quinta-feira, 26 de junho de 2025

Denúncias emocionadas sobre recrutamento ucraniano, bico fechado quanto ao dos neocomunistas

 

Descobrindo o sol: recrutamento militar obrigatório é instituição ao alcance dos Estados contemporâneos

 




 

Com a eclosão de guerras, adotam-se novas medidas de recrutamento ou reforçam-se as que já existem, o que ocorre maneira generalizada, na medida em que a expansão do serviço obrigatório por uma das partes coloca a outra em desvantagem, que se vê forçada a seguir o mesmo rumo.

Questão sensível, em que burocratas mandam que os outros morram nas trincheiras e campos minados.

Mas o que tem chamado a atenção do público é aquilo que se tem compartilhado como truculência do recrutamento de soldados ucranianos. É comum circular nas redes sociais vídeos sobre isso, engrossando o coro do falso pacifismo pregado pelos simpatizantes do discurso neocomunista, que enfatiza a agressividade ucraniana quando do recrutamento ao mesmo tempo em que isenta a mão pesada que cai sobre a própria juventude russa, a qual também se vê forçada a lutar.

Ao todo, mais de um milhão de russos fugiram do país para evitar o alistamento, havendo registros fotográficos do grande fluxo de pessoas em direção aos países satélites, muitos dos quais ex-repúblicas soviéticas, sem o grau de controle fronteiriço padrão europeu[2].  Há notícias de violências praticadas contra centros de recrutamento, chegando a causar mortes, incêndios e explosões.

Buscando componentes para as ondas humanas, a KGB-FSB, desde que a guerra começou, tem procedido a visitas em fábricas e locais de trabalho, obrigando pessoas a subirem em ônibus e serem despachadas para a denominada “operação especial”, tendo a federação russa imposto a empregadores a obrigação de denunciarem pessoas em idade apta para o combate. Enquanto o propagandista do Kremlin, Vladimir Solovyev, defendia ardentemente a guerra dos comunistas contra a Ucrânia, seu filho Danill Solovyev estava seguro em Londres, seguindo carreira própria[3].

O regime vermelho é o mesmo que possuía a prática de limpar campos minados com soldados rasos, além de manter batalhões penais para julgar aqueles que retrocedessem, por qualquer motivo que fosse.

Nas circunstâncias atuais, as imprecações são feitas no seguinte tom:

"Pessoas estão morrendo, isso precisa parar"

"A Ucrânia força os ucranianos a lutarem"

Basta consultar a demografia russa para constatar como a cultura assassina em massa gerou graves consequências. A população russa conta com cerca de 143,8 milhões, número pífio para um país tão grande, ainda que se leve em conta que poucas regiões podem ser consideradas adequadas para a ocupação humana.

A Ucrânia enfraquecida seria incorporada ao território russo, ou seja, os comunistas ganhariam em seu território uma população de cerca de 37 milhões de ucranianos, além de áreas férteis e recursos adicionais. O que ia acontecer não é que pessoas parariam de morrer, ao contrário, o governo russo passaria a poder recrutar ucranianos para lutarem nas invasões futuras planejadas pelo Kremlin, essa população ucraniana passaria a compor o recurso humano do qual se poderia exigir serviço militar. Ganhariam recursos, indústria e homens.

Ou os ucranianos morrem defendendo o seu país ou, anexados ao regime do Kremlin, morrerão com o recrutamento forçado que o exército russo demandará deles, porque eles vão fazer parte do "novo império soviético" e terão seus deveres perante o Estado.

Sem contar o modus operandi das forças policiais dedicadas à perseguição política e execução sumária à moda dos vermelhos, que nutrem o hábito de ter listas preparadas para os seus alvos quando ganham domínio sobre um novo espaço territorial e usam o terror como forma de submissão e adestramento da população local. O massacre sobre populações desarmadas é mais intenso e prazeroso para eles do que no campo de batalha, os assassinatos de Katyn e de Bucha estão aí para provar.

O recrutamento obrigatório é instituição consolidada nos Estados contemporâneos e que o comunistófilo Vance e Allan dos Santos parecem fazer de conta que se trata de uma coisa extraordinária. Mesmo os que não instituíram, podem fazê-lo com uma votação no parlamento e com uma canetada dos seus respectivos presidentes, se não o fizeram é porque simplesmente não precisaram. Caso estivessem na mesma situação ucraniana, implementariam esse recrutamento em menos de uma semana.   

Mas de repente, escutam-se vozes da imprensa, seja à direita ou esquerda, falando num tom como se o recrutamento obrigatório fosse questão exclusivamente dos adversários da Rússia.  Não sabemos se os indignados com as convocações de soldados se fingem de bestas ou se realmente nasceram ontem.

Sim, na Ucrânia tem recrutamento obrigatório.

Sim, a Rússia também convoca jovens para lutar no exército obrigatoriamente. E mais, o tratamento que os russos dão aos integrantes do exército é dos mais deploráveis, os comandantes militares se aproveitam da posição hierárquica para determinar a soldados que desempenhem tarefas menores para amigos, estranhas à função militar, como se fosse um mujique ou servo que se empresta a outrem como favor.

E mais, o Brasil também tem alistamento obrigatório, se entrarmos em guerra uma massa de homens será convocada para lutar, querendo ou não, isso foi assim desde a República velha.

