terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Cinco vulnerabilidades estruturais dos discursos anti-pílula

 


As pretensas refutações ao discurso da pílula vermelha costumam ser marcadas pela falta de embasamento. Em geral, os círculos conservadores que começam a falar sobre a pílula vermelha assentam as suas bases no mesmo material levado ao público em geral: a mídia. Aquilo que ela escolhe dar visibilidade torna-se, assim, o ponto de partida da discussão, viciando o debate desde o início.

Consequentemente, não se pode dizer que houve pesquisa ou estudo sério nesse tipo de abordagem, feita com base numa impressão geral a partir de postagens aleatórias com o termo redpill indexado.

Uma comparação simples, que resume boa parte das manifestações contrárias aos masculinistas é a do sujeito que, diante de alguém que aponta o dedo para a lua, fica olhando o dedo e não o objeto indicado. Os comentaristas que não participam do movimento feminista e procuram uma forma de rechaçar igualmente o polo que lhe é oposto estão na mesma condição do sujeito que mantém o olhar fixo no dedo e ignora a lua.

No chat ao vivo houve um comentário destacando a superficialidade com que o tema estava sendo tratado, e essa constatação estava correta. É o caso de se perguntar o porquê de as abordagens sobre os masculinistas serem tão raquíticas quando provindas de outros homens que, embora não sejam feministas, não conseguiram captar o fenômeno do feminismo em sua real dimensão. Em discussões como essas, praticamente a unanimidade descamba para a autoajuda.

A pílula vermelha não é uma discussão para coaches, que tratam os problemas apresentados como conflitos internos que precisam ser solucionados com ajuda de terapia e truques de superação de timidez. Aliás, esses expedientes existem às pencas e já foram fornecidos aos homens pelos ditos “artistas de sedução”, portanto o material de coaching e autoajuda, a nível psicológico e interpessoal, já existia em fóruns, livros e artigos masculinistas antes mesmo que qualquer rebatedor anti-pílula abrisse a boca para tratar do tema.

A pílula vermelha comporta discussões sob diversas perspectivas, com materiais e manifestações de teor sentimental, familiar, jurídico-político ou ideológico e social.

A bibliografia de Nessahan Alita foi primorosa menos por apresentar meios de proteção sentimental do que por destacar a existência de um profano feminino. Nota-se que mesmo os grupos que enfatizam a questão da solteirice pegam de empréstimo a literatura de Alita, que na verdade seria mais um material de Pick Up Artist, já que apresenta formas de lidar com as mulheres e controlar os próprios sentimentos, o que seria estranho para quem propõe o afastamento puro e simples de relações.

A ideia de profano feminino é diretamente contrária à blindagem feita pelos críticos da pílula vermelha, que ingressam na discussão para ocultar e isentar a figura da mulher, construindo a imagem falsa de que todo o problema atual se resuma a uma “crise masculina”, o que está longe de ser o retrato fidedigno da crise enfrentada e, se de fato há crise masculina significativa, os responsáveis são os homens que acobertam os fatores ativamente denunciados pelos homens contrários à erosão dos relacionamentos e que recorreram ao boicote ou precauções seguindo o que a prudência recomenda.

A seguir estão delineados cinco pontos centrais que acompanham as abordagens falhas, costumeiramente utilizadas para o assunto da pílula vermelha, sendo as maiores vulnerabilidades presentes no discurso dos críticos:

1) Dissolver a questão específica num poço de generalidades – O ponto falacioso se manifesta no seguinte tom: o feminismo, suas armas institucionais e a recusa da mulher em cumprir o seu papel ou não constituem um problema ou, no máximo, são adversidades gerais da vida que podem ser contornadas. Exemplo: o feminismo é ruim, a sociedade está ruim, mas o mundo é ruim, siga em frente (não sistematize nem mapeie o foco do problema, os fatos sociais, institutos, os sistemas ideológicos impositivos e seus agentes).

A ideia é negar a crise antropológica dos sexos ou enquadrá-la como algo natural da vida e não uma catástrofe muito específica, intencionalmente fabricada nas últimas décadas, que alterou o quadro das relações intersexuais de uma maneira sem precedentes e que, portanto, deve comportar uma análise individualizada, profunda e, se possível, com a apresentação de propostas eficazes de contraposição ao fenômeno. Ao invés disso, as causas remotas ou diretas dessa crise são excluídas e o enfoque se concentra em suas consequências remotas, consistentes na modificação do comportamento masculino.

Para abordar o assunto específico do feminismo, é preciso saber não só que ele existe, mas que continua ativo e vivo, que promoveu transformações e continua operando em sociedade, sendo um fenômeno objetivamente constatável e independente do estado anímico do observador. Quando a questão do feminismo vem à tona, é de se esperar que aquele que irá abordá-la não passará para uma questão da humanidade, da sociedade ou do alinhamento do cosmos, mas se centrará nos fatores relevantes para a compreensão do feminismo. Não obstante, os coaches tentam compensar a falta de embasamento com a desnaturação da questão, pois, tornado o assunto genérico, já não se colocam na posição desconfortável de ter que abordar tópicos para os quais não têm gabarito, nem interesse verdadeiro.

2) Uso da moral religiosa num nível retórico, não analítico. – os comentaristas também apelam para a esfera religiosa numa tentativa de demover os homens de avaliarem a própria situação e a das fêmeas. A retórica tem uma função apelativa, mas como já dissemos linhas anteriores, o fenômeno do feminismo exige um tratamento de outra natureza, ele é algo que se submete a análises sociológicas, políticas e culturais, mais do que uma questão teórica, o feminismo gerou problemas práticos e entraves que explicam o desarranjo atual. Alguns encaram a religião como produto da cultura e outros a tomam como fonte da própria cultura, qualquer que seja a visão adotada, os conceitos religiosos utilizados não podem ser palavras vazias, devemos nos perguntar de que maneira o falante trata o termo religião.

Se se referem à salvação das almas, encontraremos nos dez mandamentos[1] o seguinte: 1) Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz tirei da terra do Egito dessa da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de Mim; 2) Não invocarás em vão o Nome do Senhor teu Deus; 3) Guarda o dia do sábado santificando-o; 4) Honra teu pai e tua mãe; 5) Não matarás; 6) Não cometerás adultério; 7) Não roubarás; 8) Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo; 9) Não desejarás a mulher do teu próximo; 10) Não cobiçarás nada que pertença ao teu próximo.

Entre esses diversos comandos, nota-se uma maior preocupação com a castidade do que propriamente com a formação de família, considerando as relações matrimoniais existentes na sociedade, o cumpridor dos mandamentos deve se abster de prejudicar as relações dos outros. O apanhado de versículos de que se munem os apologistas apenas se prestaria para censurar o caso de cafajestes que se utilizam da pílula vermelha como justificativa para manter redes de relações sexuais com várias mulheres, usando a promiscuidade feminina para justificar a própria, encontrando na guerra geral feita contra os homens um ponto de apoio para aliviar a barra dos seus próprios vícios, que existiriam fosse qual fosse a situação do entrechoque de sexos na sociedade. A pílula vermelha não se presta a limpar a barra de modelos masculinos deformados, tampouco é acusada de fazê-lo, já que os difamadores muitas vezes se utilizam do shamming da virgindade, acusando os adeptos da redpill de não manterem contatos femininos, isto é, de não serem cafas.

Nesse momento, já se percebe que os principais pontos levantados pelos masculinistas sequer são abordados; quando muito tangenciados e logo em seguida esquecidos como detalhes. Avançando a querela religiosa, se desejam utilizá-la como suporte para analisar o contexto social, é necessário lembrar que a sociedade pode ser regida por princípios católicos ou não; em suma, ou os princípios da sua religião perpassam a sociedade, moldam instituições e constituem a pedra de toque do casamento, da filiação e do comportamento feminino, ou a religião fica sendo simplesmente algo restrito a alguns círculos e as pessoas apenas nominalmente se dizem religiosas.

O cristianismo a que se referem os conservadores para defender o casamento é meramente retórico, não encontrando eco sequer nas mulheres que se denominam católicas ou cristãs, amplamente adaptadas ao regime de liberdades civis inaugurado pela ruptura feminista desde as sufragistas.

Quando uma religião é forte e seus fiéis regem suas vidas de acordo com os preceitos transcendentes, as normas religiosas vêm em primeiro lugar que quaisquer outras, as normas dos cristãos do império romano vinham antes das normas públicas e eles estavam dispostos até o conflito para que, em última instância, predominassem os preceitos bíblicos sobre os pagãos. Foram acusados de pertencer a uma seita, porque os valores espirituais do grupo e a hierarquia do clero eram mais importantes que os determinados por César. Um liame grupal forte conduz ao boicote, à sabotagem ou militância ativa contra os preceitos que lhes são contrários e, se esse fosse o caso das fêmeas cristãs atuais, elas trabalhariam contra o direito antifamiliar, mas o que vemos é o contrário, passividade geral e conivência com o aparelhamento ideológico do Estado e de seus órgãos.

As mulheres não trabalharão contra os mecanismos ideológicos fabricados pelo feminismo a não ser quando entrem em rota de colisão com seus interesses, como no caso da comoção geral causada pelos disfóricos que ingressam em esportes femininos e acabam por causar-lhes danos físicos e perdas de premiações.

