fenômeno objetivamente constatável e independente do estado anímico do observador. Quando a questão do feminismo vem à tona, é de se esperar que aquele que irá abordá-la não passará para uma questão da humanidade, da sociedade ou do alinhamento do cosmos, mas se centrará nos fatores relevantes para a compreensão do feminismo. Não obstante, os coaches tentam compensar a falta de embasamento com a desnaturação da questão, pois, tornado o assunto genérico, já não se colocam na posição desconfortável de ter que abordar tópicos para os quais não têm gabarito, nem interesse verdadeiro.

2) Uso da moral religiosa num nível retórico, não analítico. – os comentaristas também apelam para a esfera religiosa numa tentativa de demover os homens de avaliarem a própria situação e a das fêmeas. A retórica tem uma função apelativa, mas como já dissemos linhas anteriores, o fenômeno do feminismo exige um tratamento de outra natureza, ele é algo que se submete a análises sociológicas, políticas e culturais, mais do que uma questão teórica, o feminismo gerou problemas práticos e entraves que explicam o desarranjo atual. Alguns encaram a religião como produto da cultura e outros a tomam como fonte da própria cultura, qualquer que seja a visão adotada, os conceitos religiosos utilizados não podem ser palavras vazias, devemos nos perguntar de que maneira o falante trata o termo religião.

Se se referem à salvação das almas, encontraremos nos dez mandamentos[1] o seguinte: 1) Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz tirei da terra do Egito dessa da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de Mim; 2) Não invocarás em vão o Nome do Senhor teu Deus; 3) Guarda o dia do sábado santificando-o; 4) Honra teu pai e tua mãe; 5) Não matarás; 6) Não cometerás adultério; 7) Não roubarás; 8) Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo; 9) Não desejarás a mulher do teu próximo; 10) Não cobiçarás nada que pertença ao teu próximo.

Entre esses diversos comandos, nota-se uma maior preocupação com a castidade do que propriamente com a formação de família, considerando as relações matrimoniais existentes na sociedade, o cumpridor dos mandamentos deve se abster de prejudicar as relações dos outros. O apanhado de versículos de que se munem os apologistas apenas se prestaria para censurar o caso de cafajestes que se utilizam da pílula vermelha como justificativa para manter redes de relações sexuais com várias mulheres, usando a promiscuidade feminina para justificar a própria, encontrando na guerra geral feita contra os homens um ponto de apoio para aliviar a barra dos seus próprios vícios, que existiriam fosse qual fosse a situação do entrechoque de sexos na sociedade. A pílula vermelha não se presta a limpar a barra de modelos masculinos deformados, tampouco é acusada de fazê-lo, já que os difamadores muitas vezes se utilizam do shamming da virgindade, acusando os adeptos da redpill de não manterem contatos femininos, isto é, de não serem cafas.

Nesse momento, já se percebe que os principais pontos levantados pelos masculinistas sequer são abordados; quando muito tangenciados e logo em seguida esquecidos como detalhes. Avançando a querela religiosa, se desejam utilizá-la como suporte para analisar o contexto social, é necessário lembrar que a sociedade pode ser regida por princípios católicos ou não; em suma, ou os princípios da sua religião perpassam a sociedade, moldam instituições e constituem a pedra de toque do casamento, da filiação e do comportamento feminino, ou a religião fica sendo simplesmente algo restrito a alguns círculos e as pessoas apenas nominalmente se dizem religiosas.

O cristianismo a que se referem os conservadores para defender o casamento é meramente retórico, não encontrando eco sequer nas mulheres que se denominam católicas ou cristãs, amplamente adaptadas ao regime de liberdades civis inaugurado pela ruptura feminista desde as sufragistas.

Quando uma religião é forte e seus fiéis regem suas vidas de acordo com os preceitos transcendentes, as normas religiosas vêm em primeiro lugar que quaisquer outras, as normas dos cristãos do império romano vinham antes das normas públicas e eles estavam dispostos até o conflito para que, em última instância, predominassem os preceitos bíblicos sobre os pagãos. Foram acusados de pertencer a uma seita, porque os valores espirituais do grupo e a hierarquia do clero eram mais importantes que os determinados por César. Um liame grupal forte conduz ao boicote, à sabotagem ou militância ativa contra os preceitos que lhes são contrários e, se esse fosse o caso das fêmeas cristãs atuais, elas trabalhariam contra o direito antifamiliar, mas o que vemos é o contrário, passividade geral e conivência com o aparelhamento ideológico do Estado e de seus órgãos.