 

 

"Foi somente durante a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), após uma intensa peregrinação liderada pelo poeta Olavo Bilac (1865-1918), entre 1915 e 1916, que o Serviço Militar passou a vigorar de forma obrigatória. Essa campanha teve o propósito de demonstrar nas principais cidades brasileiras, por meio dos políticos mais influentes, a necessidade de obrigatoriedade do Serviço Militar e sua importância para o exercício da cidadania (BRASIL, 2014). Dessa forma, em 10 de dezembro de 1916, foi realizado o primeiro sorteio para o SMO, em uma solenidade aberta à população e com as presenças do Presidente da República, do ministro da Guerra e de Olavo Bilac. Como homenagem pelo seu esforço, Olavo Bilac foi denominado Patrono do Serviço Militar Obrigatório, e sua data de nascimento foi escolhida como o Dia do Reservista (BRASIL, 2014). Após decretos sem grandes mudanças para a condução do serviço militar, em 1918, 1920 e 1939, o Decreto no 7.343 de 1945 trouxe uma substancial mudança na condução do SMO. Seu primeiro artigo mencionava a extinção do sorteio militar, e o segundo determinava a convocação obrigatória dos brasileiros, alistados ou não, para se apresentarem, no ano em que completassem 21 anos de idade, nos lugares estabelecidos pelo ministro da Guerra, atendendo à prestação inicial do serviço militar (BRASIL, 2014)". (COSTA NETO, Armando da SIlva. A HISTÓRIA DO SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO. p. 226/227)

 

Ao que parece, é como se as pessoas estivessem descobrindo só recentemente que recrutamento obrigatório existe, experiência que começou bem antes da Revolução Francesa, esclarecendo Jouvenel acerca do cenário prussiano que:

 

Tal era o espírito do famoso regulamento de 1733. O serviço militar, a condição de reservista, a mobilização em tempo de guerra, tudo é obra prussiana. Os escassos recursos humanos e financeiros desse povo em seus começos levou um Poder ambicioso a um grau de utilização da força nacional até então desconhecido. A Prússia, ainda pequena em relação à França, apesar do crescimento consecutivo a suas gloriosas vitórias, contava às vésperas da Revolução com 195 mil homens, contra 180 mil na França. E esses 195 mil homens lhe custavam, grande vantagem de seu sistema, menos da metade do que a França pagava para manter um exército menos numeroso. Cento e oitenta mil soldados franceses, 195 mil prussianos, 240 mil austríacos: esses dados mostram bem a passividade da França no fim da antiga monarquia, surda aos apelos que lhe vinham da Holanda em 1787, da Bélgica em 1789, deixando passar as ocasiões de fechar finalmente essa "porta aberta aos inimigos da França", sua fronteira nordeste. (JOUVENEL, p. 190/191)

 

Já no contexto do movimento revolucionário francês, atesta-se:

 

“A era da carne de canhão. Essa decisão da Convenção, de 23 de agosto de 1793, foi acompanhada de medidas que lhe deram efeito. Em 1794, 1.169.000 homens figuram nas listas militares francesas. Uma nova era se inaugura na história militar, a da "carne de canhão". Nenhum general do Antigo Regime teria ousado lançar seus homens por colunas profundas sob o fogo do inimigo. Folard, que o propusera, não pôde se fazer escutar. A ordem vigente, que não tomava nenhuma decisão categórica, poupava os homens. Os generais da Revolução Francesa e do Império os utilizaram à vontade: o Poder lhes permitia requisitar a nação francesa inteira. A História dirá que esses massacres foram o começo do declínio da população e da energia francesas. Em 1798, a Lei Jourdan formaliza o sistema da requisição humana. Homens de 20 a 25 anos, cinco classes que somam um milhão de homens, serão obrigados ao serviço militar, a lei decidirá quantos deles serão dispensados e o sorteio designará os conscritos. A cada ano a classe de mais idade poderá ser reconvocada, e uma mais jovem convocada. É o sistema que Napoleão utilizará: vemo-lo primeiro tomar oitenta mil homens em cada classe, até que, preparando a campanha da Rússia, ele convoca 120 mil homens da classe de 1810; depois dos desastres, vemo-lo requerer 150 mil homens da classe de 1814 e reconvocar trezentos mil das classes que inicialmente havia poupado. Ao todo, de setembro de 1805 a novembro de 1813, ele exigiu da França dois milhões e cem mil homens, além dos soldados regulares da República. Como a Europa teria podido lutar, se não tivesse recorrido a práticas semelhantes? Muitos dirigentes só aceitaram com dificuldade tais medidas, cuja barbárie sentiam. Adotadas, elas permitiram esmagar numericamente Napoleão.  A vantagem inicialmente obtida pela França por métodos intensivos de exploração do potencial humano perdeu-se quando os rivais passaram a imitá-la. O balanço das forças internas fazia prever a derrota francesa em 1793 e 1794. A convocação em massa impediu isso. Com a equiparação dos métodos, a França nada ganhou com esse adiamento de um prazo fatal”. (JOUVENEL, p. 191/192)

 

A contagem de corpos é tarefa muito difícil em questões históricas, o que faz com que os especialistas precisem recorrer a estimativas. As mortes não são apenas as ocorridas nos campos de batalha, mas principalmente as agravadas por questões de doenças decorrentes de más condições enfrentadas pelos soldados. Estima-se que as campanhas napoleônicas tenham ceifado a vida de até 1,3 milhão de franceses[4].

Como toda medida estatal implementada que amplia o poder burocrático, este não retorna à sua configuração pretérita e os novos mecanismos tendem a se tornar permanentes.

A existência da obrigatoriedade do serviço militar já não deveria ser surpresa para mais ninguém, a não ser que o objeto da discussão fosse o serviço militar compulsório em si, como questão abstrata, portanto alheia a conflitos em andamento, mas não é isso que se escuta, pois o centro da discussão é a compulsoriedade existente do lado ucraniano, e somente nele... Por tal razão, deve ser frisado que a problematização da questão da obrigatoriedade militar não gira em torno sobre a justiça ou injustiça dessa medida, mas sim em colocar a questão de maneira tal que a opinião pública se convença de que um dos lados está se utilizando de práticas abusivas e fora da curva, não de algo que praticamente todos os Estados fariam em circunstâncias semelhantes.