Agora, devemos perguntar qual tipo de mulher coloca o direito canônico acima do direito civil, ou mais propriamente, ao direito de antifamília, um fruto do liberalismo, condenado nas encíclicas de sua Igreja? Nenhuma.

Na primeira oportunidade e em última instância, o que vale é o direito laico, os mecanismos abusivos construídos pelo feminismo. Não será nem Vaticano, nem Roma, nem Igreja, nem Papa que as impedirão de buscar auxílio do estado formatado de acordo com a ideologia feminista, de maneira que devemos concluir que as seitas são mais leais aos seus fundamentos do que as mulheres católicas o são com o modelo de casamento defendido pela sua Igreja.

As suas passagens preferidas são: “não julgueis, para que não sejais julgado” e o episódio no qual Cristo intervém a favor da adúltera e a impede de ser apedrejada.  São duas passagens convenientemente utilizadas para afastar julgamentos do meio contra uma vida de troca constante de parceiros, maternidade irresponsável, manipulação dos gostos masculinos, libertinagem, desprezo à figura do marido e conivência explícita com o projeto revolucionário que encontrou na subversão dos sexos uma de suas instâncias preferidas.  

As esquerdas obtêm expressiva votação do público eleitor feminino e a propaganda difundida pelos meios de comunicação é repetida em suas bocas, de maneira que não é curvando-se à mulher que alguma correção de valores se efetivará.

O mais curioso é que, embora Cristo tenha intervindo contra o apedrejamento, não agarrou a mão da adúltera para tomá-la como esposa, no entanto os cristãos retóricos pretendem que a cada adúltera encontrada na esquina seja dado um marido, ao qual se atribui uma “missão sacrificial”[2]. O discurso dos retóricos tem apenas uma casca de dogmatismo e tradição, mas a sua sociedade não é nem dogmática, nem tradicional, tampouco suas mulheres são, elas já pertencem ao mundo e, portanto, devem ser tratadas como mundanas.

Acerca do vínculo conjugal, calha recordar um trecho do deuteronômio sobre o divórcio (24: 1-4): “Se um homem tomar uma mulher, e a tiver consigo, e ela não for agradável diante dos seus olhos por qualquer coisa torpe: escreverá um libelo de repúdio, e lho dará na mão, e a despedirá de sua casa. E se ela depois de ter saído, tomar outro marido, e este também a aborrecer, e lhe der libelo de repúdio, e a despedir de sua casa, ou se ele veio a morrer: não poderá o primeiro marido torná-la a tomar por mulher: porque ela está contaminada, e tornou-se abominável diante do Senhor: não faças pecar a terra, que o Senhor teu Deus te dará para a possuir[3]

Embora a negação do divórcio não seja absoluta e peremptória, os casais que verdadeiramente objetivam seguir padrões bíblicos não devem admiti-lo como instituição normal, sempre à disposição e que pode ser acionada com base na conveniência, ou seja, deveria haver um choque entre as mulheres cristãs e o regime de divórcio do direito contemporâneo.

Pois bem, certa vez uma colega de curso tinha fama de ser muito católica, frequentava rodas de orações feitas na universidade, tive a curiosidade de perguntá-la de sua opinião sobre a questão do divórcio, ao que ela respondeu que “é....tem vezes que a relação não dá certo mesmo...”. Essa mesma moça terminou a faculdade solteira e não sei se continua até hoje, mas é significativo o fato de que até mesmo uma das mulheres, com fama de católica, primeiro colocava os olhos na formação e na carreira para, depois de uns anos, poder então pensar que um filho talvez lhe faça falta, o marido sendo encarado por último, quem sabe como mal necessário que pode ser dispensado quando o tédio e a conveniência ditarem, porque “tem vezes que a relação não dá certo mesmo”.

Por acaso alguém já viu algum retórico religioso fazendo campanha para que divórcios voltassem a ser tabu, para que as mulheres parassem de pedir divórcio? Ou então para que a figura da mãe solteira não fosse consagrada como um modelo louvável? Alguma movimentação de condenação do desprezo que as mulheres, em geral, nutrem pelo casamento e obediência ao marido? Não, porque se fizessem isso deixariam de ser retóricos.

Antes do Renascimento, a hegemonia cultural modelava o homem a partir de Cristo; com a subversão sexual as mulheres passaram a seguir o modelo de Lilith. Se por um lado os retóricos estão preocupados em julgar os homens a partir de Cristo, eles deveriam antes se preocupar em verificar se as fêmeas contemporâneas seguem o modelo da Virgem Maria, a não ser que tratem a questão a partir de pressupostos falaciosos, visando ao final consumar o casamento de Cristo com Lilith. O sofisma de que o homem que aceita as cláusulas da união matrimonial antifamiliar estaria cumprindo uma missão deve ser descartado.

Fala-se na missão masculina no decorrer da história, sobre o papel ativo do homem nas transformações e superação de obstáculos. Levantado esse ponto, eles sentenciam no sentido de que a “missão sacrificial” consistiria justamente na aceitação do homem em uma união de acordo com as cláusulas impostas pelo sistema antifamiliar. Então fazem uma exortação que caminha no sentido inverso do papel masculino, como se a submissão à farsa antifamiliar fosse um meio de o homem cumprir o papel ativo. Na verdade, a energia masculina consiste justamente em romper e denunciar o pacto leonino que lhe é apresentado, disfarçadamente, como matrimônio idêntico ao celebrado pelos antepassados.

Existe um caráter de retribuição quando o salmista faz referência à proporcionalidade do tratamento divino com relação à criação, ele menciona que “Tu (Senhor) serás santo com o santo, e serás inocente com o homem inocente; e com o puro serás puro; com o perverso serás como ele merece. Porque tu salvarás o povo humilde, e humilharás os olhos dos soberbos. [4]. A ideia é de que com os de boa-fé responde-se normalmente e com os maliciosos deve-se saber responder à altura. Os homens responderão à altura.

3) Descarte de instituições, costumes, fatos sociais gerados e impostos pela ideologia feminista tanto no campo da esquerda quanto no da sociedade em geral (em instituições de ensino, de Estado, culturais, políticas e jurídicas)

Num primeiro estágio o feminismo se limitava ao campo do pensamento e de manifestações panfletárias, gradativamente proliferando-se com um histórico de obras e acumulando robustez literária ao ponto de se transformar em algo considerável, partindo para o ativismo e influência dos movimentos políticos, sempre vinculado à esquerda, fazendo-se presente desde então. Ele é a causa de transformações perceptíveis, impositivas e que obrigam a sociedade no sentido ideologicamente determinado.  Não é com truque de terapeuta e motivacional que se irá entender, muito menos solucionar problemas fomentados por redes de ONGs, estruturas burocráticas, think tanks, militância ativa e lobby em todos os poderes da República. Existe uma rede estrutural que torna o feminismo aquilo que ele é e essa rede é completamente ignorada pelos comentaristas.

Um dos sujeitos do vídeo mencionou a questão da pensão socioafetiva, mas de passagem, como detalhe de somenos importância e irrelevante para a discussão. Em linhas gerais, essas discussões são superficiais e não tratam dos principais fatores levantados pelo antifeminismo, por exemplo:

Os divórcios são majoritariamente iniciados pelas mulheres, mais de 70% é de iniciativa feminina[5]. O divórcio não depende de motivo sério, pode ser pedido a qualquer hora e a guarda da criança fica com a mãe, do dia para a noite o pai se vê com uma dívida mensal de pensão alimentícia. O divórcio sem culpa, que aqui no Brasil se conhece mais como divórcio direto, não é uma questão criticada pelos conservadores.

Ainda no contexto familiar, surge a questão da alienação parental, forma de manipulação psicológica por meio da qual a mãe forma um imaginário infantil desfavorável à figura paterna. O divórcio, que não deveria estar consagrado, gerou a gambiarra da pensão alimentícia, assim como a necessidade de dar atenção ao fenômeno da alienação parental, cuja lei destinada a coibi-lo tem sido um dos poucos instrumentos de proteção aos pais. Porém, a revogação da lei de alienação parental avançou recentemente uma etapa na CCJ, contando com ajuda de políticos da bancada conservadora como Magno Malta e Damares Alves, o que prova a inexistência de antifeminismo nos opositores da esquerda.

Os ramos masculinistas abordam com frequência a deformação do sistema jurídico no sentido do supremacismo feminista, cujo divisor de águas se deu com a introdução da Lei Abuso da Penha, seguindo-se a partir daí o aparelhamento geral do Estado, com um sistema de medidas protetivas com base apenas na palavra da vítima e a possibilidade de, em certas ocasiões, um simples policial deferir medida de afastamento do lar.

No contexto de relacionamentos, critica-se a hipergamia turbinada. Embora a seletividade feminina, em si, sempre tenha sido fenômeno presente nas sociedades humanas, a tônica do atual momento é prestigiar a supremacia feminina e negar as prerrogativas masculinas. Apesar de se colocarem na posição de guardiões da moral antiga, corretiva dos vícios do presente, ignora-se o fato de que quem não quer formar famílias são AS MULHERES modernas, que desejam adiar compromissos o máximo que puder, focando no trabalho, colocando filhos e marido como algo secundário, se tanto. A queda da taxa de natalidade se deve a isso: ou a sociedade assegura as prerrogativas masculinas, ou apodrece como exatamente vem apodrecendo.