As mulheres não trabalharão contra os mecanismos ideológicos fabricados pelo feminismo a não ser quando entrem em rota de colisão com seus interesses, como no caso da comoção geral causada pelos disfóricos que ingressam em esportes femininos e acabam por causar-lhes danos físicos e perdas de premiações.

Agora, devemos perguntar qual tipo de mulher coloca o direito canônico acima do direito civil, ou mais propriamente, ao direito de antifamília, um fruto do liberalismo, condenado nas encíclicas de sua Igreja? Nenhuma.

Na primeira oportunidade e em última instância, o que vale é o direito laico, os mecanismos abusivos construídos pelo feminismo. Não será nem Vaticano, nem Roma, nem Igreja, nem Papa que as impedirão de buscar auxílio do estado formatado de acordo com a ideologia feminista, de maneira que devemos concluir que as seitas são mais leais aos seus fundamentos do que as mulheres católicas o são com o modelo de casamento defendido pela sua Igreja.

As suas passagens preferidas são: “não julgueis, para que não sejais julgado” e o episódio no qual Cristo intervém a favor da adúltera e a impede de ser apedrejada.  São duas passagens convenientemente utilizadas para afastar julgamentos do meio contra uma vida de troca constante de parceiros, maternidade irresponsável, manipulação dos gostos masculinos, libertinagem, desprezo à figura do marido e conivência explícita com o projeto revolucionário que encontrou na subversão dos sexos uma de suas instâncias preferidas.  

As esquerdas obtêm expressiva votação do público eleitor feminino e a propaganda difundida pelos meios de comunicação é repetida em suas bocas, de maneira que não é curvando-se à mulher que alguma correção de valores se efetivará.

O mais curioso é que, embora Cristo tenha intervindo contra o apedrejamento, não agarrou a mão da adúltera para tomá-la como esposa, no entanto os cristãos retóricos pretendem que a cada adúltera encontrada na esquina seja dado um marido, ao qual se atribui uma “missão sacrificial”[2]. O discurso dos retóricos tem apenas uma casca de dogmatismo e tradição, mas a sua sociedade não é nem dogmática, nem tradicional, tampouco suas mulheres são, elas já pertencem ao mundo e, portanto, devem ser tratadas como mundanas.

Acerca do vínculo conjugal, calha recordar um trecho do deuteronômio sobre o divórcio (24: 1-4): “Se um homem tomar uma mulher, e a tiver consigo, e ela não for agradável diante dos seus olhos por qualquer coisa torpe: escreverá um libelo de repúdio, e lho dará na mão, e a despedirá de sua casa. E se ela depois de ter saído, tomar outro marido, e este também a aborrecer, e lhe der libelo de repúdio, e a despedir de sua casa, ou se ele veio a morrer: não poderá o primeiro marido torná-la a tomar por mulher: porque ela está contaminada, e tornou-se abominável diante do Senhor: não faças pecar a terra, que o Senhor teu Deus te dará para a possuir[3]

Embora a negação do divórcio não seja absoluta e peremptória, os casais que verdadeiramente objetivam seguir padrões bíblicos não devem admiti-lo como instituição normal, sempre à disposição e que pode ser acionada com base na conveniência, ou seja, deveria haver um choque entre as mulheres cristãs e o regime de divórcio do direito contemporâneo.

Pois bem, certa vez uma colega de curso tinha fama de ser muito católica, frequentava rodas de orações feitas na universidade, tive a curiosidade de perguntá-la de sua opinião sobre a questão do divórcio, ao que ela respondeu que “é....tem vezes que a relação não dá certo mesmo...”. Essa mesma moça terminou a faculdade solteira e não sei se continua até hoje, mas é significativo o fato de que até mesmo uma das mulheres, com fama de católica, primeiro colocava os olhos na formação e na carreira para, depois de uns anos, poder então pensar que um filho talvez lhe faça falta, o marido sendo encarado por último, quem sabe como mal necessário que pode ser dispensado quando o tédio e a conveniência ditarem, porque “tem vezes que a relação não dá certo mesmo”.

Por acaso alguém já viu algum retórico religioso fazendo campanha para que divórcios voltassem a ser tabu, para que as mulheres parassem de pedir divórcio? Ou então para que a figura da mãe solteira não fosse consagrada como um modelo louvável? Alguma movimentação de condenação do desprezo que as mulheres, em geral, nutrem pelo casamento e obediência ao marido? Não, porque se fizessem isso deixariam de ser retóricos.