Qual é o sentido de fazer-se de besta e enfatizar o recrutamento ucraniano enquanto se ignora a brutalidade de russos contra os próprios russos? Aonde é que querem chegar? Por acaso descobriram o sol? Essa é uma questão que fica para Allan dos Santos, JD Vance e demais comentaristas que tem seguido a mesma linha de manifestação, puxando saco do filocomunismo de setores inflitrados na direita norte-americana. Pergunto, vão colocar vídeos de russos sendo empurrados para o serviço militar, alguns mesmo tirando a própria vida no campo de batalha ou desertando, para denunciar a compulsoriedade do regime socialista do Kremlin também?

 

DUFAUR, Luís. Balcanização da Rússia será um perigo maior. https://flagelorusso.blogspot.com/2023/10/possivel-balcanizacao-da-russia-um.html

Russos fazem fila nas fronteiras para fugir do recrutamento e levam governo a proibir a saída. https://areferencia.com/europa/russos-fazem-fila-nas-fronteiras-para-fugir-do-recrutamento-e-levam-governo-a-proibir-a-saida/

População do Ucrânia hoje. https://populationtoday.com/pt/ua-ukraine/

Ending military conscription. https://www.semanticscholar.org/paper/Ending-military-conscription-Poutvaara-Wagener/681dabdb114b099e894ab878140fae064a4fb49a

JOUVENEL, Bertrand. O Poder: história natural de seu crescimento. Editora Peixoto Neto.

Russos fazem fila nas fronteiras para fugir do recrutamento e levam governo a proibir a saída. https://areferencia.com/europa/russos-fazem-fila-nas-fronteiras-para-fugir-do-recrutamento-e-levam-governo-a-proibir-a-saida/

LENTZ Thierry. Napoleão foi responsável pela morte de “milhões de soldados”? https://www.napoleon.org/en/history-of-the-two-empires/articles/bullet-point-6-napoleon-responsible-deaths-millions-soldiers/



quinta-feira, 19 de junho de 2025

Propagandista alemão Hubert Seipel recebeu 600 mil euros para escrever um livro pró-Kremlin

 

Foto retirada de: https://odessa-journal.com/a-german-publishing-house-has-ceased-the-sale-of-books-about-putin-by-journalist-hubert-seipel-the-release-of-these-books-was-funded-by-the-billionaire-alexey-mordashov#!


Em um mundo de ideologias pós-modernas que controvertem acerca da existência de conceitos morais como Bem e Mal, encarando a consciência humana como mera construção social, Hubert Seipel foi além dessas discussões. Ele não só sabia que tinha uma consciência, como resolveu vendê-la por um preço nada módico para o governo russo.

Segundo documentos vazados do sistema financeiro do Chipre, o jornalista alemão recebeu nada menos que 600 mil euros para publicar um livro impulsionando as narrativas de Moscou para o público europeu. Essa quantia, convertida em moeda nacional, seria o equivalente a três milhões de reais. O pagamento seria para a publicação de um livro sobre a situação política russa, obra lançada no ano de 2021 com o título “O poder de Putin” (em alemão Putins Macht)

Seipel ainda publicou, em 2015, livro com a mesma temática sob o título “Putin: o poder visto de dentro “(em alemão Putin: Innenansichten der Macht).

Além de livros, o jornalista produz documentários para a emissora alemã NDR, por meio dos quais transmite ao público alemão uma série de entrevistas com o governante russo. Em 2021, durante uma entrevista na rádio, Hubert foi perguntado se havia recebido algum pagamento para fazer cobertura favorável ao governo russo, ele negou de forma enfática e com pose de indignação.

O propagandista teria recebido esses valores de uma offshore mantida por Alexey Mordashov, oligarca pertencente à órbita do poder de Moscou, tendo sido testemunha contratual o advogado Dmitry Fedotov, que trabalha para Mordashov.

As notícias que circulam sobre o método de propaganda nas redes sociais já denunciavam a existência de uma rede pulverizada de perfis dedicados a repetir os mesmos tópicos da agenda de Moscou, sendo que recentemente houve até mesmo confissão da existência de fábricas de trolls, cuja função seria a massificação de postagens voltadas a influenciar a opinião pública doméstica e estrangeira. Na ocasião, Yevgeny Prigozhin, que posteriormente viria a se tornar inconveniente ao Kremlin, talvez por ter o hábito de falar em demasia, confessou que não só mantinha uma fábrica de trolls, enganando os inimigos ocidentais, como continuaria a enganá-los no futuro.

Não obstante, o caso de Seipel é de uma figura pública, aparentemente imparcial, que se apresenta na condição de especialista para o público geral. Ele teria acesso fácil ao presidente russo para entrevistas, contando com o diferencial de “ser um dos poucos que conhecem Vladimir Putin tão bem”, podendo se gabar de tê-lo encontrado mais de 100 vezes.

O propagandista tenta se defender, apesar de confessar ter mesmo recebido valores, não confirma o montante recebido, acrescentando ainda que faz exigências aos contratantes que garantem a sua independência e imparcialidade para elaborar os escritos. Perguntado se as pessoas que integram a sua equipe de reportagem não questionaram esse vínculo, o propagandista respondeu que ninguém nunca havia perguntado nada sobre relação alguma.

Contra as acusações de propagandista, ele rejeitou a ideia de ser um agente de influência do Kremlin, já que não teria sido pago por nenhum órgão oficial do governo russo: “O dinheiro não veio de nenhum órgão de segurança ou de estado”, disse o propagandista.