Somem-se a esses tópicos os casos forjados de violência doméstica, insegurança jurídica, demissão de cargos por responder à lei abuso da penha, impossibilidade mesmo de ingresso em profissões por ter supostamente incorrido em seus dispositivos, além da criação do tipo penal de violência psicológica, aparelhamento ideológico feminista da máquina burocrática e também do terceiro setor. A deformação observada no sistema de normas chegou ao ponto em que se impõem cotas de candidaturas e de financiamento obrigatório na mesma proporção de 30%, também há o caso das desembargadoras biônicas (CNJ fabricou uma causa de promoção fora dos critérios constitucionais para criar mais desembargadoras). Há inversão do ônus da prova em se tratando de processo penal, condenações cíveis mais flexíveis para favorecer interesses feministas (com o processo coletivo transformando em arma política interessante para agentes ideológicos que ocupam cargos nas promotorias, defensorias e magistraturas).

A censura sendo costurada com o slogan de combate à misoginia seria um desdobramento do alto grau de aparelhamento já observado nas recentes décadas.

Em 2023, o Senado Federal instituiu uma comissão para alterar dispositivos do Código Civil, nele fazendo constar a possibilidade de pensão alimentícia até para animais, na linha do pensamento liberal de liquefação do conceito de família e ruptura de paradigmas.  Ao que devemos perguntar: onde estão os juristas católicos para se opor às aberrações promovidas no seio do direito civil? Desmobilizados, quietos, ou pior, fazendo o voto de que a sua religião não deve interferir no regime jurídico do direito de família. No entanto, eles se mobilizam para tratar da pílula vermelha e as suas bancadas colocam adiante projetos que apenas agravam a situação.

Para se ter uma ideia, existe mais reclamação contra o divórcio por parte dos masculinistas do que pelos conservadores, que já largaram essa questão há tempos e encaram com naturalidade as novidades de seu tempo e a troca de parceiros e a maternidade solteira. Como se não bastasse, funcionam como suavizadores dos demais impactos provocados pelo feminismo, isso quando não são colaboradores ativos dessas transformações.

É feita a acusação de que o afastamento das mulheres seria uma contribuição à entropia social promovida pelo feminismo, de que, se por um lado o intuito das feministas é destruir o matrimônio, por outro a postura dos homens que o boicotassem as estaria ajudando a alcançar esse desiderato. A verdadeira colaboração com o sistema ideológico ocorre quando as causas são reforçadas e as críticas relevadas. Quem estiver preocupado com a crise de relacionamentos não irá reduzir esse acontecimento a uma “crise masculina”, mas trabalhará para remover os fatores que contribuem para o desastre, afinal de contas, cessada a causa, modificam-se os efeitos.

4) Psicologização típica de coaches - autoajuda. – Os comentaristas sobre o problema do feminismo tratam da questão como se se tratasse de um programa de “Casos de Família”, desentendimentos de casais, homens tímidos, irresponsáveis e imaturos para manter uma relação.

Com uso da psicologização, os retóricos transformam problemas reais em questões que navegam no campo puro da psicologia humana. Então há uma substituição de problemas concretos, constitutivos de fatos sociais e instituições impositivas por situações abstratas, tratando todos os tipos de aberrações promovidas pelo feminismo na sociedade como se fossem secundárias. Para os retóricos se imporem, eles precisam descartar todos os fatos, os problemas reais e seus agentes, focando tão somente na psicologia dos adeptos do antifeminismo.

Essa é uma das maiores vulnerabilidades e explica o porquê de suas abordagens sobre o tema serem tão fracas.

Considerando que os acontecimentos da revolução sexual vieram primeiro e as reações psicológicas surgem a posteriori, os retóricos tentam de extrair do acontecido a posteriori o principal para explicar o antecedente. São coaches, não são estudiosos de um assunto procurando traçar um quadro e colher seus elementos.

Por exemplo, um dos interlocutores sabe da hostilidade alimentada pelo feminismo nas mulheres, o retórico ressalta que isso encontra uma hostilidade nutrida pelos homens como reação e então os homens criariam um fator impeditivo para o diálogo e, por via de consequência, frustrariam uma relação. Assim, ele ao mesmo tempo que isenta as mulheres, transfere a carga para o outro lado.

Posteriormente a coisa piora e passam a tratar da questão como se fosse um afastamento, em linhas gerais, da questão do amor, do outro, etc... recaindo no vício já apontado antes, sobre dissolver a questão específica num poço de generalidades, além de cair em lirismos baratos, muito aquém do que se espera de uma abordagem intelectualizada do assunto.

A contribuição que coaches podem fornecer à pílula vermelha é mínima, os tratamentos psiquiátricos e terapêuticos podem entrar em cena quando o meio está estruturado, mas é o sujeito que se encontra descompassado; já numa situação contrária, quando é a sociedade que se encontra apodrecida, a reação, inclusive aquela que se manifesta pelo boicote e exposição das artimanhas revolucionárias feministas, é mais que salutar, ela é necessária.

Os retóricos estão muito abaixo da bagagem adequada para dissecar o assunto, então tergiversam, tratam de questões supérfluas ou perspectivas infrutíferas, em todo caso o feminismo segue sendo um elefante branco na sala. Um deles confessa que a discussão é feita sem fontes, ou seja, eles não pesquisaram NADA.

Digo isso porque um deles afirmou que a união matrimonial se recomenda pelo fato de que “os seus pais, avôs, tataravós, etc.. terem celebrado uma união com as suas respectivas esposas”. Se meus pais e avôs fizeram, eu também irei fazer, como se nada houvesse interferido nesse meio tempo de maneira radical e substancial, alterando as cláusulas matrimoniais por completo. Que isso seja dito por um tiozão de bar sem estudo, focado tão somente em trabalhar, assistir novela e ir a passeios turísticos, vá lá, mas o círculo dos discutidores acerca da redpill geralmente é composto por gente com pretensões de crítica intelectual profunda, ou como a própria thumbnail faz constar: “crítica destrutiva”.

Porém, se a sua intenção ao formarem círculos de debates é promover uma desconstrução das críticas masculinas, deveriam ter feito o trabalho de casa e pesquisado o arcabouço crítico dos masculinistas.

A responsabilidade do crítico competente é mapear as bases teóricas de uma determinada corrente e desconstruí-las, desde o ponto de vista abstrato até as suas consequências práticas. Os retóricos não tratarão nem de uma e, quanto á outra, as consequências práticas são tão remotas que pouco afetam as afirmações da androsfera.  Em suma, os retóricos são coniventes com a revolução feminista.

Há canal que integra essa tal androsfera e possui número considerável de inscritos, não é anônimo, repercute bem na bolha e respinga inclusive fora dela, por que estão fingindo que não existe?

 Existem publicações em blogs antigos, livros e artigos que circulam e são citados, não fizeram o trabalho que se espera de um intelectual, que é ler e pesquisar? Aonde foi parar o tal do status questionis?

5) Fuga do julgamento das mulheres – Foi Tertuliano quem, logo nos primeiros séculos da Igreja, fez uma exortação às mulheres de seu tempo para que se portassem com modéstia e se vestissem com elegância: “Vesti-vos com o tecido da probidade, com o linho da santidade, com a púrpura da castidade.
Assim, pintadas dessa maneira, tereis Deus como vosso amante
[6].

Caminhando em sentido diverso, há uma verdadeira recusa em cobrar das mulheres o mínimo de recato, quiçá o cumprimento de seus papéis. Aliás, o mero fato de que as mulheres possuem papéis é capaz de causar estranhamento geral nas atuais circunstâncias.

São elas que, em geral, não querem casar, não querem filhos e renunciaram à sua vocação de esposas, pesquisas comprovam isso, mas os olhos e o senso comum deveriam bastar.

 

Na pesquisa da Morgan, seriam aproximadamente 45% das mulheres, na faixa etária entre 25 e 44 anos, que estão previstas para não terem filhos e serem solteiras conforme demonstrou a pesquisa. Pois a presença crescente de mulheres solteiras no mercado de trabalho, provocou mudanças de hábitos de consumo e estilo de vida[7]

 

Outra matéria diz que o percentual seria de 50%, como a variação é própria desse tipo de estudo, que busca traçar faixas prováveis do fenômeno, ainda que escolhêssemos o mínimo de 45%, isso já seria escandaloso, já que seria confissão de que as próprias mulheres consideram o matrimônio instituição falida e reproduzem os modos da ideologia sexista, o que aliás já foi identificado pelos masculinistas.

Fala-se muito em crise do homem, às vezes querendo-se afirmar crise da humanidade, mas o corrente sentido dessa expressão é para referir-se à crise da masculinidade, passando então a cobrar satisfações do porquê de os homens modernos estarem supostamente faltando com os seus papéis, chegando-se ao momento chave em que se encerra uma condenação geral contra aqueles que passaram a desaconselhar os relacionamentos.

A ideia é passar a imagem desses homens como imaturos, então de certa forma a psicologização e autoajuda colaboram para a isenção das mulheres que, se da boca para fora se dizem contra o feminismo, não se dispõem a se transforem em personificações da feminilidade, da maternidade ou religiosidade mariana que descartaram há tempos.