Antes do Renascimento, a hegemonia cultural modelava o homem a partir de Cristo; com a subversão sexual as mulheres passaram a seguir o modelo de Lilith. Se por um lado os retóricos estão preocupados em julgar os homens a partir de Cristo, eles deveriam antes se preocupar em verificar se as fêmeas contemporâneas seguem o modelo da Virgem Maria, a não ser que tratem a questão a partir de pressupostos falaciosos, visando ao final consumar o casamento de Cristo com Lilith. O sofisma de que o homem que aceita as cláusulas da união matrimonial antifamiliar estaria cumprindo uma missão deve ser descartado.

Fala-se na missão masculina no decorrer da história, sobre o papel ativo do homem nas transformações e superação de obstáculos. Levantado esse ponto, eles sentenciam no sentido de que a “missão sacrificial” consistiria justamente na aceitação do homem em uma união de acordo com as cláusulas impostas pelo sistema antifamiliar. Então fazem uma exortação que caminha no sentido inverso do papel masculino, como se a submissão à farsa antifamiliar fosse um meio de o homem cumprir o papel ativo. Na verdade, a energia masculina consiste justamente em romper e denunciar o pacto leonino que lhe é apresentado, disfarçadamente, como matrimônio idêntico ao celebrado pelos antepassados.

Existe um caráter de retribuição quando o salmista faz referência à proporcionalidade do tratamento divino com relação à criação, ele menciona que “Tu (Senhor) serás santo com o santo, e serás inocente com o homem inocente; e com o puro serás puro; com o perverso serás como ele merece. Porque tu salvarás o povo humilde, e humilharás os olhos dos soberbos. [4]. A ideia é de que com os de boa-fé responde-se normalmente e com os maliciosos deve-se saber responder à altura. Os homens responderão à altura.

3) Descarte de instituições, costumes, fatos sociais gerados e impostos pela ideologia feminista tanto no campo da esquerda quanto no da sociedade em geral (em instituições de ensino, de Estado, culturais, políticas e jurídicas)

Num primeiro estágio o feminismo se limitava ao campo do pensamento e de manifestações panfletárias, gradativamente proliferando-se com um histórico de obras e acumulando robustez literária ao ponto de se transformar em algo considerável, partindo para o ativismo e influência dos movimentos políticos, sempre vinculado à esquerda, fazendo-se presente desde então. Ele é a causa de transformações perceptíveis, impositivas e que obrigam a sociedade no sentido ideologicamente determinado.  Não é com truque de terapeuta e motivacional que se irá entender, muito menos solucionar problemas fomentados por redes de ONGs, estruturas burocráticas, think tanks, militância ativa e lobby em todos os poderes da República. Existe uma rede estrutural que torna o feminismo aquilo que ele é e essa rede é completamente ignorada pelos comentaristas.

Um dos sujeitos do vídeo mencionou a questão da pensão socioafetiva, mas de passagem, como detalhe de somenos importância e irrelevante para a discussão. Em linhas gerais, essas discussões são superficiais e não tratam dos principais fatores levantados pelo antifeminismo, por exemplo:

Os divórcios são majoritariamente iniciados pelas mulheres, mais de 70% é de iniciativa feminina[5]. O divórcio não depende de motivo sério, pode ser pedido a qualquer hora e a guarda da criança fica com a mãe, do dia para a noite o pai se vê com uma dívida mensal de pensão alimentícia. O divórcio sem culpa, que aqui no Brasil se conhece mais como divórcio direto, não é uma questão criticada pelos conservadores.

Ainda no contexto familiar, surge a questão da alienação parental, forma de manipulação psicológica por meio da qual a mãe forma um imaginário infantil desfavorável à figura paterna. O divórcio, que não deveria estar consagrado, gerou a gambiarra da pensão alimentícia, assim como a necessidade de dar atenção ao fenômeno da alienação parental, cuja lei destinada a coibi-lo tem sido um dos poucos instrumentos de proteção aos pais. Porém, a revogação da lei de alienação parental avançou recentemente uma etapa na CCJ, contando com ajuda de políticos da bancada conservadora como Magno Malta e Damares Alves, o que prova a inexistência de antifeminismo nos opositores da esquerda.

Os ramos masculinistas abordam com frequência a deformação do sistema jurídico no sentido do supremacismo feminista, cujo divisor de águas se deu com a introdução da Lei Abuso da Penha, seguindo-se a partir daí o aparelhamento geral do Estado, com um sistema de medidas protetivas com base apenas na palavra da vítima e a possibilidade de, em certas ocasiões, um simples policial deferir medida de afastamento do lar.