Durante o período de transição da União Soviética para a Federação Russa, houve um programa controlado de privatizações pelo qual o poder central logrou formar vários de seus megaempresários. Por uma via indireta, aparentemente desvinculada do governo, essas fortunas capitalistas poderiam celebrar contratos mundo afora atendendo aos interesses da nomenklatura neocomunista e seus ditames. O pacto entre a FSB (KGB) e os novos ricos era a bipartição entre poder político e poder financeiro: os herdeiros do marxismo-leninismo continuariam responsáveis pelas decisões políticas e os oligarcas poderiam receber a fatia do bolo das estatais e do capitalismo permitido pelo governo, atuando dentro dos limites dessa cerca enquanto se mantivessem leais ao governo, sob a pena de serem expropriados, presos por “fraudes tributárias” ou caírem de alguma janela de hotel.

Além de conseguir manipular o empresariado biônico, a inteligência russa pode fazer o mesmo na rede de máfias que se espalha para além de suas fronteiras, que encontrou nos fins dos anos 80 e 90 um ambiente caótico conveniente para se desenvolver e operar.

Por esse modo de agir, o contrato pode ser celebrado com jornalistas europeus e americanos, que se isentam de quaisquer intenções perniciosas à soberania de seus países, alegando estarem apenas apresentando um ponto de vista protegido pela liberdade de imprensa, negada nos domínios do entrevistado, como é exatamente o caso de Hubert Seipel.

Anatoliy Golitsyn já apontou que um dos objetivos estratégicos da União Soviética era afastar a Europa da posição de aliada dos Estados Unidos, tornando esse bloco de países em um conjunto neutro ou francamente hostil à influência norte-americana, o que parece ser a linha dos movimentos ditos conservadores e direitistas europeus, mesmo os de fora da Alemanha, que macaqueiam o discurso racial do terceiro reich como se tivessem base para isso e nutrem simpatias para com o neobolchevismo e eursasianismo, ideologias a fim de maquiar o regime neocomunista de Moscou e torná-lo mais palatável.

Já em 1984, Golitsyn elencava entre os objetivos do eurocomunismo a “penetração no Ocidente de técnicas de desinformação, já testadas em sua eficácia, para sugerir a evolução dos partidos eurocomunistas em partidos nacionais independentes e liberalizados” a fim de “preparar o terreno para uma eventual liberalização na União Soviética e na Europa Oriental e para a promoção massiva da dissolução da OTAN, do Pacto de Varsóvia e da presença militar americana numa Europa neutra e socialista” (p. 337/338)

O mundialismo da ONU aglutina as nações com base na lábia, suborno e ideologia, mas a tradição comunista, que é muito mais velha, pode fazer o mesmo e não há razão para descartar uma abordagem pacífica, trazendo para o seu lado os países europeus também com base na lábia, suborno e ideologia. A Alemanha é uma das peças principais para se atingir o objetivo de vitória dos comunistas, assim era antes mesmo de a OTAN vir a existir, quando Karl Marx prognosticava o triunfo da revolução, ou ainda, anos depois, quando Aleksandr Dugin lamentava que o nacional-socialismo não tenha se aliado à União Soviética numa frente única antiocidental.

O discurso produzido pelo propagandista Hubert vem a calhar nessa tentativa de aproximar as correntes europeias ao regime de Moscou, e esse escritor é apenas um dos agentes de influência desmascarados, pois muitos outros continuam repercutindo uma imagem de possível harmonia entre os sentimentos nacionais e uma tradição inveteradamente comunista.

Em seu livro de 2021, Seipel inicia descrevendo o movimento de caça às bruxas que ocorreu em Salem, nos Estados Unidos, extraindo desse quadro um ambiente de fanatismo, para então fazer uma analogia com as denúncias feitas pelo Senador norte-americano Joe McCarthey, o qual atuaria numa atitude anticomunista histérica que só poderia ser explicada com base em fatores psicológicos da mentalidade perturbada do Senador.

Um traço fundamental entre os pseudonacionalistas, os que manifestam apoio ao regime russo e chinês, é justamente esse: eles agem com base na ideia de desaparecimento da ameaça vermelha, precisam impor a concepção do comunismo como uma ideia morta, que não encontra agentes reais e ativos no século XXI. Por essa linha, Rússia e China não se enquadrariam como regimes comunistas, o pseudonacionalista tenta descaracterizar o sistema político chinês como qualquer outra coisa, alegando que reformas econômicas teriam transformado a China “em alguma outra coisa”, como se a tradição marxista não fosse flexível o suficiente para trocar de pele como as cobras fazem.

Somente com base nessa imposição, a de considerar o anticomunismo uma posição antiquada e vazia, típica do fanatismo protestante contra as bruxas de Salem, é então possível trabalhar a imagem da Rússia sem a mácula dos gulags, sem um sistema totalitário assassino que conta com cerca de 100 milhões de mortes, sem tendência internacionalista, sem financiamento a terrorismos e fomento a cartéis de drogas, em suma, o regime criminoso é simplesmente deixado de fora da equação ou considerado tão criminoso quanto os regimes ocidentais supostamente seriam. O propagandista não protege só o neocomunismo russo, ele também tenta retirar a seriedade das críticas feitas por Donald Trump com relação à China, classificando a sua convicção de que o coronavírus é um vírus chinês como sendo uma atitude quase religiosa (ou seja, estritamente fanática).

  Certamente não devemos esperar que Seipel tenha desapontado o cliente que pagou pela elaboração da peça de propaganda. No documentário, Vladimir Putin aparece caçando veado-vermelho na Sibéria, dirigindo por Moscou em sua limusine ao lado de Seipel, em outra cena tendo a orelha lambida pelo seu cachorro, além de aparecer jogando hóquei. Segundo o The Guardian, o documentário foi visto por 1,85 milhões de pessoas quando primeiramente foi veiculado em 2012 e repetido cerca de 51 vezes na rede alemã NDR.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GOLITSYN, Anatoliy Meias verdades, Velhas mentiras – A estratégia comunista de embuste e desinformação. Tradução Nelson Dias Corrêa. Vide Editorial. Campinas, SP. 2018.