Nas circunstâncias atuais, mulher nenhuma tem moral para falar do homem moderno, pois absorveram diversas características introduzidas na cultura pelo feminismo e todas elas são, em maior ou menor grau, adeptas do feminismo. Já se falou o suficiente sobre crise masculina, mas nada sobre a crise feminina. O julgamento da mulher moderna é inevitável, ela que recusa o casamento, ela que se divorcia, ela que usa os mecanismos institucionais em seu favor, que pensa poder viver sem a presença masculina com o devido acatamento e recusando a sua vocação de auxiliadora do homem. Em épocas passadas, a sociedade como um todo sancionaria a mulher moralmente desviante, lembrando-a da existência de um código de maneiras femininas, obliterado na atualidade para ceder lugar à falsa liberdade, que passa incólume aos olhos dos que se imaginam tradicionais, mas cujo tradicionalismo pregado aos homens destoa da modernidade permitida às fêmeas, cujos ardis não passam despercebidos dos olhos dos homens antifeministas, que sabem que aceitar esse teatro seria o mesmo que se tornarem não heróis, mas palhaços.

Conclusão

Quando arguições contrárias ao ramo da pílula são levantadas por sujeitos não feministas, principalmente a partir de perfis com nuances de tradicionalismo, num primeiro momento eles aparentam que irão falar montados numa estrutura intelectual literária, filosófica e de bases teológicas, que em pouco tempo se prova miragem, desfeita e substituída por uma conversa de coaches e terapeutas, e é esse tipo de perfil que se repetirá praticamente todas as vezes em que algum anti-pílula se manifestar. Visualizando esse quadro, essas vulnerabilidades parecem ser de difícil superação, porque eles parecem incapazes de analisar, seja com filosofia, lógica ou mesmo literatura, as realidades sociológicas que embasam o discurso masculinista. Não é pelo fato de serem casados, porque os anti-pílula que são solteiros apresentam a mesma limitação. Se o adepto da androsfera se mantiver nos limites desse campo intersexual e suas conclusões forem pertinentes a ele, continuará sólido e irrefutável, se decidir sair do seu campo de competência, passará a ser vulnerável ele próprio. A ocasião aqui foi ressaltar as vulnerabilidades não dos antifeministas, mas sim dos anti-antifeministas, que é o que os retóricos acabam sendo no final das contas.



[2] Falácia dita por volta de 58:00 no vídeo do IB. Sobre os Red Pill e a crise da masculinidade / Crítica Destrutiva / 052. https://www.youtube.com/live/t5a5vGxnKl4?si=Al9lhH5edpdtFSOZ  

[3] BÌBLIA SAGRADA. Versão padre Matos Soares. P. 344.

[4] BÍBLIA SAGRADA. Tradução e comentário pelo Padre Mattos Soares. Salmo XVII, 26-28.

[6] De Cultu Feminarum.

[7] Mulheres – Estudo americano aponta transformação social para mulheres, até 2030. https://www.grupometanews.com.br/post/mulheres-estudo-americano-aponta-transforma%C3%A7%C3%A3o-social-para-mulheres-at%C3%A9-2030

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O anticomunismo nazola é uma fraude

 


“Alguns chamam de comunismo, eu chamo de judaísmo”. Com essa sentença, os nazolas pretendem passar a impressão de que o seu combate ao comunismo é tão sincero e certeiro que eles estariam indo direto na raiz do problema, passando por cima dos conservadores direitistas, que apenas tangenciariam o tema, impedindo que os outros tomem conhecimento dos verdadeiros responsáveis pelo fenômeno político que denunciam. Ocorre que o anticomunismo dos nazolas é um truque retórico, chegando a situações paradoxais como a situação a seguir demonstrada, que não é senão uma amostra, repetida em praticamente todos os entusiastas dos regimes do eixo, perdedores da Segunda Guerra mundial.

Francis Parker Yockey foi autor de um livro voltado à reintrodução da ideologia nacional-socialista no cenário ocidental, ele chamou o seu escrito de “o primeiro golpe na gigantesca guerra pela libertação da Europa[1]. Após ter participado dos julgamentos de Nuremberg auxiliando a acusação, Yockey virou a casaca e se tornou um antiamericano inveterado, adotando as posições ideológicas dos réus, como uma estagiária que se apaixona pelo delinquente do presídio ao qual ela deveria apenas fornecer ajuda jurídica, social ou psiquiátrica (foi uma espécie de Arlequína nazola).

Ele encara a derrota do Terceiro Reich como um desastre para a civilização ocidental, tendo que recalcular a situação mundial a partir da nova polarização entre Estados Unidos e União Soviética, apresentando uma alternativa ao homem branco escravizado por “grupos parasitas culturais”.

Quem são os verdadeiros inimigos? Ele aponta o tal do sionismo, identificando os Estados Unidos da América como o poder sionista que articulou pela guerra e que, portanto, precisa ser desafiado por um império ressurgente nas mesmas bases do regime derrotado. As culturas nascem e morrem, mas ele faz uma exceção e trata a cultura do regime derrotado, e suas concepções ideológicas, como algo que pudesse ser revivido. O antiamericanismo cumprirá papel importante nessa empreitada. 

Ora, se os Estados Unidos representam a base operacional do poder sionista, como resolver essa situação? É aqui que o “anticomunismo” nazola é revelado em todo o seu esplendor, pois Parker Yockey advoga uma aliança com a União Soviética para combater o seu próprio país. Os nacional-socialistas remanescentes deveriam se unir com os comunistas e esquerdistas em geral para, juntos, formarem uma mistura marrom e vermelha, cuja convergência resultaria na neutralização dos EUA, principal ponto de apoio daquilo que ele acredita ser a conspiração principal.

Como confeccionar uma justificativa para dizer que não tem problema algum apoiar a União Soviética? Descredibilizando o potencial de massacre e conquista da Rússia contra as nações europeias e fazendo uma cisão analítica entre o regime da URSS e uma Rússia profunda, que repele tudo que seja ocidental e que, portanto, seria útil de ser mobilizada.

Ora, existe um Brasil de Brasília e um Brasil profundo; um Estados Unidos de Washington e outro Estados Unidos profundo; uma França de Paris, outra França profunda, e por aí vai, todos os regimes políticos, a máquina administrativa por eles dominada, se desenvolvem com certa autonomia do povo que representam. Por que apenas a bipartição entre regime e povo seria levado em consideração no caso soviético? Porque no caso do povo norte-americano, alicerçado numa cultura federalista, de liberdades civis, constitucionalismo sólido e profunda influência bíblica, Yockey não encontraria bases para o socialismo que ele desejava.

Com a queda da Alemanha nacional-socialista e da Itália de Mussolini, os socialistas que não eram internacionalistas ficaram órfãos. Num mundo sem a disputa entre modelos socialistas nacionais e internacionais, o revolucionário irá apoiar a corrente hegemônica que existir. Se houver uma opção entre os regimes do eixo e da internacional, melhor para ele, optará por um dos dois, mas havendo apenas um deles, como no caso da URSS e seus parceiros, não faz mal, será a escolhida.

O caso do movimento dos países não alinhados é ilustrativo, muitos deles dirigidos por líderes socialistas, portanto alinhados aos soviéticos e chineses, como no caso do socialismo árabe de Gamal Abdel Nasser.

Estudos mais recentes mencionam existir uma similaridade nos perfis tidos por extrema-direita (assim tachados pelos meios comuns) e os outros de extrema-esquerda. Segundo essas investigações:

 

(...) pessoas com opiniões políticas extremas que favorecem o autoritarismo, estejam elas na extrema esquerda ou extrema direita, têm comportamentos e características psicológicas surpreendentemente semelhantes (...) Thomas Costello, doutorando em Psicologia em Emory e primeiro autor do estudo, disse o seguinte: “Nós descobrimos que a ideologia se torna secundária. Psicologicamente falando, você é um autoritário primeiro, e um ideólogo apenas na medida em que isso serve à estrutura de poder que você apoia.”[2]

 

Yockey serve de amostra, considerando que as mesmas tensões vivenciadas por ele, no século XX, retornam aos socialistas do século XXI e com os mesmos resultados: o de advogar uma aliança com as potências comunistas antiocidentais, embora com novas roupagens.

Porém, a cara de pau de Yockey é maior, porque ele não precisou esperar que os comunistas mudassem as suas fachadas para se posicionar favoravelmente a eles, bastou demonstrar um arremedo de pragmatismo antijudaico e o truque estava feito. Encontraremos nas várias correntes socialistas, quase sempre, um componente antijudaico, de maneira que o antissemitismo costumeiramente resulta em socialismo, mesmo os judeus socialistas se dizem eles próprios antissionistas (uma palavra-chave criada para justificar o combate ativo aos judeus politicamente organizados).  

Yockey faz uma entusiástica defesa do socialismo em sua obra, apontando o Marxismo como desvio, mais próximo da religião do que propriamente do socialismo. Ele afirma que:

 

“o Marxismo difere do Socialismo por ser uma religião, ao passo que o Socialismo é um princípio organizatório-político instintivo. O Marxismo tinha sua bíblia, seus santos, seus apóstolos, seus tribunais de heresia, ortodoxia e heterodoxia, seus dogmas e exegeses, escritos sagrados e cismas. O Socialismo dispensa tudo isso; ele se interessa em obter a cooperação de homens com os mesmos instintos. A ideologia tem até agora pouca importância para o Socialismo, e nas próximas décadas terá cada vez menos”[3].

