sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Após o contragolpe de 64, Carlos Lacerda correu para ajudar os esquerdistas

 


O professor Monir Nasser já afirmou que Carlos Lacerda não quis disputar a presidência após o mandato de Juscelino Kubitschek, porque ele não queria ficar ofuscado com a popularidade de JK, então colocou um louco para disputar um mandato, somente depois disso que Lacerda iria fazer campanha em nome próprio.

Jânio Quadros, um desequilibrado com traços histriônicos e demagogos, vence o pleito e renuncia pouco tempo depois. É sucedido pelo vice, João Goulart, que busca aproximação com os elementos sindicalistas e socialistas, já naquela época completamente internacionais, porque marcados da funcionalidade de puxar os países para o comunismo e suas frentes, como o “movimento de países não alinhados”.

Ele intensifica os preparativos para a socialização (ou cubanização), até o ponto em que do próprio campo comunista eram escutadas vozes no sentido de que “terá golpe, se não nosso, deles!”. Luís Carlos prestes assegurou o alinhamento do país à esfera soviética, ele inclusive chegou a dizer que os comunistas já estavam no governo.

Carlos Lacerda é apregoado como sendo um nome talentoso que poderia representar o campo patriótico e conservador da época, ou seja, fazer frente contra a esquerda e os comunistas. Assim sendo, vejamos as movimentações de Lacerda logo após o contragolpe dos militares em 1964.

Tratava-se de um animal político, que dependia do jogo partidário para poder sobreviver. Naturalmente, observando o fechamento político, constatou a falta de possibilidades no horizonte e passou então, de apoiador inicial, a oposicionista declarado dos militares. Lacerda fracassou em fazer seu sucessor para o governo da Guanabara, em 1965, além de ver as suas chances de se tornar Presidente da República se esfacelarem diante de seus olhos.

Ele era da União Democrática Nacional (UDN) durante os governos de JK e Jango, mas com a introdução do bipartidarismo houve a criação do ARENA e do MDB, no qual se encontrava alguns dos correligionários de Lacerda, como Renato Ascher e Armindo Doutel de Andrade, que seriam funcionais na articulação que Lacerda iria fazer contra os militares.

Considerando que Kubitschek estava em Lisboa e Goulart no Uruguai, Lacerda buscou intermediários para dialogar com as figuras políticas do regime anterior, contando com a mediação de Renato Archer (MDB) para alcançar Juscelino Kubitshcek; e de Doutel de Andrade (MDB), para dialogar com o próprio João Goulart.

Em 24 de setembro de 1967, Lacerda foi para o Uruguai e, no dia 25, encontrou-se com Goulart, divulgando uma nota conjunta de oposição ao governo brasileiro. Desde 1966, a ideia era formar uma frente ampla contra o regime militar. Estavam Lacerda, João Goulart e Renato Archer (representante de Kubitschek, que se encontrava em Lisboa).

Lacerda teria dito:  Hoje está comprovado que Jango não é um homem do Partido Comunista nem eu dos Estados Unidos

A frente Ampla passou a buscar aproximação com o movimento estudantil e trabalhista, um comício foi realizado em Santo André e outro, feito em Maringá, em abril de 1968, teria reunido mais de 15 mil pessoas. Em 5 de abril de 1968, o presidente Costa e Silva baixa Portaria de nº 177 do Ministério da Justiça, proibindo as atividades da Frente Ampla e ordenando à Polícia Federal que prendesse todos aqueles que descumprissem o ato normativo.

Vejamos o que os jornais da época registraram sobre o ato de Costa e Silva:

 

GOVERNO BAIXA NOVO ATO

O ministro da Justiça, Sr. Gama e Silva, anunciou ontem, por volta das 23 horas, duas medidas adotadas pelo governo da Republica, consubstanciadas no Ato Institucional no 5, que entrou em vigor ontem mesmo, e o Ato Complementar, decorrente do Institucional, que decretou o recesso do Congresso. O Ato Complementar não estipulou o prazo do recesso.