SEIPEL, Hubert. Putins Macht- Hoffmann und Campe Verlag, Hamburg (2021)

Top German journalist received €600,000 from Putin ally, leak reveals. https://www.theguardian.com/world/2023/nov/14/german-journalist-putin-hubert-seipel

Ich, Putin - Doku von Hubert Seipel (2012) - eine Arbeit des Lobby – Journalisten. https://youtu.be/NsriJYPf3Rs?si=M8ZrLHmwly9-Op1I

 


terça-feira, 17 de junho de 2025

A androginia dos animes estimulou o desejo por traps e femboys

 




Os desenhos japoneses gozam de muita popularidade no mundo inteiro, seguindo a linha da tecnologia de entretenimento que alegrou a infância de muita gente por meio dos videogames, meio no qual os traços de animes eram reproduzidos. Quem é da época das locadoras de cartuchos entende a preciosidade que eram as jogatinas de Super Nintendo ou Mega Drive.

Relembrando esse mesmo contexto da época, desenhos como Dragon Ball Z eram igualmente fascinantes, prendendo a atenção dos jovens após chegarem da escola. Com a relação às lutas travadas pelos personagens de Dragon Ball, elas costumavam gerar imitação no recreio, ou seja, os personagens dos desenhos se transformavam em referências para todos os meninos da sala e o impacto que esses produtos televisivos exerciam sobre a mente infanto-juvenil era consideravelmente forte.

Crianças são como esponjas, elas absorvem tudo que está ao redor. Adolescentes não fogem à regra da imitação, que embora constitua fenômeno próprio do homem em todas as idades, manifesta-se mais fortemente no início da vida, quando se recebe uma formação cultural que será reproduzida para todo o restante de seus dias.

Portanto, o público juvenil absorve e tende a reproduzir ações que mexem com suas fantasias, principalmente se se tratar de algo que seus outros colegas demonstram estar acompanhando e dando importância.

Vejam o exemplo do famigerado Pânico na TV, este programa foi responsável pela maior proliferação de mongolóides nas escolas brasileiras, porque as crianças e adolescentes imitavam as mesmas brincadeiras que viam no programa. Metiam tapas na nuca uns dos outros e gritavam para o Robinho pedalar, as presepadas que os participantes do programa faziam eram também imitadas pelos adolescentes. O pânico retirou esses elementos de um programa norte-americano, que também tinha seus participantes metidos a fazer porra-louquice, em um show bizarro de exibicionismo patético, como se ser um imbecil extravasado fosse o máximo da personalidade e do humor.

Com relação aos desenhos, o costume de anime, então, havia sido introduzido para se instalar com definitividade, não há mal algum nisso, era outra fonte de entretenimento, porém algumas características vieram acompanhadas e merecem ser levantadas.

Partindo do pressuposto de que a mídia de informação e entretenimento são capazes de fornecer modelos ao público adulto, juvenil e infantil, a criança que se habitua a filmes violentos de ação imita aqueles mesmos atos quando surge a oportunidade de brincar com seus colegas, tenta inclusive os mesmos golpes e ataques, uma simples observação de como as crianças se comportam ou mesmo recordação de como qualquer um se comportava quando era criança basta para atestar isso como um fato. Ao menos na época escolar, todos tendiam a assistir às mesmas coisas e conversar desse fundo comum absorvido graças à televisão, o que reforça ainda mais aqueles mesmos modelos sobre os quais giravam as brincadeiras e conversas.

Todos esses meios grudam na consciência das pessoas e se transformam em padrões de comportamento. Desnecessário dizer que os pais nem atinavam para essas questões, eles apenas deixavam as crianças livres, expostas ao fluxo de influência (ao menos para a maior parte das famílias). Portanto, a mídia tem o poder de fazer com que certos objetos se tornem desejáveis, esse fato vale para as mercadorias direcionadas ao público adulto, assim como para aquelas voltadas aos mais jovens.

Por volta de 2014 em diante, um fenômeno interessantíssimo começou a acontecer, homens vestidos de mulheres passaram fazer perfis nos aplicativos de namoro e bate-papo, na primeira década do século XXI isso quase não existia. Quem dissesse algo sobre transexual estaria falando sobre algo muito raro e que poderia mesmo ser classificado como doença (antes da politização da psicologia e psiquiatria – pela qual os respectivos conselhos proibiriam tratar do assunto da maneira científica e sedimentaram um entendimento prestigiando o politicamente correto e a pseudociência por ele encampada).

A pseudociência conseguiu um grande avanço ao fazer com que os transtornos mentais relativos ao sexo fossem descaracterizados da condição patológica, o que veio a ocorrer entre 2018 e 2019, com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Fala-se em “despatologização”[1].

Fato é que os homens não rejeitaram esses modelos, alimentando a possibilidade de, quem sabe, se satisfazerem com perfis afeminados, desde que não tenham quase traço algum masculino restante. Por mais que sejamos dotados de um senso moral, os instintos animais continuam existindo e as necessidades biológicas tendem a predominar no mais das vezes. Basta o exemplo de que um homem encarcerado por anos, sem contato sexual com mulheres, passa a se relacionar ou abusar dos outros prisioneiros mais fracos.

Para melhor seguir essa linha de entendimento, vale a pena olhar em retrospectiva para o início da fase sexualizante, comumente referida como sendo de “descoberta do corpo”. Para o pré-adolescente ou adolescente, uma das coisas mais deliciosas é ver aqueles mesmos personagens dos desenhos como partícipes de situações eróticas, principalmente numa fase de introdução a esses prazeres carnais, com o início da masturbação.