 

A Revolução encerra em si própria um processo contínuo que envolve a contraposição às correntes antecessoras às novas propostas do momento. Marx atacou os socialistas antecedentes como utópicos, como se fossem trouxas que apenas sonhavam, em contraste com o seu socialismo científico. As correntes anteriores, ao mesmo tempo em que são justificadas e defendidas, são também condenadas pelos socialistas das novas escolas, que se apresentam na condição de renovadores e portadores de uma corrente mais afinada com a ortodoxia verdadeiramente revolucionária. Com o período do terror, os revolucionários franceses fizeram avanços contra seus adversários; os bolcheviques estruturaram a tcheka e se puseram a caçar opositores, esquerdistas inclusive; posteriormente Stálin manda assassinar Trótsky, Kruschev denuncia Stálin, o maoísmo surge como nova estrela, aparentando opor-se à URSS, e por aí vai...

Todas as subcorrentes do grande movimento socialista estão sempre se denunciando, nos mostrando que a antagonização do marxismo feita por Yockey não é episódio novo, principalmente pela forte acusação de que o marxismo não representaria uma pureza ortodoxa. Portanto, ao mesmo tempo em que Yockey acusa o marxismo de promover tribunais de heresia, ele próprio elabora uma condenação do marxismo como herética ao verdadeiro socialismo que ele, Francis Yockey, quer resgatar em seu livro.

Corrêa de Oliveira destaca o caráter dominante desse tipo de crise, considerando a revolução “uma rainha a que todas as forças do caos servem como instrumentos eficientes e dóceis”[4].

Então, para Parker Yockey, apesar de dominada pelos soviéticos, a Rússia deveria ser apoiada pelos nacional-socialistas, como etapa estratégica a fim de eliminar os regimes ocidentais, parasitado por seus inimigos internos. Disse se conclui que, a fórmula do anticomunismo nazola consiste em apoiar o comunismo para poder combater os comunistas.

Em suma, o anticomunismo do nacional-socialismo é uma grande fraude e sempre que nos depararmos com a teoria de que o comunismo seria um produto essencialmente judaico, apresentada como pílula vermelha, trata-se na verdade de um placebo, uma pílula de farinha. Com a reformulação da propaganda estalinista, apresentando um regime no qual a influência judaica tenha sido “expurgada”, o nazola apoiará a URSS; em se tratando da China do PCCh, se Pequim estiver retratada como algo que se desgarrou da influência do capital ocidental, ela será apoiada; se a Rússia, administrada por quadros oligárquicos existentes desde a era soviética, for apresentada como responsável por uma cruzada antissionista, ela será apoiada.

Alguns chamam de comunismo, eu chamo de judaísmo”, trata-se de sentença que deve ser reformulada para: “alguns chamam de anticomunismo, eu chamo de antijudaísmo puro e simples”, uma vez que nunca houve verdadeiramente nenhum tipo de incômodo com o comunismo ou socialismo em si.



[1] LEE, Martin. A. The Beast Reawakens : Fascism's Resurgence From Hitler's Spymasters to Today's Neo-Nazi Groups and Right-Wing Extremists. P. 94.

[2]Friends & Enemies (08/25/24) Leftwing authoritarianism. https://youtu.be/UzdCyqawwwk?si=jVRrtzBbs_0oa8tS

[3] YOCKEY, Francis Parker. Imperium. P. 64 – tradução livre.

[4] OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Revolução e Contrarrevolução. P. 4.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Friends & Enemies - Jeffrey Nyquist & Alex Bensch - transcrições PT-BR

Friends & Enemies, ou simplesmente Amigos e Inimigos, é o nome da série de conversas entre Jeffrey Nyquist e Alex Bensch sobre a geopolítica contemporânea, com panorama rico e contextualizações que rendem várias anotações, para não falar das ricas indicações de bibliografia.

Os dois analisam tudo com perspectiva certeira e lúcida, sabem quais são os fatores em jogo e o nome real das ameaças. A postagem cumpre a função de organizar os arquivos e referências para servir de base a um estudo sistemático e aprofundado da matéria. 

Vou deixar algumas transcrições em português, o mais literal possível. Alterações podem ser feitas se ficar constatada a ausência de algum trecho, na medida em que a tradução e transcrição feita por IA depende de supervisão humana constante (por causa de nomes errados e expressões captadas de maneira equívoca ou imprecisa para o português). 

Os vídeos originais estão em inglês e se encontram nos canais "Candor Intelligence Network" (é o principal: https://youtube.com/@recentr84?si=3lFmUE6MgbQwKPtw ) e " Candor Intelligence 2" (https://youtube.com/@candorintelligence?si=jpSJmq-hCOHwCS8D)

Sites oficiais dos autores

J.R. Nyquist

https://jrnyquist.blog/

Alex Benesch

https://candorintel.com/


Playlist dos vídeos originais em inglês: https://youtube.com/playlist?list=PL7rsfUzzcI78rQ7gDVDSl6B6fRfUGPmVe&si=IQcta8myGYOoKfgb 


AMIGOS E INIMIGOS

95. Deuses da Guerra  – 3 de novembro de 2025

https://docs.google.com/document/d/1noU9bR4Jtn5_2lPAwejZZy6UVeIQLJfR7D9_75Gpi0Y/edit?usp=drive_link 

94. Trocando o script — 26 de outubro de 2025

https://docs.google.com/document/d/1D2NY9iJiKKeHKT04ilU0ctSPaa8T24zJ1d9QSdDO5sg/edit?usp=drive_link 

93. Empurrando a direita para uma armadilha - 12 de out. de 2025

https://docs.google.com/document/d/1Zo9c5mGg9Av6peCyMBGxXgfYFyFxw1gIYguMB722ThU/edit?usp=drive_link 

92. O antifascismo comunista - 29 de setembro de 2025

https://docs.google.com/document/d/18S5pINukDD1w6hrDpzyVPkFdUS1fzR3q_4c_i5GlqvI/edit?usp=sharing

91. Eles possuíam Charlie Kirk – 21 de setembro de 2025

https://docs.google.com/document/d/1ujYJ_ZtFO-Bdh1fRJZGIHaoPDR6YzZQm0qTei7j9Oxc/edit?usp=sharing 

90. O atentado contra Kirk  – 15 de setembro de 2025

https://docs.google.com/document/d/1jmkgm8efPhbgVz0jdUX6iHPFdqnNfCcjvSFVCUIsbRM/edit?usp=drive_link

89. Os PayPals de Peter Thiel – 31 de agosto de 2025

https://docs.google.com/document/d/1YqxazuqtlfJPs_NTL0GTta2idE46SlCZVJWhDhI3ihk/edit?usp=sharing

88. A Quinta Diretoria da KGB – 17 de agosto de 2025

https://docs.google.com/document/d/10xEWykLQt2XnhbBd7LE3QuCwZAvDUlAVLYI6Aagk9PY/edit?usp=sharing 

87. As vidas secretas dos governantes da Rússia - 10 de agosto de 2025

https://docs.google.com/document/d/1FsaRo91d4o2dfSB2l3eJG3mAwLUE2CbLlOE-qEayeX0/edit?usp=sharing

86.A matriz de subversão da IA molda nossos pensamentos – 3 de agosto de 2025

https://docs.google.com/document/d/1C2d1IOjNVtDJNkJ86vjCMV7dMGxTBM8gUtrTz5Zqgjk/edit?usp=sharing

85.O Não Profissional – 20 de julho de 2025

https://docs.google.com/document/d/1RzH6udRtgFr6aBY5_F94DBgKlgkm2ui-Wv7Jtnnv9qw/edit?usp=drive_link

84.Jogos de Guerra – 6 de julho de 2025

https://docs.google.com/document/d/1eBcK6ZXyx5fL0qhjUmQ_g4Pb__XAWDeSpvX5kUM0cqs/edit?usp=drive_link

83.Está em curso – 29 de junho de 2025

https://docs.google.com/document/d/1FOfTAoq35Rb7CAqYSgUU2zQL6iyAPZoS0F5Jd-8djnQ/edit?usp=sharing

82.Martelo da Meia-Noite — 22 de junho de 2025

https://docs.google.com/document/d/1-5O5CrChkcwIWZnsc0_lUvroiyeRCE-YcPpNUWTB45A/edit?usp=sharing

81.Generais no Bilderberg – 15 de junho de 2025

https://docs.google.com/document/d/1GwG64dJYxMgD3tvox-7PIQbEQ1s0JFVD45K1CYLjR5Q/edit?usp=sharing

80.Marines dos EUA na Suécia — 1º de junho de 2025

https://docs.google.com/document/d/1vCysegSjfd5XEhyKI6qHZ_x8Jo39sDBpoXmqeAvcF1U/edit?usp=sharing

79.As rodinhas de Mônaco – 25 de maio de 2025

https://docs.google.com/document/d/1GQH6nJ6b7S2xKLB-QQpU0YTq2XkdghadWHyffhosovw/edit?usp=sharing 

78.Limitado – 11 de maio de 2025

https://docs.google.com/document/d/1h7bDibI_KZu1LCPkxymDa9-EircFwV_no5mWzdk4d7g/edit?usp=sharing

77.Sobrecarga – 4 de maio de 2025

https://docs.google.com/document/d/1XHqSPhHtHgZv0NIC3kc-DAQSBqxnQlJju3lnQIRTCEc/edit?usp=sharing

76.Faz de conta – 27 de abril de 2025

https://docs.google.com/document/d/1QmrIpgYFGyd8O6vrMTg_W7AUku3Grm21s2moDbTL4UA/edit?usp=sharing