O presidente reúne seus ministros para decisão

No começo da tarde de ontem, o presidente Costa e Silva, reuniu-se no Palácio das Laranjeiras com os três ministros militares - general Lyra Tavares, do Exército; almirante Augusto Rademaker, da Marinha e brigadeiro Marcio de Sousa Mello, da Aeronáutica - e com o ministro da Justiça, prof. Gama e Silva. Outros ministros já estavam, nessa hora, nas Laranjeiras, enquanto se aguardava, para as próximas horas, uma declaração do governo dando sua posição oficial em relação à negativa da Câmara dos Deputados em conceder a licença para a cassação do deputado Marcio Nogueira Alves.

Durante o encontro, discutiu-se a edição de um Ato Institucional, cujo conteúdo seria divulgado durante o pronunciamento que o presidente faria mais tarde, através de uma cadeia de radio e televisão.

Em seguida, após duas horas de reunião com os ministros militares e mais uma hora com os ministros civis, o marechal Costa e Silva decidiu convocar uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, para às 18 horas.

A edição do Ato foi apreciada à noite, pelo Conselho, em sessão de que participaram todos os ministros e os generais Jaime Portela, chefe da Casa Militar, e Orlando Geisel, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.

 

Com relação à viagem de Lacerda e o acordo celebrado entre seus antigos rivais, o acontecimento foi registrado pela Folha de São Paulo, em publicação que data de 26 de setembro de 1967:

 

LACERDA VAI A JANGO E FAZ PACTO POLITICO[1]

O sr. Carlos Lacerda foi a Montevidéu procurar o sr. João Goulart, para obter o apoio do ex-presidente da republica, deposto pela Revolução de Março, para a Frente Ampla.

Uma declaração conjunta, emitida por ambos, na capital Uruguai, afirma, entre outras coisas, que ambos estão convencidos "da necessidade inadiável de promover o processo de redemocratização do Brasil". O encontro se deu na presença de um representante do sr. Kubitschek, sr. Renato Archer.

O ex-presidente Goulart dá, com sua assinatura à declaração, o seu apoio total á Frente Ampla.

Ao regressar, ontem, ao Brasil, o sr. Carlos Lacerda declarou em Viracopos, de passagem para o Rio, que estava satisfeito com a adesão do sr. Goulart.

O sr. Leonel Brizola, também asilado no Uruguai, emitiu uma declaração condenando violentamente a atitude de Goulart.

No Ministério da Justiça, informava-se que, em face do encontro de Montevidéu, o governo brasileiro poderá pedir ao Uruguai o internamento do ex-presidente.

No Rio, comentava-se que o momento do encontro foi cuidadosamente escolhido pelo sr. Lacerda, que aproveitou a realização da reunião do Fundo Monetário Internacional, a fim de obter maior repercussão para o acordo.

JANGO RECEBE LACERDA FRENTE A FRENTE

Os srs. Carlos Lacerda e João Goulart concordaram ontem, em Montevidéu, "em unir seus esforços em busca de soluções pacificas para a crise brasileira, sem cultivar ressentimentos pessoais nem propósitos revanchistas".

Os dois políticos, inimigos acérrimos, conversaram durante toda a manhã de ontem, para chegar à convicção da "necessidade inalienável de promover um processo de redemocratização do Brasil".

Lacerda chegou incógnito à capital uruguaia, acompanhado do deputado Renato Archer, representante pessoal do sr. Juscelino Kubitschek.

O encontro realizou-se no apartamento de João Goulart, no bairro de "Villa Biarritz".

Em Montevidéu, Lacerda declarou que "somente a união do povo brasileiro pode provocar uma mudança para a verdadeira democracia". Acrescentou que os que queriam colaborar na Frente Ampla sem distinção de cor política - terão as portas abertas "para alcançar a mobilização da opinião pública".

"Hoje está comprovado que Jango não é um homem do Partido Comunista nem eu dos Estados Unidos", disse Lacerda.

EM VIRACOPOS

Ao passar por Viracopos às 19h20 de ontem, procedente de Montevidéu e com destino à Guanabara, o sr. Carlos Lacerda disse que o sr. João Goulart aceitou participar da Frente Ampla. Acompanhava o ex-governador o deputado Renato Archer, que esteve na capital uruguaia representando o sr. Juscelino Kubitschek.

