O professor Monir Nasser já afirmou que Carlos Lacerda não quis disputar
a presidência após o mandato de Juscelino Kubitschek, porque ele não queria
ficar ofuscado com a popularidade de JK, então colocou um louco para disputar
um mandato, somente depois disso que Lacerda iria fazer campanha em nome
próprio.
Jânio Quadros, um desequilibrado com traços histriônicos e demagogos,
vence o pleito e renuncia pouco tempo depois. É sucedido pelo vice, João
Goulart, que busca aproximação com os elementos sindicalistas e socialistas, já
naquela época completamente internacionais, porque marcados da funcionalidade
de puxar os países para o comunismo e suas frentes, como o “movimento de países
não alinhados”.
Ele intensifica os preparativos para a socialização (ou cubanização), até
o ponto em que do próprio campo comunista eram escutadas vozes no sentido de
que “terá golpe, se não nosso, deles!”. Luís Carlos prestes assegurou o
alinhamento do país à esfera soviética, ele inclusive chegou a dizer que os
comunistas já estavam no governo.
Carlos Lacerda é apregoado como sendo um nome talentoso que poderia
representar o campo patriótico e conservador da época, ou seja, fazer frente
contra a esquerda e os comunistas. Assim sendo, vejamos as movimentações de
Lacerda logo após o contragolpe dos militares em 1964.
Tratava-se de um animal político, que dependia do jogo partidário para
poder sobreviver. Naturalmente, observando o fechamento político, constatou a
falta de possibilidades no horizonte e passou então, de apoiador inicial, a
oposicionista declarado dos militares. Lacerda fracassou em fazer seu sucessor
para o governo da Guanabara, em 1965, além de ver as suas chances de se tornar
Presidente da República se esfacelarem diante de seus olhos.
Ele era da União Democrática Nacional (UDN) durante os governos de JK e
Jango, mas com a introdução do bipartidarismo houve a criação do ARENA e do
MDB, no qual se encontrava alguns dos correligionários de Lacerda, como Renato
Ascher e Armindo Doutel de Andrade, que seriam funcionais na articulação que
Lacerda iria fazer contra os militares.
Considerando que Kubitschek estava em Lisboa e Goulart no Uruguai, Lacerda
buscou intermediários para dialogar com as figuras políticas do regime
anterior, contando com a mediação de Renato Archer (MDB) para alcançar
Juscelino Kubitshcek; e de Doutel de Andrade (MDB), para dialogar com o próprio
João Goulart.
Em 24 de setembro de 1967, Lacerda foi para o Uruguai e, no dia 25,
encontrou-se com Goulart, divulgando uma nota conjunta de oposição ao governo
brasileiro. Desde 1966, a ideia era formar uma frente ampla contra o regime
militar. Estavam Lacerda, João Goulart e Renato Archer (representante de
Kubitschek, que se encontrava em Lisboa).
Lacerda teria dito: “Hoje está comprovado que Jango não
é um homem do Partido Comunista nem eu dos Estados Unidos”
A frente Ampla passou a buscar aproximação com o movimento estudantil e
trabalhista, um comício foi realizado em Santo André e outro, feito em Maringá,
em abril de 1968, teria reunido mais de 15 mil pessoas. Em 5 de abril de 1968,
o presidente Costa e Silva baixa Portaria de nº 177 do Ministério da Justiça,
proibindo as atividades da Frente Ampla e ordenando à Polícia Federal que
prendesse todos aqueles que descumprissem o ato normativo.
Vejamos o que os
jornais da época registraram sobre o ato de Costa e Silva:
GOVERNO BAIXA NOVO ATO
O
ministro da Justiça, Sr. Gama e Silva, anunciou ontem, por volta das 23 horas,
duas medidas adotadas pelo governo da Republica, consubstanciadas no Ato
Institucional no 5, que entrou em vigor ontem mesmo, e o Ato Complementar,
decorrente do Institucional, que decretou o recesso do Congresso. O Ato
Complementar não estipulou o prazo do recesso.