75.Made in China - 13 de abril de 2025

https://docs.google.com/document/d/1tzPcrY2Ee3QCicjDuvmn2jTiMaxuvq3ob-Rz-4gRrx8/edit?usp=sharing

74.Supercluster - 6 de abril de 2025

https://docs.google.com/document/d/18W_qi9WZ_9xi3_aeHABPN5-i2JUeH5dNGN2c5A6zgbs/edit?usp=sharing

73.Guerra no Ártico — 30 de março de 2025

https://docs.google.com/document/d/1b4p5vkI7kqVjsJDmGPLRhkDvzNGsyWZdPJlRmA1_vP0/edit?usp=sharing

72.Ficando sério – 23 de março de 2025

https://docs.google.com/document/d/1Ff5O6wDU4kRYCc397NqOibcwA7bSjUy_zDTnLr9vrdU/edit?usp=sharing

71.Time Ianque - 16 de março de 2025

https://docs.google.com/document/d/1g8-zs6TI83c6TURq6D5yvVdnsUbXcpz8JS_tultvoOU/edit?usp=sharing

70.Tecido da América10 de março de 2025

https://docs.google.com/document/d/1SG1fN0Zas4h50hluRqkWjnfbm23LK7MS6ZRnmT-XB-0/edit?usp=sharing

69.Desrespeito – 2 de março de 2025

https://docs.google.com/document/d/1sigVUtSegZouzBdTrQuyQdCvFs7-oy2425drjZ4hoQg/edit?usp=sharing




REFERÊNCIAS

CHAMBERS, Whittaker. Witness.

COHN, Norman. Warrant for Genocide - the myth of the jewish world conspiracy and the protocols of the elders of Zion.

CONQUEST, Robert. The Harvest of Sorrow: Soviet Collectivization and the Terror-Famine 

CONQUEST, Robert. The Great Terror.

CONQUEST, Robert. Stalin and the Kirov Murder.

Cormarmac, Rory; Aldridge, Richard J. Spying in the Crown: The Secret Relationship between British Intelligence and the Royals 

MACHTAN, Lothat. The Hidden Hitler.

NYQUIST, Jeffrey. O Tolo e seu Inimigo. Vide Editorial, tradução por Alessandro Cota; em inglês: The Fool and his Enemy.

NYQUIST, Jeffrey. Origens da Quarta Guerra Mundial. 

SAGE, Steven F. Ibsen and Hitler: The Playwright, the Plagiarist, and the Plot for the Third Reich

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Daniel Mastral – ficcionista brasileiro do satanismo

 



Nascido Marcelo Ferreira[1] (1967), o ex-satanista que ficou famoso na internet adotou o pseudônimo Daniel Mastral desde 1999. Para ele, ser o filho do fogo significava que as chamas não iriam queimar aqueles que pertencessem a ela, filho do fogo o fogo não queima. “Aquele que vive nas sombras enxerga quem está na luz, mas estes não conseguem enxergar o oculto”.

Esses são alguns ditados que ele alega serem frequentes entre os membros da irmandade que afirma ter frequentado. As seitas reforçam uma frequência de pensamento segundo a qual os que fazem parte delas estão integrados a um grupo seleto, nem a própria família os compreende tão bem quanto seus gurus e colegas de crença.  

Extremamente polido, articulado e com boa oratória, Mastral arrastou parte considerável dos internautas para endossar suas posições teológicas e exposições de um jogo das sombras.

Sobre os seus livros, ele diz que 85% é autobiografia. Se tudo o que ele escreveu for mentira, vale como ficção; se por acaso reflete casos verdadeiros, trata-se de uma personalidade singular.

Marcelo recorre à troca de nome à maneira dos episódios bíblicos, quando um personagem assumia uma nova etapa da vida. Simão torna-se Pedro, José torna-se Barnabé e Jacó passa a se chamar Israel. Por isso ele, Marcelo, torna-se Daniel Mastral. A facilidade de reconhecimento do pseudônimo para fins editoriais seria apenas um bônus, efeito remoto de um acontecimento simbólico de importância epifânica.

Vamos às suas alegações, expondo aqui um apanhado de tudo quanto ele diz ter ocorrido ou presenciado...

A linhagem da seita satânica que ele alega ter pertencido remontaria até a Idade Média. As seitas secretas se consideram guardiãs dos segredos da humanidade, elas possuem um acervo privado que contém conhecimentos que não podem ser encontrados nas livrarias comuns. Boa parte desse material é transmitida oralmente. Para fazer parte dessas seitas é necessário ser de uma linhagem profana, por isso os seus integrantes colhem muitos dados para avaliar o ingresso de novos interessados.

Ele diz que não é necessário ser satanista para servir ao Diabo, basta fornecer-lhe matéria-prima, como orgulho, soberba, altivez, dentre outras falhas por meio das quais o demônio pode atuar, portas abertas para uma influência maior, crescente e profunda.  

Conforme relata, Mastral sempre foi muito de estudar e que ocultismo, para ele, era expressão que não significava apenas o conhecimento de esoterismos, senão de qualquer coisa que estivesse fora do alcance do público, algo a ser desvendado. A curiosidade o levou à seção de ocultismo do centro cultural de São Paulo.

Enquanto jovem, tentou participar de uma igreja evangélica, na frente da qual constava uma mensagem que dizia “todos são bem-vindos”. Estava todo paramentado com roupa alternativa, cabelão de metaleiro e sentiu que havia um estranhamento dos crentes com relação a ele. Se fosse bem-vindo, ninguém deveria ter estranhado a sua forma de se vestir (pensou ele). Essa má reação dos irmãos fez com que ele não se sentisse acolhido e abandonou o culto.

Um traço característico que se mantém em seus depoimentos é a alta sensibilidade, em contraste com a imagem exterior de marginal, dado a brigas de rua e atos infracionais, o que marcou a sua juventude. Em “O Filho do Fogo – volume 1”, o personagem é vítima constante de bullying e encontra na reação agressiva uma forma de vingança e proteção, deixando de apanhar para passar a bater.

Na década de 80, ele pesquisou no consulado norte-americano por fichas de endereço da Igreja de Satã (Church of Satan), do famosíssimo Anton Lavey, e encontrou um endereço na Califórnia. Enviou uma carta em português, respondida passados alguns meses, lamentavelmente, em inglês. Inconformado, porque não sabia nada de inglês, mandou outra carta pedindo que enviassem uma resposta em português, porque de inglês ele não entendia nada. Passado um tempo, veio uma carta em português, informando que satanismo não era para qualquer um, que depois que entrasse não tinha como sair e indagando ainda se ele realmente estava interessado em se juntar. Ele preencheu uma ficha com uma série de informações tais como hábitos, ascendência, descendência, data de nascimento e o horário, a razão de ele os ter procurado, anexando fotos, endereço, informando dados da família, se estudava ou em qual escola estudou. 

E assim começava a aventura de Mastral no mundo satânico.

Num desses dias, ele estava estudando num canto do centro cultural, a biblioteca estava vazia, e chegou um senhor que aparentava ter 38 anos. O homem invadiu o seu espaço pessoal e forçou contato com ele de maneira tão invasiva que Mastral pensou se tratar de uma abordagem homossexual, rejeitando os avanços da figura (ele diz que era uma pessoa famosa, mas na época ela passava despercebida). O homem esclareceu que não era nada daquilo que o aspirante a satanista, na época ainda Marcelo, estava pensando e que o motivo da visita era o pedido de ingresso na seita. O homem misterioso forneceu uma sequência de informações pessoais, indagando que Marcelo confirmasse se era ele mesmo a pessoa que preenchia aquela qualificação e que tinha pedido para ingressar.

-Você é aquele fulano de tal que escreveu a carta e desejava se juntar a nós? Pois então, é por isso que eu vim aqui.

O homem era cordial, discreto, pagou-lhe um café, vários salgadinhos, deixou que ele pedisse qualquer coisa na lanchonete e teve um bate-papo com Mastral.

Sobre esse personagem de aura misteriosa é dito que manteve relações com a mãe do protagonista, logo no início, dando a entender ser o seu verdadeiro pai. Posteriormente, esse mesmo personagem, Marlon, é quem o introduz nos caminhos da seita e da doutrina oculta. Sempre simpático, beirando “40 ou 42 anos, tez pálida e traços que lembravam uma descendência sírio-libanesa. Usava um blazer de corte fino e elegante, preto, com camisa esporte clara. O anel era claramente de ouro, bem como a grossa corrente ao pescoço e os pequenos broches esquisitos na lapela. Reparei no tremendo rolex”. Isto é o que há de descrição da figura, o público completou o resto, cogitando a possibilidade de que o personagem na verdade seria o ex-presidente Michel Temer.

O autor nega o paralelo e até mesmo ironiza, falando que o próprio Temer citou o seu livro em um discurso. Depois de muitos boatos e conversas do público, o assunto morreu depois que Temer voltou para as sombras da política, após passar o seu período enquanto Presidente da República.

Após o episódio ocorrido na biblioteca do centro cultural, combinaram de aprofundar o encontro em outra oportunidade. Já em outro dia, dirigindo um opala preto, o homem foi buscar Marcelo em frente à Igreja do seu bairro.

Ele foi levado a uma mansão de um bairro nobre de São Paulo, com lareira, lustre, mesas grandes e muita opulência. Havia muitas pessoas e elas o trataram bem, mesmo que não estivesse bem vestido (portanto, diferente do que ocorreu na igreja evangélica). Havia pessoas que moravam na casa e outras 20 que se encontravam na mesma faixa etária de Mastral, que na época contava com 17 anos.