No contexto de relacionamentos, critica-se a hipergamia turbinada. Embora a seletividade feminina, em si, sempre tenha sido fenômeno presente nas sociedades humanas, a tônica do atual momento é prestigiar a supremacia feminina e negar as prerrogativas masculinas. Apesar de se colocarem na posição de guardiões da moral antiga, corretiva dos vícios do presente, ignora-se o fato de que quem não quer formar famílias são AS MULHERES modernas, que desejam adiar compromissos o máximo que puder, focando no trabalho, colocando filhos e marido como algo secundário, se tanto. A queda da taxa de natalidade se deve a isso: ou a sociedade assegura as prerrogativas masculinas, ou apodrece como exatamente vem apodrecendo.

Somem-se a esses tópicos os casos forjados de violência doméstica, insegurança jurídica, demissão de cargos por responder à lei abuso da penha, impossibilidade mesmo de ingresso em profissões por ter supostamente incorrido em seus dispositivos, além da criação do tipo penal de violência psicológica, aparelhamento ideológico feminista da máquina burocrática e também do terceiro setor. A deformação observada no sistema de normas chegou ao ponto em que se impõem cotas de candidaturas e de financiamento obrigatório na mesma proporção de 30%, também há o caso das desembargadoras biônicas (CNJ fabricou uma causa de promoção fora dos critérios constitucionais para criar mais desembargadoras). Há inversão do ônus da prova em se tratando de processo penal, condenações cíveis mais flexíveis para favorecer interesses feministas (com o processo coletivo transformando em arma política interessante para agentes ideológicos que ocupam cargos nas promotorias, defensorias e magistraturas).

A censura sendo costurada com o slogan de combate à misoginia seria um desdobramento do alto grau de aparelhamento já observado nas recentes décadas.

Em 2023, o Senado Federal instituiu uma comissão para alterar dispositivos do Código Civil, nele fazendo constar a possibilidade de pensão alimentícia até para animais, na linha do pensamento liberal de liquefação do conceito de família e ruptura de paradigmas.  Ao que devemos perguntar: onde estão os juristas católicos para se opor às aberrações promovidas no seio do direito civil? Desmobilizados, quietos, ou pior, fazendo o voto de que a sua religião não deve interferir no regime jurídico do direito de família. No entanto, eles se mobilizam para tratar da pílula vermelha e as suas bancadas colocam adiante projetos que apenas agravam a situação.

Para se ter uma ideia, existe mais reclamação contra o divórcio por parte dos masculinistas do que pelos conservadores, que já largaram essa questão há tempos e encaram com naturalidade as novidades de seu tempo e a troca de parceiros e a maternidade solteira. Como se não bastasse, funcionam como suavizadores dos demais impactos provocados pelo feminismo, isso quando não são colaboradores ativos dessas transformações.

É feita a acusação de que o afastamento das mulheres seria uma contribuição à entropia social promovida pelo feminismo, de que, se por um lado o intuito das feministas é destruir o matrimônio, por outro a postura dos homens que o boicotassem as estaria ajudando a alcançar esse desiderato. A verdadeira colaboração com o sistema ideológico ocorre quando as causas são reforçadas e as críticas relevadas. Quem estiver preocupado com a crise de relacionamentos não irá reduzir esse acontecimento a uma “crise masculina”, mas trabalhará para remover os fatores que contribuem para o desastre, afinal de contas, cessada a causa, modificam-se os efeitos.

4) Psicologização típica de coaches - autoajuda. – Os comentaristas sobre o problema do feminismo tratam da questão como se se tratasse de um programa de “Casos de Família”, desentendimentos de casais, homens tímidos, irresponsáveis e imaturos para manter uma relação.

Com uso da psicologização, os retóricos transformam problemas reais em questões que navegam no campo puro da psicologia humana. Então há uma substituição de problemas concretos, constitutivos de fatos sociais e instituições impositivas por situações abstratas, tratando todos os tipos de aberrações promovidas pelo feminismo na sociedade como se fossem secundárias. Para os retóricos se imporem, eles precisam descartar todos os fatos, os problemas reais e seus agentes, focando tão somente na psicologia dos adeptos do antifeminismo.

Essa é uma das maiores vulnerabilidades e explica o porquê de suas abordagens sobre o tema serem tão fracas.