O presidente reúne seus ministros
para decisão
No
começo da tarde de ontem, o presidente Costa e Silva, reuniu-se no Palácio das
Laranjeiras com os três ministros militares - general Lyra Tavares, do Exército;
almirante Augusto Rademaker, da Marinha e brigadeiro Marcio de Sousa Mello, da
Aeronáutica - e com o ministro da Justiça, prof. Gama e Silva. Outros ministros
já estavam, nessa hora, nas Laranjeiras, enquanto se aguardava, para as
próximas horas, uma declaração do governo dando sua posição oficial em relação
à negativa da Câmara dos Deputados em conceder a licença para a cassação do
deputado Marcio Nogueira Alves.
Durante
o encontro, discutiu-se a edição de um Ato Institucional, cujo conteúdo seria
divulgado durante o pronunciamento que o presidente faria mais tarde, através
de uma cadeia de radio e televisão.
Em
seguida, após duas horas de reunião com os ministros militares e mais uma hora
com os ministros civis, o marechal Costa e Silva decidiu convocar uma reunião
do Conselho de Segurança Nacional, para às 18 horas.
A
edição do Ato foi apreciada à noite, pelo Conselho, em sessão de que
participaram todos os ministros e os generais Jaime Portela, chefe da Casa
Militar, e Orlando Geisel, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
Com relação à viagem de
Lacerda e o acordo celebrado entre seus antigos rivais, o acontecimento foi
registrado pela Folha de São Paulo, em publicação que data de 26 de setembro de
1967:
LACERDA VAI A JANGO E FAZ PACTO
POLITICO[1]
O sr.
Carlos Lacerda foi a Montevidéu procurar o sr. João Goulart, para obter o apoio
do ex-presidente da republica, deposto pela Revolução de Março, para a Frente
Ampla.
Uma declaração
conjunta, emitida por ambos, na capital Uruguai, afirma, entre outras coisas,
que ambos estão convencidos "da necessidade inadiável de promover o
processo de redemocratização do Brasil". O encontro se deu na presença de
um representante do sr. Kubitschek, sr. Renato Archer.
O
ex-presidente Goulart dá, com sua assinatura à declaração, o seu apoio total á
Frente Ampla.
Ao
regressar, ontem, ao Brasil, o sr. Carlos Lacerda declarou em Viracopos, de
passagem para o Rio, que estava satisfeito com a adesão do sr. Goulart.
O sr.
Leonel Brizola, também asilado no Uruguai, emitiu uma declaração condenando
violentamente a atitude de Goulart.
No
Ministério da Justiça, informava-se que, em face do encontro de Montevidéu, o
governo brasileiro poderá pedir ao Uruguai o internamento do ex-presidente.
No Rio,
comentava-se que o momento do encontro foi cuidadosamente escolhido pelo sr.
Lacerda, que aproveitou a realização da reunião do Fundo Monetário
Internacional, a fim de obter maior repercussão para o acordo.
JANGO
RECEBE LACERDA FRENTE A FRENTE
Os srs.
Carlos Lacerda e João Goulart concordaram ontem, em Montevidéu, "em unir
seus esforços em busca de soluções pacificas para a crise brasileira, sem
cultivar ressentimentos pessoais nem propósitos revanchistas".
Os dois
políticos, inimigos acérrimos, conversaram durante toda a manhã de ontem, para
chegar à convicção da "necessidade inalienável de promover um processo de
redemocratização do Brasil".
Lacerda
chegou incógnito à capital uruguaia, acompanhado do deputado Renato Archer,
representante pessoal do sr. Juscelino Kubitschek.
O
encontro realizou-se no apartamento de João Goulart, no bairro de "Villa
Biarritz".
Em
Montevidéu, Lacerda declarou que "somente a união do povo brasileiro pode
provocar uma mudança para a verdadeira democracia". Acrescentou que os que
queriam colaborar na Frente Ampla sem distinção de cor política - terão as
portas abertas "para alcançar a mobilização da opinião pública".
"Hoje
está comprovado que Jango não é um homem do Partido Comunista nem eu dos
Estados Unidos", disse Lacerda.
