Quando as movimentações
de Rússia e China são colocadas em evidência, seja por meio de livros, artigos,
vídeos ou podcasts, essas informações são veiculadas para pessoas interessadas
nesse tipo de assunto ou, no mínimo, para quem não é completamente indiferente ao
debate político-ideológico.
Porém, e se se tratar
de fato de um interessado, mas que compartilha da base comum de valores que os
comunistas defendem, ainda que não se considere um? Nada é mais importante do
que a definição, saber qual a base de crenças que constitui a força motriz e
cristaliza convicções. “Conhece-te a ti mesmo”, seria a máxima extraída da
história de Sócrates e o Oráculo.
Existem casos nos quais
a identidade é tomada sem maiores hesitações, como no dos comunistas
declarados, mas existem outros que são mais envergonhados quanto às suas cores,
sendo o caso, por exemplo, dos pseudonacionalistas ou dos esquerdistas que se
dizem diferentes da esquerda geral, como se pudéssemos conceber uma “esquerda
pura”, despida daquilo que consideram vícios da atual (na verdade não são
vícios coisa alguma, são rotas estratégicas diferenciadas conforme a situação
e, a bem dizer, entre os esquerdistas da chamada velha guarda e os do Femen e
aglomerado gay não há diferença substancial).
Também muitos da
esquerda se consideram antipetistas e até mesmo chegam a negar o caráter
comunista do Partido dos Trabalhadores, mas essa aversão é frágil e é
facilmente superada e diluída na estratégia geral do PT, porque no final este
consegue mobilizá-los em prol do partido, principalmente com o auxílio dos
meios de comunicação e propaganda.
As conexões do regime
do Kremlin com a esquerda mundial são abundantes, trata-se de um eixo bem
definido e coordenado, indo da Coreia do Norte até a Venezuela chavista de
Nicolás Maduro. Os socialistas estão integrados nessa rede internacional de
preferências políticas, de maneira que toda exposição e denúncia tendo como
alvo esse esquema acaba sendo, como consequência, uma denúncia sobre aqueles
que mantêm com ele um sentimento de obediência, fidelidade ou mera afeição.
O trabalho do
esquerdista fica facilitado com o acobertamento do eixo comunista, é uma
acusação a menos da qual ele próprio busca se livrar. Por isso não interessa se
o esquerdista acha ou não que os regimes de Rússia e China são comunistas,
porque ao negar o comunismo que lá existe, ele está também acobertando o
próprio rabo e tentando se livrar de uma mancha com alta carga histórica,
simbólica e criminosa, reforçando um esquema de dissimulação montado há
décadas, ou seja, trata-se de alguém que tem lado e se encontra de acordo com
essa mesma frequência.
Logo, o mapeamento, a
discussão e exposição da movimentação desses agentes é algo que pressupõe que
eles merecem ser mapeados, discutidos, expostos e que a tradição revolucionária
a que pertencem é um mal em si. Então não me venham com esquerdistas querendo
discutir sobre o acerto ou desacerto de diagnósticos geopolíticos e ideológicos
sobre esses regimes, porque quando eles tentam esconder o comunismo, eles estão
na verdade se defendendo e acobertando a si próprios. O estudo é sobre a
esquerda e o socialismo, não é um estudo COM esquerdistas e os socialistas, que
não resultará em nada a não ser em mentiras e subterfúgios com o fim de aliviar
a própria barra, que sempre esteve suja. Os esquerdistas não têm que opinar
sobre nada, porque não estamos nos informando COM eles, mas sim nos informando
SOBRE eles e suas ações. O que podem fornecer são testemunhos, confissões e
subsídios sobre o movimento a que pertencem, muito do material colacionado é
composto de discussões internas, obras de figuras proeminentes que esboçam seu
pensamento com relativa sinceridade, além dos valiosos escritos de desertores,
que só podem ser levados em consideração porque abjuraram do movimento.
Assim como as opiniões
de mulheres costumam ser colocadas sob suspeita e rechaçadas na questão
antifeminista, porque poderão poluir a discussão com pistas falsas que conduzem
a suavizações indevidas, não interessa o que os esquerdistas pensam sobre o
anticomunismo e o ato de desvendar as relações, agentes e ações desse bloco
sobre as várias regiões do mundo, pelos mesmos motivos. As mulheres que opinam
sobre a questão compõem um tipo bem específico, cito os exemplos de Cláudia
Pacheco e Camille Paglia, que são especialistas cujo trabalho pode ser
aproveitado apenas porque elas não compartilham das premissas das feministas,
se o fizessem, comprometeriam as conclusões dos antifeministas que enxergassem
nelas um farol para iluminar determinados pontos.
Em nenhum momento o
esclarecimento depende da validação de picaretas cujo maior interesse é
obstaculizá-lo ou deturpá-lo.
Na acepção da palavra,
a direita tem sido condenada tanto quanto a esquerda por compartilhar com esta
de uma origem comum: o processo revolucionário francês. Nesse evento histórico
houve a luta entre facções moderadas e radicais, os moderados gostariam de
preservar o rei, mas castrá-lo das funções reais, portanto foram chamados de
direitistas e conservadores. A crítica
que parte dessa origem histórica e sofisticada é proferida por poucos, somente
compensa seguir essa linha quando a discussão já estiver sendo travada em outro
nível e, mesmo nessas circunstâncias, não se está dizendo que esquerda e direita
sejam no fundo a mesma coisa, que é o que comumente se escuta vez ou outra na
boca de desavisados que, pretendendo dizer algo profundo, nada mais fazem do
que repetir uma discussão de bar travada entre pessoas que no fundo não se
interessam pelo próprio tema discutido.
Em todo caso, esquerda
e direita são termos correntes nas discussões, podemos ter uma noção sobre o
que se pretende dizer com eles quando se chama alguém de esquerdista e
direitista. Assim sendo, tudo se torna claro com a devida separação, os
esquerdistas enrustidos procuram intervir no tema, reforçando a dissimulação de
Rússia e China, na condição de opinadores desvinculados de ideologias, mas um
olhar de perto os deixará pelados. Os apologistas dos comunistas atuais são os
mesmos que, se vivessem no século XX, apoiariam a União Soviética e a China
Comunista, sob o pretexto de combate ao imperialismo ou qualquer outra pauta
feita sob medida para ludibriar otários, como o movimento dos não alinhados,
iniciativa feita para vincular o terceiro mundo a uma pauta antimericana e
pró-socialista.
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