Desceram ao porão, que era iluminado e arejado. Existe casa ou mansão no Brasil com porão? Não sei...

Mastral salienta que andava armado, tinha faca e arma de fogo (caso fosse uma emboscada ele estaria precavido), mas ninguém se deu conta disso e nem houve necessidade.

Começou uma palestra, um verniz da doutrina satânica ministrada com auxílio de um retroprojetor. Isso ocorreu três vezes por semana, da casa para o centro satânico, deste de volta para a casa. Era uma sessão de doutrinação segundo a qual os satanistas realizavam a sua inversão típica, apresentado Deus como mau e o demônio como bom, como injustiçado e oprimido. Deus é colocado como um tirano, punitivo, que irá mandar a criação para a eternidade do inferno e que não há presença de amor em seus atos. Mastral se refere a esse conjunto de aulas como sendo um programa de lavagem cerebral.

A ficção de Mastral desenha mansões e castelos no Estado de São Paulo, dedicados a altos encontros satânicos, com salões elegantemente atapetados, variedade de bebidas e salas especiais dedicadas aos exercícios místicos nos quais se direciona a energia do corpo para adequá-lo à doutrina dos anjos caídos. Existe muito de direcionamento da energia nessas sessões místicas, chakras, ki, são várias as denominações dadas a energia, conforme as diferentes culturas do globo.

Num contexto ritualístico, Mastral ressalta a importância do papel feminino para o satanismo, o seguinte trecho é extraído de um de seus livros: “Por fim a mulher que punha os ingredientes tomou uma jarra e despejou um pouco do seu líquido dentro do caldeirão. Parecia que havia acabado seu trabalho. Tudo deve ter durado pouco menos de uma hora. Mais tarde eu vim a saber que as mulheres são muito bem vistas dentro do contexto do Satanismo e da Irmandade. Pois foi a mulher que teve a sabedoria de comer do fruto proibido e, cheia de poder de sedução, ofereceu-o também ao homem” (O Filho do fogo - Volume 1).

Findo o curso, fizeram umas perguntas para saber se ele havia retido a doutrina, submeteram-no a alguns testes de QI e de lealdade. A família dele passou a ser a irmandade, o nome da seita era “filhos do fogo”, mas a seita satânica, como um todo, é internacional.

Aplicaram uma série de injeções no novato, alegando que eram imunizantes para deixá-lo mais forte e retardar o envelhecimento. Desde então, Mastral sentiu ascensão meteórica no campo profissional, pois os membros da irmandade ocupavam vários postos na sociedade e, quando não estivessem em quadros profissionais estratégicos, poderiam fazer magia para prejudicar aqueles que se mostrassem impeditivos às ambições profissionais do colega luciferiano. E as coisas ocorrem de fato assim na ficção dele, quando precisa de alguma coisa, ele faz um ritual, um trabalho, exatamente como os macumbeiros. Quando não consegue por suas próprias forças, chama alguém da irmandade com uma especialidade mais sofisticada das artes obscuras, o que nos permite concluir que esse proceder satânico é uma espécie de macumba dourada ou gourmet, sem aquela indumentária grotesca, da estética suja, dos macumbeiros de branco, munidos de galinhas pretas, pipocas e velas em centros sem aprumo.

Chegou num ponto em que a seita exigiu que Mastral realizasse um sacrifício para ascender na hierarquia, no que ele se mostrava relutante. Em paralelo, ele começou a namorar uma mulher da igreja e frequentava os cultos, quando sofreu um desmaio. Nesse contexto, ele travou contato com um dos pastores, contra o qual realizou diversos trabalhos sem conseguir atingi-lo. Em uma das reuniões marcadas com o pastor, Mastral se surpreendeu que ele havia comparecido, sinal de que o ritual para atingi-lo havia falhado. O pastor o convence a entrar na sala para fazer uma breve oração. Já dentro, ele notou que as janelas possuíam grade e que a porta havia sido trancada, com a última lembrança sendo a da palma do pastor crescendo em seu rosto e ficando tudo escuro. Ele passa por um exorcismo e a sala fica destruída. Mastral descreve que passou a ter um sentimento de paz.

A virada de chave em sua vida passa pela conversão ao cristianismo, em sua vertente evangélica. Com uma estrutura mafiosa, ele diz que a seita o perseguiu depois que ficaram sabendo de sua apostasia do satanismo, ameaçando-o de morte e matando seus animais de estimação. Muita água correu até que ele conseguisse se desvencilhar desse passado e viver normalmente.

Desde então, Daniel Mastral tornou-se uma figura altamente popular em podcasts e redes sociais, contando os seus vídeos com milhões de visualizações, além de uma massa de admiradores, pronta para acreditar em todos os pontos alegados por ele, tanto no aspecto biográfico quanto no aspecto escatológico.

Em suas manifestações, nota-se sempre a aura do escolhido. Ele afirma que o número 9 é importante para o demônio, porque a Bíblia diz que ele recebeu nove pedras, também a obra de Dante é uma travessia entre os nove círculos infernais, descrevendo as punições que os pecadores lá encontram. O demônio teria nove discípulos e Mastral mencionou que um pregador teve uma visão na qual um desses discípulos abandonaria a seita satânica e se converteria, dando a entender que esse ex-discípulo seria ele mesmo, Daniel Mastral. Isso foi dito em uma das entrevistas.

Em suma, a sua mensagem é a de que existem seitas satânicas e elas pretendem não só adorar o diabo e entidades, como também governar o mundo. Para isso é preciso um gatilho, crises, oportunidades em que uma nova proposta pode ser vendida de maneira mais palatável ao público geral. Porém, o Apocalipse prenuncia a destruição, o fim do mundo, e os satanistas, se o são de fato, creem em Deus. Se o Apocalipse é o fim do mundo, não seriam os satanistas burros então? Nesse caso, ele recorre ao conceito de arrebatamento. Com a grande tribulação, haverá uma massa que será retirada da terra e conduzida para o céu, ou como dizem alguns, para a Jerusalém celeste, e irá restar este mundo destruído para servir de base ao reino satânico. Eles desejam instaurar o reino luciferiano sobre a terra após essa fase apocalíptica, reinar sobre a massa destruída. Findo o período histórico e consumada a escatologia, não haveria nenhum interesse de Deus em intervir aqui neste mundo e o demônio então integraria este plano como um de seus domínios.

E quanto ao inferno? Os satanistas contam com o fato de que, sendo do time demoníaco, quando morrerem será escolhido um lugarzinho bom no inferno para que eles possam prosseguir a sua pós-existência terrena (afinal eles não são como os outros condenados, eles são uma “nata”, fazem parte da irmandade), o resto vai para o “inferno dos órfãos”, onde, aí sim, haverá muito sofrimento.

Assim, a doutrina satânica é vendida com base em sofismas, falsas promessas e se baseia numa falsa independência ou paridade do demônio com relação a Deus, recaindo no velho maniqueísmo.

Em certo trecho do volume 2 de sua obra, ele nos traz uma cena na qual uma satanista mais experiente, vinda dos States, se coloca a palestrar diante de seus correspondentes brasileiros, é aí ele desenha a visão satânica acerca de entidades e continentes, além de se jactar quanto aos planos luciferianos e seu cenário de maturação. A palestra dessa suposta satanista, em resumo, passa a ressaltar o domínio cultural satânico, traçar zonas geográficas, com o enfoque nos Estados Unidos da América.

Mesmo quando passou a se contrapor ao satanismo, Mastral continuou acreditando piamente nesses traçados feitos pela expositora, e a partir dessas páginas[2] ele faz seus raciocínios sobre diversas questões de geopolítica e religião, ainda que com uma chave invertida.

Assim é que, partindo da base ficcional (que o autor alega se tratar de autobiográfica em sua quase totalidade), chega-se ao ponto em que ele passa a interpretar também a política das nações e as agendas internacionais, ora caminhando num sentido acertado e razoável, ora recorrendo a narrativas altamente especulativas, dando-as como certas. É digno de nota que os desinformantes seriam ineficazes se trouxessem apenas fatos inexistentes e delirantes, eles precisam misturar as conspirações verdadeiras com as conspirações falsas e chacoalharem tudo para produzir uma mistura alucinógena que dificulta a interpretação do cenário como um todo.

No final das contas, o que Mastral revela? Ele escreve sobre doutrina, encontros e rituais, mas não revela nada nem ninguém.

Parafraseando o ditado segundo o qual se fala o milagre, mas não o santo, Mastral fala muito sobre rituais, contatos e acerca da existência de satanistas importantes nas altas esferas da sociedade, em tom geral, pois não identifica nenhum em particular, nem instituições privadas ou públicas que teriam conexões com uma seita satânica. Os satanistas arranjaram para ele um emprego de relevo em uma determinada empresa, Mastral não revela qual é a empresa nem quem era o gerente vitimado pelos feitiços de sua seita para que ele pudesse ascender ao cargo de alto executivo.

É alegado também que os satanistas ocupam altas funções na sociedade, apresentando-se como empresários, promotores, juízes, políticos, delegados, etc... Mas Mastral nunca identificou nenhum, nem se antecipou a deixar um dossiê preparado contendo tudo o que ele poderia ter revelado, mas não revelou, fosse qual fosse a razão para não o ter feito (como, por exemplo, a de que foi um ajuste para parar a perseguição). As pessoas consideradas arquivos vivos, marcados para uma queima, têm a péssima mania de não deixar um documento preparado para impedir que seus adversários sejam bem sucedidos na supressão da verdade.