Considerando que os acontecimentos da revolução sexual vieram primeiro e as reações psicológicas surgem a posteriori, os retóricos tentam de extrair do acontecido a posteriori o principal para explicar o antecedente. São coaches, não são estudiosos de um assunto procurando traçar um quadro e colher seus elementos.

Por exemplo, um dos interlocutores sabe da hostilidade alimentada pelo feminismo nas mulheres, o retórico ressalta que isso encontra uma hostilidade nutrida pelos homens como reação e então os homens criariam um fator impeditivo para o diálogo e, por via de consequência, frustrariam uma relação. Assim, ele ao mesmo tempo que isenta as mulheres, transfere a carga para o outro lado.

Posteriormente a coisa piora e passam a tratar da questão como se fosse um afastamento, em linhas gerais, da questão do amor, do outro, etc... recaindo no vício já apontado antes, sobre dissolver a questão específica num poço de generalidades, além de cair em lirismos baratos, muito aquém do que se espera de uma abordagem intelectualizada do assunto.

A contribuição que coaches podem fornecer à pílula vermelha é mínima, os tratamentos psiquiátricos e terapêuticos podem entrar em cena quando o meio está estruturado, mas é o sujeito que se encontra descompassado; já numa situação contrária, quando é a sociedade que se encontra apodrecida, a reação, inclusive aquela que se manifesta pelo boicote e exposição das artimanhas revolucionárias feministas, é mais que salutar, ela é necessária.

Os retóricos estão muito abaixo da bagagem adequada para dissecar o assunto, então tergiversam, tratam de questões supérfluas ou perspectivas infrutíferas, em todo caso o feminismo segue sendo um elefante branco na sala. Um deles confessa que a discussão é feita sem fontes, ou seja, eles não pesquisaram NADA.

Digo isso porque um deles afirmou que a união matrimonial se recomenda pelo fato de que “os seus pais, avôs, tataravós, etc.. terem celebrado uma união com as suas respectivas esposas”. Se meus pais e avôs fizeram, eu também irei fazer, como se nada houvesse interferido nesse meio tempo de maneira radical e substancial, alterando as cláusulas matrimoniais por completo. Que isso seja dito por um tiozão de bar sem estudo, focado tão somente em trabalhar, assistir novela e ir a passeios turísticos, vá lá, mas o círculo dos discutidores acerca da redpill geralmente é composto por gente com pretensões de crítica intelectual profunda, ou como a própria thumbnail faz constar: “crítica destrutiva”.

Porém, se a sua intenção ao formarem círculos de debates é promover uma desconstrução das críticas masculinas, deveriam ter feito o trabalho de casa e pesquisado o arcabouço crítico dos masculinistas.

A responsabilidade do crítico competente é mapear as bases teóricas de uma determinada corrente e desconstruí-las, desde o ponto de vista abstrato até as suas consequências práticas. Os retóricos não tratarão nem de uma e, quanto á outra, as consequências práticas são tão remotas que pouco afetam as afirmações da androsfera.  Em suma, os retóricos são coniventes com a revolução feminista.

Há canal que integra essa tal androsfera e possui número considerável de inscritos, não é anônimo, repercute bem na bolha e respinga inclusive fora dela, por que estão fingindo que não existe?

 Existem publicações em blogs antigos, livros e artigos que circulam e são citados, não fizeram o trabalho que se espera de um intelectual, que é ler e pesquisar? Aonde foi parar o tal do status questionis?

5) Fuga do julgamento das mulheres – Foi Tertuliano quem, logo nos primeiros séculos da Igreja, fez uma exortação às mulheres de seu tempo para que se portassem com modéstia e se vestissem com elegância: “Vesti-vos com o tecido da probidade, com o linho da santidade, com a púrpura da castidade.
Assim, pintadas dessa maneira, tereis Deus como vosso amante
[6].

Caminhando em sentido diverso, há uma verdadeira recusa em cobrar das mulheres o mínimo de recato, quiçá o cumprimento de seus papéis. Aliás, o mero fato de que as mulheres possuem papéis é capaz de causar estranhamento geral nas atuais circunstâncias.

São elas que, em geral, não querem casar, não querem filhos e renunciaram à sua vocação de esposas, pesquisas comprovam isso, mas os olhos e o senso comum deveriam bastar.