Lacerda acrescentou: "Aos poucos, estamos eliminando as duvidas sobre a Frente Ampla. Agora partimos para mobilização do povo. Tivemos três longas conversas (ele e Jango) que correram muito bem. Cheguei ontem, na hora do almoço, e logo depois tivemos nossa primeira conversa que durou até o jantar. Logo depois reunimo-nos novamente, até a madrugada. Nossa ultima conversa começou hoje de manhã e acabou à hora do embarque".

Lacerda fez questão de desmentir uma agencia noticiosa que informou ter o sr. Leonel Brizola se recusado a manter conversações com ele.

"Fui ao Uruguai procurar o dr. João Goulart. Não houve de minha parte qualquer tentativa de encontro com o sr. Brizola", declarou.

OS PREPARATIVOS

O sr. Carlos Lacerda seguira para Montevidéu às 10h25 de domingo. O avião devia deixar o Galeão às 8horas, mas, devido ao mau tempo em Porto Alegre (onde faria escolta), acabou decolando com mais de duas horas de atraso.

A chegada a Montevidéu ocorreu às 14h30. No aeroporto, vários amigos comuns (dele e de Goulart) aguardavam o ex-governador carioca, que seguiu imediatamente para o Hotel Alhambra, onde ficou hospedado, aguardando o encontro com o ex-presidente.

Desde terça-feira da semana passada estava praticamente decidida a viagem de Lacerda a Montevidéu, faltando apenas alguns pormenores de que se encarregaram os emissários de ambos os lados.

Quarta-feira, um representante de Lacerda seguiu para a capital uruguaia, onde conversou demoradamente com Jango, obtendo deste a palavra final: "Não só concordava com o encontro, como o considerava indispensável para o equacionamento da situação nacional, para os trabalhos de redemocratização e para a aceleração da Frente Ampla".

Quinta e sexta-feira, através de seguidos telefonemas, estabeleceu-se o roteiro do encontro, assentando-se os principais pontos a serem debatidos (...)

 

O texto elaborado pelo grupo da Frente Ampla manifesta preocupação com a conjuntura política do País e conclama a retomada de eleições diretas e reabertura democrática, falando em movimento cívico. O documento é a justificativa dessa frente de oposição, que alega ser movida por nobres intuitos.

Portanto, se em 1964 Carlos Lacerda aceitava a gravidade da situação, anos depois, ao perceber que suas ambições políticas seriam frustradas, passou a condenar o contragolpe que inicialmente apoiara. Isso nos leva a concluir que, entre a derrota política dos grupos socialistas revolucionários e o seu próprio projeto pessoal de poder, Lacerda estava mais preocupado com este último.

Teria o comunismo desaparecido em 1967, na época da Frente Ampla? Ou era apenas o carreirismo de Carlos Lacerda que estava em jogo, preocupado sobretudo com suas chances de ascensão no plano político-partidário?

Os militares possuíam uma visão essencialmente bélica, e os movimentos da luta armada foram erradicados. Lacerda, por sua vez, era considerado um homem de visão política. Os militares são acusados de, com os olhos voltados aos assuntos de guerrilha, não terem prestado atenção à atividade comunista na cultura e na política indireta. Sendo assim, tomando Lacerda como talento político excepcional e anticomunista, por que é que ele não percebeu o movimento comunista em sua dimensão política mais ampla, portanto fora do campo de visão dos militares?

Os militares comumente são considerados truculentos e burros nas questões políticas, é o caso de se perguntar se a inteligência do Carlos Lacerda consistiu justamente em ir apoiar e fomentar os cúmplices do projeto socialista que avançava na década de 60 e cujos efeitos se fazem sentir até os dias de hoje.

O exército colombiano é elogiado por se posicionar de forma mais ativa contra comunistas em seu país, assim o é porque naquela região os comunistas atuam com estrutura de grupos militares, desde a formação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) até a sua falsa dissolução e posterior composição do Exército de Libertação Nacional (ELN). Os comunistas não têm problema nenhum em matar e, estando em voga a teoria foquista, por meio da qual o espalhamento de focos guerrilheiros seria o meio adequado para atingir a supremacia vermelha, a implementação de leis especiais é essencial para a repressão desses grupos.