Não somos otários aqui, senhores, podemos dizer em alto e bom som que a maioria cresceu tendo acesso a materiais pornográficos, dada a facilidade digital, talvez ninguém discutirá que a internet entre 2006 e 2010 era marcada por ampla liberdade, com materiais pornográficos podendo ser encontrados no próprio youtube. Um dos estilos mais marcantes para jovens da geração Y (millenials) e Z foi o hentai, aquele no qual personagens de desenho são colocados em circunstâncias sexuais explícitas.

Porém, dentre todos os estilos de desenho existentes, podemos observar como especificamente no caso dos animes os corpos dos personagens são belos, esbeltos, com cabelos caídos no rosto, verdadeiras formas corporais idealizadas, tanto que não possuem pelos (o que é perceptível até nos homens). Por isso mesmo, a impregnação de modelos estéticos dos desenhos japoneses ocorreu até com certa facilidade, no início da adolescência alguns desses traços são existentes no próprio público, que possui lá seus 14 e 17 anos, o que facilita a identificação com a fantasia que é o mundo dos animes. Por outro lado, aqueles que não possuem traços semelhantes àquelas formas ideais podem sempre introjetá-las, construindo uma identidade visual adaptada que sirva de avatar, no sentido de representação gráfica embelezada da sua forma na vida real, este fenômeno de identificar-se com um personagem é algo que ocorre. 

No contexto do hentai, subdividiam-se várias categorias, a partir das quais se podia observar algo muito esquisito, por exemplo, havia a categoria do yaoi, apresentando os homens dos desenhos japoneses nas posições submissas de mulher e, por outro lado, havia outro gênero de hentai forçando o retrato de mulheres com pênis, era o futanari, um espetáculo do bizarro e realmente grotesco. Nota-se, portanto, uma inversão curiosa nos papéis sexuais. Parece não ser algo inocente e que visa apenas dar conteúdo masturbatório, mas clara deliberação de bagunça de gêneros, mas isso é apenas uma tese não comprovada, fruto de mera sugestão, uma observação que fica ao juízo dos leitores em geral.

Os japoneses têm olhos pequenos, eles criam personagens com olhos grandes. Eles são peludos, os seus personagens são lisinhos, completamente depilados, até os masculinos, muitos dos quais se parecem fêmeas extremamente comíveis. As japonesas são frígidas, sequer riem mostrando os dentes, mas nos modelos reproduzidos nos desenhos fazem com que mulheres busquem com vontade os personagens masculinos com proatividade, sem que estes tenham que fazer nada para isso.

Sabemos do alto grau de isolamento sexual da população masculina japonesa, o que deu origem ao caso dos homens herbívoros, fenômeno também constatado em vários pontos do mundo ocidental que passaram por um alto grau de infiltração das mulheres na força de trabalho.  Já há registro de casos nos quais homens resolveram se casar com personagens de desenho, a tecnologia providencia a personalidade compassiva que elas imitarão e que fora negada ao homem no mundo dos fatos.

Ora, a busca por meios alternativos de satisfação ocorre em todos os campos da vontade, não estando a vontade sexual excluída desse fator. Dependendo do nível de restrições e hostilidade, o sujeito busca substitutivos para satisfazer suas vontades, pode ser inclusive por meio do uso de objetos, criação de entes inexistentes ou mudanças pontuais em pessoas que realmente existem.  A partir daí, acentua-se a dúvida sobre a definição da matéria biológica ou mesmo questiona-se até que ponto são necessários e complementares machos e fêmeas, talvez uma fórmula seja possível na qual o homem possa viver livre da necessidade que, em última análise, só poderia ser satisfeita com a participação feminina.

A disseminação de modelos afeminados coloca o homem como potencialmente desejável sexualmente, se atingidos certos graus de feminização. O heterossexual irá rejeitar homens normais, peludos, com aparência de macho, mas tenderá a abrir exceções, dependendo dos níveis de carência, se forem apresentados a ele tipos andróginos. Aos que se apresentarem como extremamente machos e imunes à armadilha que os homens mais tentados cairão, ainda assim pontuo ser esse um fenômeno estatístico, existe um percentual dos que não aceitarão, mas certamente há outro que irá aceitar e buscar os tipos andróginos.

Para as teorias de gênero, o melhor dos mundos seria tornar as realidades biológicas de homem e mulher como se fossem indiscerníveis, meras decorrências de convenções sociais, por mais louco que isso realmente seja.

Colocando tudo na mesa, vive-se numa sociedade com porcentagem considerável de homens que não fazem sexo, portanto existe um desejo reprimido numa massa populacional masculina. Por outro lado, é observado o povoamento de modelos de homens que podem se passar por mulheres, a aplicação disso no campo prático é a proliferação de traps e femboys, ocorrendo uma feminização generalizada.

Esse intercâmbio sexual tende a ser mais fácil nas grandes cidades, como as capitais dos Estados, em São Paulo mais do que nas outras, tudo impulsionado pelos meios tecnológicos como sites e aplicativos.

Sabe-se também que uma das grandes agendas internacionalizantes é estimular as pessoas a práticas homossexuais, o que, se realizado, provoca modificações nas convicções pessoais dos envolvidos. Segundo o fenômeno da dissonância cognitiva, forçar certos tipos de comportamento é também forçar modificações no campo psicológico do sujeito que praticou a ação.