Ele reproduz uma versão da história altamente problemática, alimentando muitos mitos já endossados pelo mesmo estamento internacionalista contra o qual ele alega se contrapor. Reproduz, principalmente, mitos contra a Igreja Católica, lendas sobre as cruzadas, falsificações sobre a Inquisição, além da consagrada mentira de que “Constantino teria remodelado o cristianismo primitivo com a instauração de uma Igreja Católica Apostólica Romana, com santos, sincretismos e etc...”, quando na verdade o referido imperador apenas cessou a perseguição, mantendo a Igreja as suas práticas e os quadros eclesiásticos até então existentes.

Ainda no campo religioso, ele fala também da questão dos Nefilins, os tais gigantes bíblicos, que iam de 2 a 4 metros. Também encontraremos menções ao mito de Ratanabá e as pirâmides da Amazônia (inclusive com o acréscimo de que até Hitler sabia das pirâmides da amazônia...).

Vindo para os tempos modernos, ele repete o mito de que a Rússia manipulou a eleição dos Estados Unidos em 2016 em favor de Donald Trump. Essa mentira é diretamente confrontada pelo fato de que os próprios democratas estão conectados com os interesses dos russos de longa data. Os arquivos trazidos à luz por Bukowsvi expõe a diplomacia secreta do então Senador Joe Biden[3], que na década de 80 havia dito não ter nada contra os soviéticos e que a oposição era na verdade da boca para fora, como se não bastasse as conexões dele (e de seu filho) com burocratas de Moscou, obviamente supervisionados pelo Kremlin. A afirmação de Mastral segundo a qual a CIA teria provado a manipulação das eleições norte-americanas, pelos russos, em favor de Donald Trump em 2016 é completamente delirante e falsa.

No aspecto teológico, encontramos uma das manias mais perversas, mas que, ditas num tom fofo e inofensivo, passam por delicadezas impossíveis de serem confrontadas, mas aqui nós o faremos. Falo sobre a detestável simplificação que reduz Deus a “amor”. Isso de “Deus é amor” é frequentemente usado como subterfúgio para escapar da higidez doutrinária e legitimar heresias, deformações do credo e da própria história cristã. Para além do amor, existe um corpo doutrinário muito bem definido e mandamentos explícitos, contra os quais ninguém pode se opor sem o afastamento da graça divina, com a respectiva condenação ao inferno, que não é obra de Deus, mas sim angélica, dos demônios caídos, embora com a óbvia permissão divina.

É com base no tratamento equivocado da questão do amor que se explica a facilidade com que se troca de posição teológica, como se o discurso tivesse se convertido em falsidade pelo simples fato de o fiel não ter se sentido acolhido, como se o ponto determinante fosse uma experimentação que navega na subjetividade, típica da fluidez arbitrária provocada pelo abandono de dogmas, aliás, dogmas gerados por longas e intensas discussões em concílios.

Mastral não se sentiu bem na igreja que frequentava, não se sentiu acolhido, e então resolveu sair. Ele mensura o acerto ou o desacerto de questões teológicas com base no conforto e na agradabilidade que elas são capazes de lhe proporcionar, um critério que não faz sentido algum, pois são as normas que devem orientar a conduta, e não esta as normas, sob pena de mundanizar a Igreja. Algo que nunca funcionou e que, quando tentado, sempre fez com que as igrejas cessassem de serem igrejas.

É atribuída ao Papa João Paulo II a citação segundo a qual os brasileiros são católicos no coração, mas não na fé, dando a entender que nestas terras o dogma encontra dificuldades de absorção. Por isso, se uma pessoa dessas encontra um padre grosseiro, a doutrina vira falsa, como se o conjunto discursivo teológico não existisse por si, indiferente aos humores e idiossincrasias de ocasião, ou seja, àquilo que Mastral tomou como fator determinante em inúmeras ocasiões.

Mastral fala bastante sobre a questão das inoculações e sobre alguns globalistas proeminentes, como Bill Gates. Esse papo de globalismo se espalhou e é mais aceito atualmente do que era alguns poucos anos atrás. Isto se explica pelo fato de que, antigamente, apenas vozes conservadoras e patrióticas cultivavam informações acerca das iniciativas internacionalistas e enxergavam a cisão que elas visavam produzir entre os estados nacionais, seus povos e as elites interessadas no domínio hegemônico. Tais vozes suportavam com firmeza as tentativas de enquadrá-las com pechas de conspiração, mas o seu discurso foi reforçado quando um dos esquemas globalistas acorreu para denunciar o outro, valendo-se, nesse ato, de diversos pontos levantados contra o globalismo ocidental. Assim, a máquina de propaganda dos neocomunistas (globalistas vermelhos), impulsionou diversas alegações já feitas contra os globalistas brancos, é verdade que impulsionam também vários pontos problemáticos que mais confundem do que esclarecem.

Todos esses pontos passam despercebidos da lente mastraliana. Considero-o um sujeito muito simpático, mas cujas pretensões de conhecimento do oculto estão muito acima do que o cenário permite, ele faz uma mistura excessiva de conspirações baseadas em fatos reais com elucubrações próprias sem lastro, fruto da mitologia contemporânea. O mais curioso é que não encontrei nenhuma voz querendo tachá-lo de teórico da conspiração, enquadrando-o como louco, que fala naturalmente sobre diversos temas que, ditos por outrem (principalmente se vinculado à direita política), poderiam gerar xingamentos imediatos. Ao contrário, Mastral dissertava sobre os temas mais espinhosos, como inoculações, guerra biológica, Adrenocromo para as elites, sem sofrer nenhuma interrupção ou ridicularização e, aliás, frequentando os podcasts mais visados do País. Quanto mais avançava nesses assuntos, mais era convidado.

A hipótese de um desinformante profissional não me parece sólida, eu penso que ele de fato acreditava no que dizia. Essa confusão genuína que ele faz possui forte veia teológica freestyle típica do meio pentecostal, que navega aos sabores das profetadas, sem a base milenar e doutoral da Igreja.

Dissipar os mitos históricos é mais fácil do que os filosóficos, e dissipar estes muito mais do que os de nível teológico. Infelizmente, Mastral não teve tempo de dar esse salto qualitativo, nem parecia estar em busca de pesquisar fontes substanciais ou adicionais sobre seus tópicos de interesse.

As circunstâncias de sua morte alimentam hipóteses e teorias. Ele estava em uma fase de reconstrução da vida, após a ex-esposa e o filho terem falecido, ambos acometidos por um quadro depressivo grave.

Sobre a morte do escritor, encontram-se basicamente duas respostas sobre a mesa. A primeira trata da hipótese de queima de arquivo, pois, segundo dizem, ele sabia demais, ou teria “dado com a língua nos dentes”. Estava com uma nova esposa, outro filho e, como se não bastasse, havia enviado mensagens a um amigo pouco tempo antes, indicando que ainda havia muita coisa a ser dita: que revelaria nomes e apresentaria coisas que nunca havia apresentado antes.

Por fim, há a hipótese de suicídio, baseada na ideia de que ele não teria conseguido superar o quadro depressivo que o acometia, além de não suportar as consequências à sua honra que uma investigação criminal poderia causar, tendo por objeto a alegada hipótese de suicídio assistido da ex-esposa (ele confessou que passou a noite monitorando o pulso dela, que estava tomando remédios para depressão e tudo indicava que exagerou na dose).

Nessa última linha de raciocínio, trabalha-se também com a hipótese do suicida que, momentos antes, deseja montar uma base para a impressão de que não está se matando, que procura deixar em suspenso a probabilidade de ter sido vítima de forças ocultas por ser alguém crucial, prestes a revelar algo. Ou seja, tal forma de pensar pressupõe uma personalidade vaidosa, que quer ser vista como o grande desvelador das intenções ocultas...

Não foram encontrados sinais de que havia terceiros no local de mata para onde ele se dirigiu espontaneamente e sozinho.  Ainda assim, há quem jure, de pés juntos, que houve de fato uma queima de arquivo. Cada um é livre para acreditar no que quiser. Por mim, devemos considerá-lo sobretudo como um ficcionista brasileiro, um olhar atento e benigno saberá extrair de sua literatura a excitação imaginativa cujo verossímil é combustível para desdobramentos artísticos com essa mesma temática de misticismo e sociedade secretas. Espera-se que um escritor exerça a liberdade criativa, pouco importando que os fatos expostos sejam reais ou não, mas é interessante deixar o público ciente de que existem movimentações feitas nas sombras, por elites discretas (ou secretas – vale salientar que há diferença nesses dois termos).

Não encontraremos aprofundamento psicológico e altos debates filosóficos travados entre os personagens, com toda aquela tensão moral colocada diante do leitor, mas os escritos de Mastral possuem a virtude da simplicidade, são fáceis de ler e cumprem essa função de excitar a imaginação, de confabulações que ocorrem no Brasil, com elites e pessoas importantes, sem fechar o quadro conclusivo, como o próprio autor nunca fechou, mesmo quando tinha a oportunidade de fazê-lo.



[2] Na minha edição, página 200 em diante, “O filho do Fogo – Volume 2”.

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