Porém, nesses casos, a repressão a grupos armados é denominada de ditadura pelos comunistas e seus satélites midiáticos, para os esquerdistas a tolerância é máxima e a morte de seus assassinos em meio a combate com forças policiais é tratada como uma espécie de martírio. Por outro lado, quando se trata da repressão voltada para opositores, mesmo a feita contra grupos desarmados, portando apenas bandeiras, a repressão política é então vendida como “defesa da democracia”. Assim é porque os esquerdistas nunca estiveram preocupados nem com censura, nem com democracia, que é uma palavra cifrada. Na boca dos comunistas, democracia é sinônimo de triunfo do partido, representante do proletariado, contra os elementos burgueses, que devem ser eliminados. Como o partido finge representar o proletariado, ele está com o povo (demos), portanto é democrático, o massacre contra os setores reacionários será considerado democrático, assim como o fechamento de jornais e torturas contra os infratores e seus familiares.

Era esse tipo de democracia que Lacerda, um idiota útil, foi apoiar quando pegou avião e passou a montar seu grupo.  

A Colômbia não recrudesceu o regime, vive com o cancro das FARC até os dias de hoje.

Quando o comunismo se apresenta como um alvo militar, os militares respondem à altura, difícil é a situação quando o seu domínio territorial não provém das armas, mas do discurso e das ideias, inundando universidades e escolas. Nesse caso, o comunismo atua como um vírus de mapeamento difícil.

Fato é que Lacerda desconsiderou o alinhamento que o governo Jango vinha realizando com relação ao sovietismo na América Latina, temos registros de um acidente aéreo ocorrido em solo brasileiro, cujos destroços continham informações fundamentais vinculando Cuba à luta armada no continente. De posse de tais documentos, Jango os enviou diretamente para a Cuba, sem suscitar conflito ou reclamar desse tipo de intervenção.

Lacerda, em uma entrevista, ao ser perguntado sobre um possível diálogo com Luís Carlos Prestes, ele ressaltou que “O Luís Carlos Prestes não morde”.

Com a constituição da Frente Ampla, prosseguiu-se a uma campanha para fomentar a instabilidade do regime, isso culminaria no Ato Institucional nº 5 de 1968. Carlos Lacerda é uma figura que, embora não padeça dos vícios graves de outros da época, é geralmente apresentado com uma dimensão e visão muito além da que ele realmente tinha. Não o vejo como comunista ou esquerdista, mas a sua atuação se enquadra na categoria de idiota útil e seus admiradores não têm base para condenar os militares, alegando uma miopia política também presente na figura de Carlos Lacerda.

 

 

LINKS e NOTAS

GOVERNO BAIXA NOVO ATO.  Publicado na Folha de S. Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1968. http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_14dez1968.htm

Como Carlos Lacerda 'vendeu' golpe de 64 em tour pela Europa. https://www.bbc.com/portuguese/articles/ckrdx4vrky4o

A frente ampla de oposição ao regime militar (1966-1968). https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUBD-9D8FCP

Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, João Goulart e a frente ampla de oposição ao Regime Militar (1966-1968). https://periodicos.ufba.br/index.php/rvh/article/view/48879

LACERDA VAI A JANGO E FAZ PACTO POLITICO. http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_26set1967.htm

1967: Formação da Frente Ampla. https://manchetempo.uff.br/?p=2464

Frente Ampla e a atração dos opostos políticos. https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/frente-ampla-e-a-atracao-dos-opostos-politicos.htm

Jango, JK e Lacerda criam Frente Ampla. https://memorialdademocracia.com.br/card/jango-jk-e-lacerda-criam-frente-ampla

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Após o contragolpe de 64, Carlos Lacerda correu para ajudar os esquerdistas

  O professor Monir Nasser já afirmou que Carlos Lacerda não quis disputar a presidência após o mandato de Juscelino Kubitschek, porque ele ...