O fenômeno da dissonância cognitiva (ou espiritualismo dialético) é explicado da seguinte maneira no livro Maquiavel pedagogo de Pascal Bernardan:

 

“A teoria da dissonância cognitiva, elaborada em 1957 por Festinger, permite perceber o quanto nossos atos podem influenciar nossas atitudes, crenças, valores ou opiniões. Se é evidente que nossos atos, em medida mais ou menos vasta, são determinados por nossas opiniões, bem menos claro nos parece que o inverso seja verdadeiro, ou seja, que nossos atos possam modificar nossas opiniões. A importância dessa constatação leva-nos a destacá-la, para que, a partir dela, se tornem visíveis as razões profundas da reforma do sistema educacional mundial. Verificamos anteriormente que é possível induzir diversos comportamentos, apelando-se à autoridade, à tendência ao conformismo ou às técnicas do “pé na porta” ou da “porta na cara”. Os fundamentos que servem de base a esses atos induzidos repercutem em seguida sobre as opiniões do sujeito, modificando-as (dialética psicológica). Assim, encontramo-nos diante de um processo extremamente poderoso, que permite a modelagem do psiquismo humano e que, além disso, constitui a base das técnicas de lavagem cerebral” (...) “Uma dissonância cognitiva é uma contradição entre dois elementos do psiquismo de um indivíduo, sejam eles: valor, sentimento, opinião, recordação de um ato, conhecimento etc.”

 

Segundo Pascal:

 

 A experiência prova que um indivíduo numa situação de dissonância cognitiva apresentará forte tendência a reorganizar seu psiquismo, a fim de reduzi-la. Em particular, se um indivíduo é levado a cometer publicamente (na sala de aula, por exemplo) ou frequentemente (ao longo do curso) um ato em contradição com seus valores, sua tendência será a de modificar tais valores, para diminuir a tensão que lhe oprime. Em outros termos, se um indivíduo foi aliciado a um certo tipo de comportamento, é muito provável que ele venha a racionalizá-lo.

 

Essa racionalização a qual Pascal se refere eu interpreto, no caso de que ora tratamos, com o fato de que homens passam a justificar sua atração por femboys como se estes fossem mulheres (portanto endossando a teoria de gênero – a pseudociência segundo a qual mulheres trans seriam mulheres). Nutrindo o delírio de que homens que se identificam enquanto mulheres são de fato mulheres, eles permanecem reconfortados podendo-se dizer heterossexuais, porque em suas cabeças não praticaram nenhuma viadagem ao terem relações com outros homens.

Mas a justificação pode também envolver objetos, daí decorrendo as racionalizações de que bonecas e personagens dotadas de inteligência artificial sejam tão substantivas quanto mulheres de carne e osso. A racionalização tenta se fundamentar no subjetivismo e idealismo, apegando-se à ideia que os seres humanos formam acerca uns dos outros e que é essa ideia formada a partir do objeto das paixões. Logo, formada a ideia a partir de bonecas e personagens, seria a mesma operação psicológica caso fosse uma pessoa, pois o núcleo do afeto é a ideia formada, não o objeto que a gerou.

Obviamente é um grande erro filosófico, tanto que eles escolhem deliberadamente descartar a pessoa real e escolher o objeto, percebe-se a diferença nítida entre um e outro, a realidade se impõe para que a fantasia possa se sustentar e o modelo artificial seja o escolhido definitivamente. É nada mais que um quebra-galho para suprir a vazão sentimental que todo ser humano precisa.

A privação sexual é uma das explicações do porquê de vários homens recorrerem a substitutivos do corpo feminino. As sociedades feminizadas não são ambientes de liberação sexual, ao contrário, nelas o mercado sexual é extremamente desregulado, anômalo, competitivo e pernicioso, o modelo feminino é extremamente hostil, prostituído, tratando-se de ameaça constante ao homem que resolva aceitá-lo visando um compromisso sério, tudo isso sem precisar descer a minúcias quanto ao fenômeno da hipergamia, que é uma realidade da sociedade contemporânea.

Existem outras explicações tais como substâncias químicas hormonais introduzidas na alimentação comum, embora eu não descarte essa possibilidade, não é o tema principal deste escrito.

A impregnação de modelos femininos nos homens gera mudanças comportamentais. Os modelos de personagens que estão disponíveis na cultura igualmente se colocam como fatores que devem ser levados em consideração, pois observando os personagens com traços femininos, é impossível que o público adolescente não os observe como potenciais meios de satisfação da vontade sexual. Existem personagens que ganham a afeição do público, não seria exagero afirmar que alguns espectadores se apaixonam por personagens de desenhos, isso geralmente ocorre na época da adolescência e pré-adolescência, aliás, quanto mais cedo o ser humano toma contato com mundos fantásticos, maior é a sua capacidade de imergir nele e vislumbrar uma realidade paralela na qual ele próprio seria tão existente quanto as suas personagens preferidas.

Tenha-se em mente que as coisas que absorvemos nunca mais saem da nossa cabeça, elas podem ser esquecidas, mas estão bem submersas, com a possibilidade de serem lembradas posteriormente nas circunstâncias mais aleatórias.

Recentemente tem havido uma série de produções representando rapazes asiáticos se pegando, principalmente com traços coreanos. É a transposição para a realidade humana da subcultura dos hentai yaoi, acumulada por anos. Teria sido o K-POP instrumental para feminizar os rapazes? A hipótese faz sentido, porque os cantores desse tipo de música são praticamente tão delicados quanto as fêmeas. Observo que o mesmo problema que existe na sociedade japonesa existe também na sociedade sul-coreana, a taxa de natalidade de ambas é pífia, incapaz de manter um país forte, capaz de reagir a ameaças por falta de recursos humanos.

Vejam como progressivamente os modelos vão se transmutando em realidade, com uma geração reproduzindo as mesmas características afeminadas dos desenhos com padrões estéticos veiculados nos recentes anos. É um fenômeno interessantíssimo.  

Claro, as tendências sempre existiram na história. Existem casos de imperadores que, ao enxergarem um dos súditos com traços delicados, pegavam-no e o castravam, transformando em um de seus amantes particulares.