 

Na pesquisa da Morgan, seriam aproximadamente 45% das mulheres, na faixa etária entre 25 e 44 anos, que estão previstas para não terem filhos e serem solteiras conforme demonstrou a pesquisa. Pois a presença crescente de mulheres solteiras no mercado de trabalho, provocou mudanças de hábitos de consumo e estilo de vida[7]

 

Outra matéria diz que o percentual seria de 50%, como a variação é própria desse tipo de estudo, que busca traçar faixas prováveis do fenômeno, ainda que escolhêssemos o mínimo de 45%, isso já seria escandaloso, já que seria confissão de que as próprias mulheres consideram o matrimônio instituição falida e reproduzem os modos da ideologia sexista, o que aliás já foi identificado pelos masculinistas.

Fala-se muito em crise do homem, às vezes querendo-se afirmar crise da humanidade, mas o corrente sentido dessa expressão é para referir-se à crise da masculinidade, passando então a cobrar satisfações do porquê de os homens modernos estarem supostamente faltando com os seus papéis, chegando-se ao momento chave em que se encerra uma condenação geral contra aqueles que passaram a desaconselhar os relacionamentos.

A ideia é passar a imagem desses homens como imaturos, então de certa forma a psicologização e autoajuda colaboram para a isenção das mulheres que, se da boca para fora se dizem contra o feminismo, não se dispõem a se transforem em personificações da feminilidade, da maternidade ou religiosidade mariana que descartaram há tempos.

Nas circunstâncias atuais, mulher nenhuma tem moral para falar do homem moderno, pois absorveram diversas características introduzidas na cultura pelo feminismo e todas elas são, em maior ou menor grau, adeptas do feminismo. Já se falou o suficiente sobre crise masculina, mas nada sobre a crise feminina. O julgamento da mulher moderna é inevitável, ela que recusa o casamento, ela que se divorcia, ela que usa os mecanismos institucionais em seu favor, que pensa poder viver sem a presença masculina com o devido acatamento e recusando a sua vocação de auxiliadora do homem. Em épocas passadas, a sociedade como um todo sancionaria a mulher moralmente desviante, lembrando-a da existência de um código de maneiras femininas, obliterado na atualidade para ceder lugar à falsa liberdade, que passa incólume aos olhos dos que se imaginam tradicionais, mas cujo tradicionalismo pregado aos homens destoa da modernidade permitida às fêmeas, cujos ardis não passam despercebidos dos olhos dos homens antifeministas, que sabem que aceitar esse teatro seria o mesmo que se tornarem não heróis, mas palhaços.

Conclusão

Quando arguições contrárias ao ramo da pílula são levantadas por sujeitos não feministas, principalmente a partir de perfis com nuances de tradicionalismo, num primeiro momento eles aparentam que irão falar montados numa estrutura intelectual literária, filosófica e de bases teológicas, que em pouco tempo se prova miragem, desfeita e substituída por uma conversa de coaches e terapeutas, e é esse tipo de perfil que se repetirá praticamente todas as vezes em que algum anti-pílula se manifestar. Visualizando esse quadro, essas vulnerabilidades parecem ser de difícil superação, porque eles parecem incapazes de analisar, seja com filosofia, lógica ou mesmo literatura, as realidades sociológicas que embasam o discurso masculinista. Não é pelo fato de serem casados, porque os anti-pílula que são solteiros apresentam a mesma limitação. Se o adepto da androsfera se mantiver nos limites desse campo intersexual e suas conclusões forem pertinentes a ele, continuará sólido e irrefutável, se decidir sair do seu campo de competência, passará a ser vulnerável ele próprio. A ocasião aqui foi ressaltar as vulnerabilidades não dos antifeministas, mas sim dos anti-antifeministas, que é o que os retóricos acabam sendo no final das contas.



[2] Falácia dita por volta de 58:00 no vídeo do IB. Sobre os Red Pill e a crise da masculinidade / Crítica Destrutiva / 052. https://www.youtube.com/live/t5a5vGxnKl4?si=Al9lhH5edpdtFSOZ  

[3] BÌBLIA SAGRADA. Versão padre Matos Soares. P. 344.

[4] BÍBLIA SAGRADA. Tradução e comentário pelo Padre Mattos Soares. Salmo XVII, 26-28.

[6] De Cultu Feminarum.

[7] Mulheres – Estudo americano aponta transformação social para mulheres, até 2030. https://www.grupometanews.com.br/post/mulheres-estudo-americano-aponta-transforma%C3%A7%C3%A3o-social-para-mulheres-at%C3%A9-2030

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Cinco vulnerabilidades estruturais dos discursos anti-pílula

  As pretensas refutações ao discurso da pílula vermelha costumam ser marcadas pela falta de embasamento. Em geral, os círculos conservadore...