EM VIRACOPOS
Ao
passar por Viracopos às 19h20 de ontem, procedente de Montevidéu e com destino
à Guanabara, o sr. Carlos Lacerda disse que o sr. João Goulart aceitou
participar da Frente Ampla. Acompanhava o ex-governador o deputado Renato
Archer, que esteve na capital uruguaia representando o sr. Juscelino
Kubitschek.
Lacerda
acrescentou: "Aos poucos, estamos eliminando as duvidas sobre a Frente
Ampla. Agora partimos para mobilização do povo. Tivemos três longas conversas
(ele e Jango) que correram muito bem. Cheguei ontem, na hora do almoço, e logo
depois tivemos nossa primeira conversa que durou até o jantar. Logo depois
reunimo-nos novamente, até a madrugada. Nossa ultima conversa começou hoje de
manhã e acabou à hora do embarque".
Lacerda
fez questão de desmentir uma agencia noticiosa que informou ter o sr. Leonel
Brizola se recusado a manter conversações com ele.
"Fui
ao Uruguai procurar o dr. João Goulart. Não houve de minha parte qualquer
tentativa de encontro com o sr. Brizola", declarou.
OS PREPARATIVOS
O sr.
Carlos Lacerda seguira para Montevidéu às 10h25 de domingo. O avião devia
deixar o Galeão às 8horas, mas, devido ao mau tempo em Porto Alegre (onde faria
escolta), acabou decolando com mais de duas horas de atraso.
A
chegada a Montevidéu ocorreu às 14h30. No aeroporto, vários amigos comuns (dele
e de Goulart) aguardavam o ex-governador carioca, que seguiu imediatamente para
o Hotel Alhambra, onde ficou hospedado, aguardando o encontro com o
ex-presidente.
Desde
terça-feira da semana passada estava praticamente decidida a viagem de Lacerda
a Montevidéu, faltando apenas alguns pormenores de que se encarregaram os
emissários de ambos os lados.
Quarta-feira,
um representante de Lacerda seguiu para a capital uruguaia, onde conversou
demoradamente com Jango, obtendo deste a palavra final: "Não só concordava
com o encontro, como o considerava indispensável para o equacionamento da
situação nacional, para os trabalhos de redemocratização e para a aceleração da
Frente Ampla".
Quinta
e sexta-feira, através de seguidos telefonemas, estabeleceu-se o roteiro do
encontro, assentando-se os principais pontos a serem debatidos (...)
O texto elaborado pelo grupo da Frente Ampla manifesta preocupação com a conjuntura política do País e conclama a retomada de eleições diretas e reabertura democrática, falando em movimento cívico. O documento é a justificativa dessa frente de oposição, que alega ser movida por nobres intuitos.
Portanto, se em 1964 Carlos Lacerda aceitava a gravidade da situação,
anos depois, ao perceber que suas ambições políticas seriam frustradas, passou
a condenar o contragolpe que inicialmente apoiara. Isso nos leva a concluir
que, entre a derrota política dos grupos socialistas revolucionários e o seu
próprio projeto pessoal de poder, Lacerda estava mais preocupado com este
último.
Teria o comunismo desaparecido em 1967, na época da Frente Ampla? Ou era
apenas o carreirismo de Carlos Lacerda que estava em jogo, preocupado sobretudo
com suas chances de ascensão no plano político-partidário?
Os militares possuíam uma visão essencialmente bélica, e os movimentos da
luta armada foram erradicados. Lacerda, por sua vez, era considerado um homem
de visão política. Os militares são acusados de, com os olhos voltados aos
assuntos de guerrilha, não terem prestado atenção à atividade comunista na
cultura e na política indireta. Sendo assim, tomando Lacerda como talento
político excepcional e anticomunista, por que é que ele não percebeu o
movimento comunista em sua dimensão política mais ampla, portanto fora do campo
de visão dos militares?
Os militares comumente são considerados truculentos e burros nas questões
políticas, é o caso de se perguntar se a inteligência do Carlos Lacerda
consistiu justamente em ir apoiar e fomentar os cúmplices do projeto socialista
que avançava na década de 60 e cujos efeitos se fazem sentir até os dias de
hoje.