Frank Mclynn relata que, na época do Xogun Tokugawa, acontecia de os senhores feudais japoneses tomarem muitos rapazes como amantes. Diz Mclynn em sua obra que: Em Sumpu, nesse meio tempo, Ieyasu estabeleceu uma corte com todos os talentos. Embora recebendo relatórios diários de Kyoto, por parte de seus agentes, ele dava demonstração de estar retirado para cuidar de questões privadas, ocupado com seus passatempos favoritos, caçar com falcões, nadar e praticar as artes da espada; gostava de nadar ao redor do fosso de seu castelo como exercício diário. Esse também foi um dos grandes períodos de Ieyasu como expoente da bissexualidade, quando seguia a grande tradição japonesa do shudo ou pederastia; se tornaria emblemático do xogunato Tokugawa o fato de a maioria dos grandes senhores (oito entre dez homens adultos, de acordo com um estudo recente) tomarem rapazes jovens como amantes. Tinha um sodomita favorito chamado Ii Manchiyo e era criticado por passar tempo demais com seus parceiros de cama juvenis; um estudioso japonês do século XVIII disse que Ieyasu foi "um sábio que não conseguia controlar sua vida sexual". Tudo isso se dava adicionalmente à sua atividade heterossexual, pois Ieyasu tinha 19 esposas e concubinas, com quem teve 11 filhos e cinco filhas. (McLynn, Frank. Heróis e Vilões, p. 306 – versão digital)

Alexandre, o grande, possuía seu amante homem. O imperador Nero havia castrado um dos rapazinhos que o tinham agradado, mas Nero não é padrão de normalidade dos estadistas antigos. Em todo caso, essa tendência remonta a séculos de história, sempre existiu e sempre existirá.

O sistema cultural atual deliberadamente bagunça os papéis sexuais e quer transmitir ao seu público a ideia de que eles são fluídos, trata-se de fenômeno feito não apenas para as pequenas elites, onde se poderia considerar natural uma dose de excentricidade e extravagância, mas esse fenômeno tem pretensões de abarcar a população como um todo, de maneira geral e amplificada pelos recursos televisivos, acústicos, digitais, literários, enfim, por diversos modos. A partir dessas influências culturais transmitidas por veículos variados, cada qual poderá ser conduzido à conclusão de que talvez ao lado do jovem esteja o coleguinha dele que pode satisfazê-lo da mesma maneira que a garota que o rejeita satisfaria, bastando que sejam feitas determinadas adaptações.

O constante vício masturbatório torna insuficiente os materiais pornográficos comuns, envolvendo mulheres, o que faz com que o homem busque conteúdos mais intensos e transgressores, numa espiral gradativa, passando a envolver violência ou mesmo atividade sexual com outros homens, em circunstâncias afeminadas. Esse fato é relatado por vários fóruns e grupos da internet. Que as pessoas se identificam com animes, isso é fato, mas também o é que elas reproduzem os traços físicos e mentais dos próprios personagens.

Os personagens masculinos atraem, sem fazer nada, as mulheres bonitas, verifica-se uma série de esquisitões forçados na realidade, eles imitam o ideal do personagem ascético que não precisa fazer nada, como se ficando mudos estivessem exalando o charme, da mesma forma que ocorre no desenho.

Assim também, vai se acostumando em observar traços femininos nos homens reais, como existem naqueles do campo da ficção. Ocorre um cruzamento estético que, por sua vez, gera atrações cujos desdobramentos podem ser vários.

A correlação entre animes e transexuais já foi constatada por Ray Blanchard, o que lhe rendeu a alcunha de transfóbico pelos meios midiáticos, embora não se trate de estudioso isolado sustentando essa posição.

Na verdade, o Dr. Blanchard compartilhou em 2018 um artigo sustentando o efeito feminizante dos animes, embora não tenha sido seu autor, foi atacado por ter dado endosso a essa hipótese. Esse escrito, originalmente hospedado no site medium, foi apagado do portal e teve de ser recuperado com o uso do internet wayback machine. O artigo segue a linha investigativa do efeito psicológico pelo qual os homens que assistem um gênero específico de anime, denominado de “garotas fofas fazendo coisas fofas”, passam a se identificar com os modelos de feminilidade representados pelas personagens, praticamente todas as protagonistas desses animes são fêmeas, mas curiosamente o público que consome esse tipo de conteúdo é composto por homens jovens. O artigo menciona que “O público-alvo oficial, na maioria das vezes, é o segmento chamado seinen — ou seja, garotos adolescentes e homens jovens (às vezes até homens mais velhos). E é por isso que as personagens femininas são frequentemente sexualizadas, seja de maneira sutil ou explícita. (Nem vou entrar aqui no aspecto pedofílico desse tema.) Os japoneses parecem ter aprendido a transformar em lucro toda essa feminilidade reprimida dos homens jovens”. (Masculinidade, anime e disforia de gênero - Uma análise da identificação trans induzida pela mídia. https://medium.com/@socjuswiz/masculinity-anime-and-gender-dysphoria-8d682abcec54)

A utopia dos corpos, a confusão mental e a carência presente nas condições atuais, enfim, toda essa linha de influências vai desde o seu modelo abstrato até o femboy de carne e osso. Essa grande massa de modelos andróginos, constantemente apresentada nos desenhos japoneses, moldou uma geração propícia a nutrir atração sexual por afeminados. Isso não é necessariamente uma condenação, porque para que uma sociedade possa condenar o homossexualismo é necessário que ela providencie fêmeas normais, submissas e adequadas para o casamento, o que não faz. Dessa forma, seria uma necessidade maior centralizar as críticas no modelo feminino prostituído do que nas perversões sexuais que surgem como meras consequências do mercado sexual desregulado. Mas que existe um coeficiente de feminização nos animes, isso já é algo que podemos tomar como certo.

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