O exército colombiano é elogiado por se posicionar de forma mais ativa
contra comunistas em seu país, assim o é porque naquela região os comunistas
atuam com estrutura de grupos militares, desde a formação das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC) até a sua falsa dissolução e posterior
composição do Exército de Libertação Nacional (ELN). Os comunistas não têm
problema nenhum em matar e, estando em voga a teoria foquista, por meio da qual
o espalhamento de focos guerrilheiros seria o meio adequado para atingir a
supremacia vermelha, a implementação de leis especiais é essencial para a
repressão desses grupos.
Porém, nesses casos, a repressão a grupos armados é denominada de
ditadura pelos comunistas e seus satélites midiáticos, para os esquerdistas a
tolerância é máxima e a morte de seus assassinos em meio a combate com forças
policiais é tratada como uma espécie de martírio. Por outro lado, quando se
trata da repressão voltada para opositores, mesmo a feita contra grupos
desarmados, portando apenas bandeiras, a repressão política é então vendida
como “defesa da democracia”. Assim é porque os esquerdistas nunca estiveram
preocupados nem com censura, nem com democracia, que é uma palavra cifrada. Na
boca dos comunistas, democracia é sinônimo de triunfo do partido, representante
do proletariado, contra os elementos burgueses, que devem ser eliminados. Como
o partido finge representar o proletariado, ele está com o povo (demos),
portanto é democrático, o massacre contra os setores reacionários será
considerado democrático, assim como o fechamento de jornais e torturas contra
os infratores e seus familiares.
Era esse tipo de democracia que Lacerda, um idiota útil, foi apoiar
quando pegou avião e passou a montar seu grupo.
A Colômbia não recrudesceu o regime, vive com o cancro das FARC até os
dias de hoje.
Quando o comunismo se apresenta como um alvo militar, os militares
respondem à altura, difícil é a situação quando o seu domínio territorial não
provém das armas, mas do discurso e das ideias, inundando universidades e
escolas. Nesse caso, o comunismo atua como um vírus de mapeamento difícil.
Fato é que Lacerda desconsiderou o alinhamento que o governo Jango vinha
realizando com relação ao sovietismo na América Latina, temos registros de um
acidente aéreo ocorrido em solo brasileiro, cujos destroços continham
informações fundamentais vinculando Cuba à luta armada no continente. De posse
de tais documentos, Jango os enviou diretamente para a Cuba, sem suscitar
conflito ou reclamar desse tipo de intervenção.
Lacerda, em uma entrevista, ao ser perguntado sobre um possível diálogo
com Luís Carlos Prestes, ele ressaltou que “O Luís Carlos Prestes não morde”.
Com a constituição da Frente Ampla, prosseguiu-se a uma campanha para
fomentar a instabilidade do regime, isso culminaria no Ato Institucional nº 5
de 1968. Carlos Lacerda é uma figura que, embora não padeça dos vícios graves
de outros da época, é geralmente apresentado com uma dimensão e visão muito
além da que ele realmente tinha. Não o vejo como comunista ou esquerdista, mas
a sua atuação se enquadra na categoria de idiota útil e seus admiradores não
têm base para condenar os militares, alegando uma miopia política também presente
na figura de Carlos Lacerda.
LINKS e NOTAS
GOVERNO BAIXA NOVO ATO. Publicado
na Folha de S. Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1968. http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_14dez1968.htm
Como
Carlos Lacerda 'vendeu' golpe de 64 em tour pela Europa.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/ckrdx4vrky4o
A
frente ampla de oposição ao regime militar (1966-1968).
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUBD-9D8FCP
Carlos
Lacerda, Juscelino Kubitschek, João Goulart e a frente ampla de oposição ao
Regime Militar (1966-1968). https://periodicos.ufba.br/index.php/rvh/article/view/48879
LACERDA
VAI A JANGO E FAZ PACTO POLITICO. http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_26set1967.htm
1967:
Formação da Frente Ampla. https://manchetempo.uff.br/?p=2464
Frente
Ampla e a atração dos opostos políticos. https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/frente-ampla-e-a-atracao-dos-opostos-politicos.htm
Jango, JK e Lacerda criam Frente Ampla. https://memorialdademocracia.com.br/card/jango-jk-e-lacerda-criam-frente-ampla
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